Louis CK em "Louie"
Cerca de três horas a ver uma série de rajada – isto já aconteceu a muita gente e ainda ninguém sabe se é uma perda de tempo ou uma experiência enriquecedora. Aconteceu-me há uns dias e escolhi não pensar muito sobre o assunto.
Qualquer actividade motivada pelo objectivo de “aproveitar o dia” me parece imediatamente minada pela ansiedade. Por isso, deixem lá estar o sol que eu estou bem a vê-lo da janela. E até posso julgar--me e dizer: podia ter lido um livro. Mas algumas séries já têm tanta categoria narrativa que se substituem condignamente à experiência literária. Ou seja, não é a mesma coisa, mas também não envergonha a alta cultura.
Não, não passei três horas a ver “A Guerra dos Tronos” (só porque já vi tudo, de forma mais doseada, vá). Quero antes de mais dizer que o meu coração está com todas as vítimas dos spoilers. É um flagelo. Até o “Observador” me enviou uma crónica do José Manuel Fernandes com um spoiler logo no título. Já não estamos no tempo de “Twin Peaks”, já não vemos todos televisão à mesma hora. Menos informação, por favor.
O meu coração não está com as pessoas que comentam séries nas redes sociais, mas também não está com aquelas que se irritam porque está tudo a falar do mesmo e, por isso, há sempre um adolescente tardio que se orgulha de não fazer parte da manada. Um recado ainda para as pessoas que não vêem porque é “fantasia”: “A Guerra dos Tronos” é mais “Sopranos” que “Senhor dos Anéis”. E para quem acha que é uma série histórica e diz coisas como “naquele tempo era tudo muito violento”: pois, naquele tempo em que havia dragões e mortos-vivos. Está boa, a reconstituição.
Mas eu fiquei três horas a ver a nova temporada de “Louie”, a série que o comediante Louis CK escreve, realiza, edita, protagoniza e o mais que houver para fazer. Estava num deleite tal que mal me apercebi de que estava a ser seduzida pela sua adorável neurose. Parece–me não haver nada mais insuportavelmente atraente que um homem neurótico.
Estava também a atentar particularmente nos momentos de stand-up que surgem ao longo de cada episódio e a perguntar-me de onde vem aquele superpoder que permite que uma pessoa potencialmente nublada consiga brilhar tanto num palco. Porque também eu estou prestes a subir a um palco para apresentar uma entrega de prémios e quem me dera saber transformar desgraça em graça.
Guionista, apresentadora e porteira do futuro