Sem grandes pruridos, Krugman apela aos gregos que votem “não” no referendo do próximo domingo. Mesmo admitindo que “abandonar uma união monetária” é “uma decisão muito mais difícil e aterradora que nunca”, o Nobel considera que chegou a hora de acabar com o ciclo onde os países que se aproximam do abismo recuam sempre face às exigências de austeridade dos credores. E recuar sempre face às cedências fará com que os países se afundem “numa austeridade infinita”.
“Não é uma questão de análise, é uma questão de poder: o poder dos credores de lucrar com a economia grega, que persistirá enquanto a saída do euro se considerar impensável”, remata.
Paul Krugman ataca depois os argumentos que têm sido usados para criticar a Grécia. “O que temos ouvido sobre a irresponsabilidade grega é falso”, declara. “Devemos primeiro estar conscientes que a maioria dos factos – não todos, mas a maioria – que temos ouvido sobre o desperdício e irresponsabilidade gregas são falsos. Sim, o governo grego estava a gastar acima das suas possibilidades no final da década de 2000. Mas desde então tem cortado repetidamente na despesa pública e aumentado a receita fiscal. O emprego público caiu mais de 25% e as pensões – que eram, seguramente, demasiado generosas – foram reduzidas drasticamente. Todas as medidas, em suma, foram mais do que suficientes para eliminar o défice original e convertê-lo em excedente.”
Mas este excedente não apareceu. Porquê? “Porque a economia grega desfez-se em grande parte por consequência directa das medidas de austeridade, que afundaram as receitas. E este colapso, por seu turno, teve muito a ver com o euro, que prendeu a economia grega numa camisa-de-forças.” Os casos em que a austeridade resultou “surgem lado-a-lado com significativas desvalorizações monetárias (…) mas a Grécia, sem moeda própria, não tinha essa opção”.
Krugman avança assim com as três razões que o levam a defender o voto no “não”: “Em primeiro lugar, agora sabemos que a austeridade cada vez mais dura é um caminho sem saída: depois de cinco anos, a Grécia está pior que nunca. Em segundo lugar, praticamente todo o caos que se prometia cair sobre a Grécia com a saída do euro já se verificou. Com os bancos fechados e controlo de capitais, não há muito mais danos a provocar. Por ultimo, aderir ao ultimato da troika supõe o abandono definitivo de qualquer pretensão para a independência da Grécia.”
Krugman critica ainda a postura das instituições europeias, os representantes dos credores, face à proposta apresentada por Atenas, lembrando que “até o Syriza estava disposto a aceitar uma austeridade”, já que propôs um pacote de medidas de oito mil milhões de euros que Bruxelas recusou. “A única coisa que pediam [o governo grego] era que a dose de austeridade não fosse ainda maior. Mas a troika recusou essa opção. É fácil perder-se nos detalhes, mas o ponto chave é que os credores apresentaram uma contraproposta em formato de ‘ou isto ou nada’”, sendo o teor da mesma uma continuação das políticas dos últimos cinco anos.
Além disso ataca também a qualidade de quem vai liderando o ataque à crise do lado europeu: "Não nos deixemos enganar por aqueles que afirmam que os funcionários da troika são apenas ténicos que explicam aos gregos ignorantes o que devem fazer. Estes supostos tecnocratas são, na realidade, fantasistas que fizeram tábua rasa de dos os princípios de macroeconomia", atacar o Nobel da Economia. "Enganaram-se em todos os passos."
Assim, considerando que a opção que se apresenta aos gregos é entre continuar com a estratégia da troika dos últimos cinco anos ou recusar a mesma, e sublinhando que aceitar o acordo é abdicar da independência, Krugman conclui: “Está na hora de acabar com este cenário inimaginável. Caso contrário a Grécia enfrentará austeridade infinita e uma depressão de que não há sinais que vá acabar.”