Grécia. Krugman: “Está na hora de por fim a isto, caso contrário a Grécia enfrentará austeridade infinita”

Grécia. Krugman: “Está na hora de por fim a isto, caso contrário a Grécia enfrentará austeridade infinita”


Nobel da Economia em 2008, apelou ao voto no “não” e pede que ninguém se deixe enganar pelos funcionários da troika.


Sem grandes pruridos, Krugman apela aos gregos que votem “não” no referendo do próximo domingo. Mesmo admitindo que “abandonar uma união monetária” é “uma decisão muito mais difícil e aterradora que nunca”, o Nobel considera que chegou a hora de acabar com o ciclo onde os países que se aproximam do abismo recuam sempre face às exigências de austeridade dos credores. E recuar sempre face às cedências fará com que os países se afundem “numa austeridade infinita”.

“Não é uma questão de análise, é uma questão de poder: o poder dos credores de lucrar com a economia grega, que persistirá enquanto a saída do euro se considerar impensável”, remata.

Paul Krugman ataca depois os argumentos que têm sido usados para criticar a Grécia. “O que temos ouvido sobre a irresponsabilidade grega é falso”, declara. “Devemos primeiro estar conscientes que a maioria dos factos – não todos, mas a maioria – que temos ouvido sobre o desperdício e irresponsabilidade gregas são falsos. Sim, o governo grego estava a gastar acima das suas possibilidades no final da década de 2000. Mas desde então tem cortado repetidamente na despesa pública e aumentado a receita fiscal. O emprego público caiu mais de 25% e as pensões – que eram, seguramente, demasiado generosas – foram reduzidas drasticamente. Todas as medidas, em suma, foram mais do que suficientes para eliminar o défice original e convertê-lo em excedente.”

Mas este excedente não apareceu. Porquê? “Porque a economia grega desfez-se em grande parte por consequência directa das medidas de austeridade, que afundaram as receitas. E este colapso, por seu turno, teve muito a ver com o euro, que prendeu a economia grega numa camisa-de-forças.” Os casos em que a austeridade resultou “surgem lado-a-lado com significativas desvalorizações monetárias (…) mas a Grécia, sem moeda própria, não tinha essa opção”.

Krugman avança assim com as três razões que o levam a defender o voto no “não”: “Em primeiro lugar, agora sabemos que a austeridade cada vez mais dura é um caminho sem saída: depois de cinco anos, a Grécia está pior que nunca. Em segundo lugar, praticamente todo o caos que se prometia cair sobre a Grécia com a saída do euro já se verificou. Com os bancos fechados e controlo de capitais, não há muito mais danos a provocar. Por ultimo, aderir ao ultimato da troika supõe o abandono definitivo de qualquer pretensão para a independência da Grécia.”

Krugman critica ainda a postura das instituições europeias, os representantes dos credores, face à proposta apresentada por Atenas, lembrando que “até o Syriza estava disposto a aceitar uma austeridade”, já que propôs um pacote de medidas de oito mil milhões de euros que Bruxelas recusou. “A única coisa que pediam [o governo grego] era que a dose de austeridade não fosse ainda maior. Mas a troika recusou essa opção. É fácil perder-se nos detalhes, mas o ponto chave é que os credores apresentaram uma contraproposta em formato de ‘ou isto ou nada’”, sendo o teor da mesma uma continuação das políticas dos últimos cinco anos.

Além disso ataca também a qualidade de quem vai liderando o ataque à crise do lado europeu: "Não nos deixemos enganar por aqueles que afirmam que os funcionários da troika são apenas ténicos que explicam aos gregos ignorantes o que devem fazer. Estes supostos tecnocratas são, na realidade, fantasistas que fizeram tábua rasa de dos os princípios de macroeconomia", atacar o Nobel da Economia. "Enganaram-se em todos os passos."

Assim, considerando que a opção que se apresenta aos gregos é entre continuar com a estratégia da troika dos últimos cinco anos ou recusar a mesma, e sublinhando que aceitar o acordo é abdicar da independência, Krugman conclui: “Está na hora de acabar com este cenário inimaginável. Caso contrário a Grécia enfrentará austeridade infinita e uma depressão de que não há sinais que vá acabar.”