Às vezes, a Fox exibe episódios das suas séries passados fora dos EUA. Desta vez, trouxe a dra. Brennan e o agente Booth a Portugal para (como sempre) desvendarem um crime a partir da análise dos ossos de um cadáver. Tudo aconteceu há poucos dias, estava Junho a meio. As autoridades de investigação levaram a cabo um conjunto de diligências, em vários locais e com vários visados, diligências de processo criminal daquelas que são feitas de surpresa e que, por isso, apenas são conhecidas das autoridades. Pouco passava das sete da manhã quando os investigadores nacionais chegaram aos locais das diligências, nomeadamente às casas dos visados.
Estes, com mais ou menos celeridade, avisaram os seus advogados, e estes prepararam-se para ir apoiar os seus clientes e para, no local, se inteirarem do que estava em causa. Mas não precisaram de chegar lá para saber mais do que nas breves conversas telefónicas tinham sabido, pois quando ainda não eram dez horas da manhã já havia comunicação social a noticiar as diligências e os detalhes das mesmas, nomeadamente quem eram os visados, onde estavam a decorrer e o que estava em causa. No caminho para as casas dos seus constituintes, os advogados espreitaram como puderam a comunicação social sabedora e os que conseguiram deitar os olhos às televisões que dão notícias durante 24 horas chegaram lá mais inteirados.
Fosse qual fosse o meio pelo qual a comunicação social tinha sabido, havia crime, pelo menos de violação do segredo de justiça. E assim entraram em cena a Doutora e o Agente, e o espectador esperou pelo desfecho, que nesta série é sempre esclarecedor. Mas neste episódio houve logo uma primeira dificuldade inusual, pois não se encontravam as ossadas do segredo de justiça e, sem elas, nada feito. Só algum tempo depois, e após várias peripécias no terreno, se aperceberam de que este crime havia sido praticado não sobre um vivo, mas sobre um cadáver, e foi preciso ir à vala comum (que é para onde vão os mortos pelos quais ninguém se interessa) e desenterrar as ossadas do segredo de justiça.
O que não foi fácil, não só porque as valas comuns estão sempre cheias de anónimos, indocumentados, negligenciados ou desprezados, mas também porque, quando conseguiram identificar o esqueleto do segredo de justiça, verificaram que o mesmo estava abraçado ao esqueleto da decência processual e sobreposto aos esqueletos da ética republicana, da contenção e da lisura jornalística e da preocupação cidadã, estando estes dois últimos enlaçados, como se todos, antes ou depois do momento do abate, se tivessem aconchegado, procurando consolo para o terror da morte ou para o desamparo das trevas.
Mas lá conseguiram separar o esqueleto do segredo dos outros, com cuidado e com tempo, e já o episódio atingira a duração habitual quando o levaram para o Jeffersonian, onde toda a equipa esperava. E foi assim que a Fox teve de dar por terminado um episódio sem conclusões e deixar no ecrã um chamativo (To be continued).
Advogado, escreve quinzenalmente ao sábado