Sporting. Soares Franco pode ser o senhor que se segue na lista das expulsões

Sporting. Soares Franco pode ser o senhor que se segue na lista das expulsões


Amanhã é dia de assembleia geral do clube leonino e Bruno de Carvalho promete  novidades sobre a auditoria à gestão de Filipe Soares Franco. O i antecipa as conclusões com base numa auditoria feita há dois anos e que nunca foi divulgada.


No final de 2011 o Sporting estava em falência técnica. O ano 2007, exactamente o meio do mandato de Filipe Soares Franco, foi um ano marcante na história das contas do clube. E foi, ao longo do período analisado, o único que deu lucros ao clube. A razão é que “foi o mais frutuoso” em venda de passes de jogadores e fértil na venda de imobiliário” (ver caixa). As conclusões vêm no relatório de auditoria realizado pela Patrício, Moreira, Valente & Associados – Sociedade de Revisores Oficiais de Contas a pedido  do Sporting, que lançou em concurso em Julho de 2013, há dois anos.

Em 12 anos o endividamento do clube mais que quintuplicou: passou de 46 para 263 milhões de euros. As dívidas de financiamento atingiram os 276 milhões de euros em 2011. Os prejuízos foram-se acumulando e, em 2010, o grupo atingiu uma situação líquida negativa de 183 milhões, a mais baixa de sempre, praticamente o valor de todo o activo líquido.

O que levou o grupo Sporting a chegar aqui? A auditora explica que em primeiro lugar estiveram os resultados líquidos negativos consolidados em quase todas as épocas. “Uma explicação para os resultados negativos crónicos pode encontrar-se, em primeiro lugar, na margem bruta do futebol profissional ter sido muito baixa, e até negativa em alguns anos, insuficiente para fazer face aos restantes custos, incluindo encargos financeiros.”

A margem bruta anual do futebol profissional tem o seu ponto crítico em cerca de 35 milhões de euros acima do valor médio anual registado no período entre 1999 e 2010 (da ordem dos 10 milhões de euros). A influenciar estes números estão os salários dos jogadores e os respectivos passes, que geram amortizações altas. Por outro lado, as receitas disponibilizadas pelo plantel foram baixas, gerando uma margem bruta insuficiente para suportar os custos de estrutura do Sporting.

Outro motivo para os resultados líquidos serem quase sempre negativos foi o aumento gradual dos fornecimentos e serviços externos, que acompanhou o aumento das vendas e consumiu uma parte da margem libertada. 

O défice crónico de tesouraria acumulado foi de perto de 214 milhões de euros em 11 anos, ou seja, quase 20 milhões de euros por ano. A justificação deste défice pode ter três razões básicas, segundo a auditora: o investimento líquido em passes de jogadores, responsável por 59 milhões de euros negativos (que, com juros, somam 81 milhões); o investimento no complexo Alvalade XXI e na Academia, que depois da venda de terrenos e de parte do Alvalade XXI foi responsável por 23 milhões do défice (72 milhões com juros); o cash flow operacional negativo na maioria das épocas, num total de 35 milhões de euros negativos, em parte consequência dos resultados líquidos negativos (79 milhões com juros). A venda de participações financeiras foi a única rubrica com participação positiva no cash flow global.

O défice de tesouraria crónico gerou um empréstimo total da ordem dos 276 milhões de euros, que representa um agravamento no passivo de 230 milhões de euros em 12 anos. Esta situação produziu custos adicionais em juros de financiamento que atingiram o valor global de 115 milhões de euros nesse período. 

Os ónus constantes do acordo firmado com os bancos (BES e BCP) condicionaram a gestão da tesouraria por via de dações em pagamento de receitas de patrocínio, publicidade, televisão e outras cobranças a clientes. Em relação à SAD estava prevista uma retenção de 20% das receitas dos passes dos jogadores presentes e futuras para pagamento dos empréstimos, até ao total de 15 milhões de euros.

A auditora RSM esclarece numa nota que, entre algumas dificuldades que encontrou para realizar o trabalho, só existiam demonstrações financeiras consolidadas elaboradas a partir da época 1998-99. “Este facto limitou, nessa medida, a nossa análise dos períodos anteriores àquela época.”

Na assembleia geral de amanhã, a direcção presidida por Bruno de Carvalho vai também apresentar aos sócios as conclusões da auditoria à gestão imobiliária, que atravessa o período de 1995 a 2013 (das presidências de Santana Lopes à de Godinho Lopes). “Se não houve negligência e gestão danosa, foi um azar muito grande do Sporting. Vamos ter de ver com a auditoria de gestão se fomos o clube mais azarado do mundo ou se houve realmente negligência ou gestão danosa”, afirmou BdC quando assumiu a liderança do clube. A AG será seguramente polémica e da reunião magna poderá sair a decisão de instaurar processos judiciais contra antigos dirigentes do clube, como já aconteceu com Godinho Lopes.