Acidentes com tractores. “Tragédia nacional” não  é “incontrolável”, diz CNA

Acidentes com tractores. “Tragédia nacional” não é “incontrolável”, diz CNA


O cenário é trágico e Portugal é mesmo um dos países da União Europeia onde mais agricultores perdem a vida.


Acidentes com tractores agrícolas já “ceifaram” a vida a 29 pessoas este ano, das quais oito só nas últimas duas semanas. O drama não é novo e podia ser minimizado se o anterior e o actual governo não tivessem “assobiado para o lado” no cumprimento da resolução aprovada em 2010, defende a Confederação Nacional da Agricultura, acreditando que as fatalidades resultam em parte da falta de acções concretas das instituições políticas.

O último caso registado pelas autoridades aconteceu na manhã de ontem na aldeia de Relva, no concelho de Mêda. Um homem de 75 anos perdeu a vida enquanto “amanhava” a terra. Segundo fonte dos bombeiros da região, o tractor capotou, tendo o agricultor acabado por ficar preso debaixo do veículo. Na semana passada aconteceu o mesmo com Tiago Soeiro em Sarzedo, no concelho de Moimenta da Beira. O jovem de 20 anos, que se encontrava a trabalhar o terreno privado de um pomar, morreu quando a máquina que conduzia se despistou e capotou, tendo posteriormente caído numa ribanceira de cerca de quatro metros e ficado por baixo do tractor. 

Para a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o elevado número de casos representa uma verdadeira “tragédia a nível nacional” e um dos piores problemas da agricultura familiar portuguesa. “E irá continuar a acontecer se o Ministério da Agricultura e o governo não se capacitarem de que têm de intervir nesta matéria”, acentua a entidade, que reclama a implementação de um plano nacional de informação e prevenção de acidentes com tractores, máquinas e equipamentos agrícolas. A CNA considera mesmo que este tipo de acidentes não são uma fatalidade “incontrolável” e que, no geral, os agricultores são as vítimas e não os culpados. E o que propõe a CNA? Campanhas de alerta e sensibilização descentralizados, programas de formação e aconselhamento, linhas de crédito para os agricultores equiparem os seus veículos conforme a lei. 

Dos piores da Europa Apesar de o número de ocorrências com tractores agrícolas ter diminuído ao longo dos anos, Portugal é dos países onde mais se morre vítima destes acidentes, o que para a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) significa um padrão “preocupante”. Se compararmos o panorama geral dos dados relativos aos dois últimos anos, 2013 foi o ano em que o número de acidentes foi significativamente menor face ao ano seguinte, mas verificamos que o número de vítimas foi praticamente o mesmo nos dois anos, registando-se apenas mais duas vítimas mortais em 2014. 

No ano passado ocorreram 210 acidentes envolvendo tractores, dos quais resultaram 80 vítimas mortais, 79 feridos graves e 64 feridos ligeiros. Destes, a maioria aconteceu em terrenos agrícolas privados (145) e os restantes (65) na via pública. Dos dados apurados é possível perceber que os distritos onde mais acidentes ocorreram foram no centro e norte do país: Bragança, com 26 mortes , seguindo-se Castelo Branco com 22 vítimas mortas, e Leiria, Viseu e Santarém com 21, 20 e 19, respectivamente.

Causas Há um padrão na maneira como ocorrem estes acidentes: o capotamento é mencionado como a razão de 70% dos casos de sinistralidade e o que mais vítimas mortais provoca, segundo dados da GNR e da ANSR, que apontam para uma média de duas mortes em cada três acidentes. 

A utilização de estruturas de segurança– como o “arco de Santo António” – é de extrema importância, podendo fazer a diferença entre a vida e a morte quando os veículos capotam. Muitos condutores, dizem as várias entidades, não usam estas estruturas e acabam por ficar presos debaixo das máquinas agrícolas. E nesse caso, as probabilidades de perderem a vida são elevadas. 

A falta de conhecimento, experiência e domínio das técnicas de condução dos veículos agrícolas são outras das causas mencionadas pela ANSR. Bem como o excesso de horas de trabalho, que podem causar fadiga e, consequentemente, a falta de concentração e atenção dos condutores, e ainda o consumo de álcool.

O registo de dados ao longo dos anos tem mostrado também que a maioria das vítimas tem uma idade avançada. É natural que assim seja, diz a CNA, porque a grande fatia de agricultores portugueses tem mais de 60 anos. Por isso, defende: “Não se trata de uma questão de envelhecimento da população.” A antiguidade dos tractores e dos equipamentos, assim como a falta de manutenção adequada, contribui para a ocorrência deste género de acidentes. 

A GNR tem realizado algumas campanhas de sensibilização junto das populações. A última – chamada “Operação Santo António” – foi em Outubro de 2014, envolvendo 1918 militares e abrangendo 6222 condutores de tractores. 

A GNR aconselha
Manutenção 

Não esqueça a manutenção do veículo. O seu mau funcionamento pode causar acidentes. 

Arco de protecção
Lembre-se de que as estruturas de protecção como o “arco de Santo António” (ver imagem ao lado) são obrigatórias desde 1993. Podem evitar a morte do condutor e reduzir significativamente a gravidade dos ferimentos. Sempre que tiver de o baixar, por algum motivo, faça por não se esquecer de o voltar a colocar na posição correcta. 

Iluminação
Utilize os acessórios de iluminação e sinalização conforme a lei. 

Álcool 
Não conduza sob o efeito do álcool, fadiga, cansaço ou com excesso de velocidade. As máquinas agrícolas não foram feitas para operar como se fossem um carro. 

Limites de carga
Respeite os limites do tractor. Não sobrecarregue nem transporte passageiros “à pendura”. Além de ser perigoso, é proibido. O excesso de carga é uma das razões que provocam o capotamento e/ou reviramento das máquinas agrícolas.
 
Formação
Frequente acções de formação teóricas e práticas. Conheça os riscos da condução de tractores agrícolas e circule com segurança.