2010-2014. Dez auto-estradas concentram 77%  das mortes

2010-2014. Dez auto-estradas concentram 77% das mortes


Entre 2010 e 2014 morreram 313 pessoas nas auto-estradas. Um “abrandamento brutal” na conservação e na sinalização e a opção por estradas sem portagem que não estão preparadas para  tanto tráfego são alguns dos factores que explicam a sinistralidade 


Dos 10 658 acidentes com vítimas que se registaram nas auto-estradas entre 2010 e o ano passado, 313 pessoas perderam a vida. Destas, 240 morreram nas dez auto-estradas mais perigosas, que incluem vias como A1, A28, A2 e A5. E as expectativas para o futuro não são animadoras: a má conservação e a deficiente sinalização das estradas são os principais problemas, mas há também cada vez mais factores a contribuir para a distracção dos condutores.

A Associação Portuguesa de Sinalização e Segurança Rodoviária (AFESP), considera que o que se verificou nos últimos anos foi “um abrandamento brutal na conservação e falta de investimento na infra-estrutura”. Este factor, associado a uma transferência de automóveis das auto-estradas para outras vias alternativas e sem portagem, “que não estavam preparadas para receber tanto volume de circulação, provocou um aumento da sinistralidade”. 

Os dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária mostram que há dez auto-estradas que se destacam pela negativa. A A1, A28, A2, A5, A3, A4, A8, A20, A29 e A25 são as mais acidentadas do país, alterando-se apenas a ordem pela qual surgem no ranking ao longo dos últimos anos. A A1, que liga Lisboa e Porto e cruza algumas capitais de distrito, é não só a maior e mais importante auto-estrada como também aquela onde ocorrem mais acidentes e mais mortes. E, segundo José Trigoso, presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa, “daqui a 20 anos vai continuar a ser” por uma razão muito simples: “É de longe a que tem mais volume de trânsito.” 

tráfego Estas dez auto-estradas são as que surgem constantemente como as mais problemáticas pelo facto de “serem as mais extensas ou as que têm mais volume de trânsito”, explica ainda José Trigoso, acrescentando que “são as que geram o risco que levam a mais acidentes”.

A auto-estrada com maior volume de tráfego por quilómetro é a A5, que faz a ligação entre Lisboa e Cascais. São apenas cerca de 20 km que todos os anos fazem parte das estatísticas negativas da sinistralidade rodoviária. 
O presidente da prevenção rodoviária chama a atenção para as características invulgares desta via: “Tem muito volume de trânsito mas que está frequentemente parado. Aparece sempre no ranking porque tem um tráfego médio diário brutal, mais de 100 mil veículos. E quanto mais gente há, maior é o risco”.

sinalização Apesar das auto-estradas estarem, de uma forma geral, melhor equipadas ao nível da sinalização e serem as vias mais bem conservadas, muitas delas – ou alguns troços – descuram a manutenção dos sinais, alerta a Associação Portuguesa de Sinalização e Segurança Rodoviária. “Quer as marcas rodoviárias quer a sinalização vertical têm um tempo limite de duração a partir do qual não asseguram a visibilidade”, especialmente em ambiente nocturno ou condições climatéricas adversas. Por outro lado, acrescenta, “em muitas zonas de frequente ocorrência de acidentes e de declive acentuado não existem guardas metálicas que protejam o condutor e os passageiros.”

Estes são também os obstáculos apontados por José Trigoso, que considera que o problema das estradas não se prende com a necessidade de mais ou menos sinalização, mas sim com a manutenção ou substituição daquela que existe: “Há estradas em que à noite não se conseguem ver os sinais. Quer na A2, quer na A22 há situações catastróficas.”

Outra questão em que estas duas entidades concordam é na necessidade de inspecções regulares e independentes tanto às estradas como à sinalização no sentido de detectar falhas, destruições e deteriorações. A AFESP considera que a preservação da sinalização “é crucial para prevenir acidentes e diminuir a gravidade das suas consequências”. E ressalva também que “tem defendido a absoluta necessidade de criar e manter um sistema rodoviário seguro que permita absorver o erro humano e adequar a estrada às necessidades dos utentes.”

distracções O “aumento desenfreado” que se tem verificado nos últimos tempos da disponibilização de informações contínuas através dos smartphones causa distracções brutais e problemas na segurança rodoviária, alerta José Trigoso. Os condutores aproveitam todos os momentos para espreitar mensagens, e-mails ou até o Facebook: “Numa localidade as pressões e a atenção têm de ser maiores. Numa auto-estrada há menos para fazer e com a velocidade que se leva há grandes riscos”, remata.