O ano passado tinham ambos percebido que as suas vidas não passavam pelo que estavam a fazer. Licenciados em Gestão e com carreiras de sucesso, Pedro Queirós (34 anos) e Lourenço Macedo Santos (35 anos) demitiram-se das empresas em que trabalhavam e foram viajar. Amigos desde os tempos da faculdade, decidiram conhecer o continente asiático de mochila às costas, enquanto repensavam as vidas profissionais – Pedro gostava de se dedicar a um projecto na área da agricultura, Lourenço ainda não sabe bem. No passado dia 25 de Abril, viveram “uma experiência de quase morte”, conta Pedro.
A capital do Nepal, Catmandu, foi abalada por um sismo de magnitude 7,9 na escala de Richter. “Podíamos estar a subir o Evereste, naquele dia, e ter morrido. Por acaso atrasámo-nos e estávamos na capital.” A decisão foi tomada a dois, e quase imediata. Em vez de abandonarem o país, como autoridades e família pediam, resolveram ficar e ajudar. Não ter um trabalho para onde voltar, mulher ou filhos facilitou a decisão. “Tenho a certeza de que qualquer pessoa com o nosso percurso tinha feito exactamente o mesmo. Não tenho a mínima dúvida”, garante Lourenço.
Tinham pouco mais de mil euros na conta e gastaram-nos naquilo que lhes pareceu mais urgente: dar comida aos nepaleses que se amontoavam em filas de 500 metros, depois de terem perdido casas, carros e condições mínimas de sobrevivência. “Tínhamos amigos a chamarem-nos nomes por termos ficado. A dizer que éramos uns idiotas, uns egoístas, por não virmos ter com as pessoas que gostam de nós.”
Ignoraram os comentários e sentiram que era preciso fazer mais. A internet foi o aliado perfeito. Através do Facebook começaram a pedir donativos aos portugueses, comprometendo-se a, todos os dias, explicarem quanto e onde gastavam o dinheiro que lhes ia chegando. A onda de solidariedade superou todas as expectativas: “Não podemos dizer quanto angariámos, mas podemos dizer que já gastámos 35 mil euros em comida, tendas e, agora, na construção de casas.” Foram notícia na imprensa nacional e internacional, mas garantem que este foi apenas mais um sismo nas suas vidas. “Podia ter sido um acontecimento determinante na nossa vida, mas nós já estávamos nesse caminho” de mudança. Acreditam que estavam naquele lugar, naquele dia, porque estavam também preparados para a decisão de ficar. “Passámos quatro meses na Ásia. Viajámos pelo Laos, fomos a Myanmar… conhecemos pessoas que não têm nada e dão tudo.” Quando decidiram ficar no Nepal “por tempo indeterminado”, comprometeram-se com a responsabilidade de fazer a ajuda chegar onde era mais precisa.
“Deitávamo-nos às 3h e acordávamos às 6h, todos os dias.” Mas sempre “com um sorriso”. Lourenço, de olhos brilhantes, repete: “Eu nunca tinha feito caridade.” Daqui a menos de dez dias estão de regresso a Catmandu e ao comando do Campo Esperança, um acampamento que alberga centenas de pessoas e já é considerado por várias organizações não governamentais como um exemplo a seguir e replicar. Aplicaram os conhecimentos de gestão para fazer tudo da forma mais organizada e correcta possível.
Gerem cerca de 20 voluntários e já conheceram mais de mil pessoas em 45 dias. “O que está programado é ficarmos até ao Natal, mas nunca se sabe”, dizem com o sorriso de quem encontrou, pelo menos por agora, o seu lugar. Sabem que são as mesmas pessoas que foram para a Ásia e desconfiam que não voltarão tão diferentes. Ainda não tiveram tempo para pensar sobre o que quererão fazer ou o que a vida lhes reserva quando regressarem de vez a Portugal. Sabem apenas que esta experiência os ensinou a “relativizar problemas” e que os seus frutos, bem como a exposição pública que têm em nome do Nepal, vão exigir “muita ponderação” e calma na hora de decidir que caminho trilhar. Voltarão para junto dos “amigos fantásticos” e dos “laços muito fortes” que têm em Portugal, com a noção de que são “uns sortudos”.
“Não há palavras no dicionário que classifiquem esta experiência.É mais do que altruísmo, é mais do que sacrifício.” Pedro e Lourenço, que têm passado o tempo em Portugal a promover o movimento “Obrigado Portugal, nós também somos Nepal”, de sorriso rasgado e certeza no olhar, fizeram e repetiram um apelo: é preciso que as pessoas não deixem de ajudar, mesmo que o tempo vá passando.
E garantem que não vão parar de reconstruir um país que, de certa forma, já lhes pertence um pouco – têm até ideias para continuar a ajudar à distância, quando chegar a hora. “Enquanto não pararem de ajudar, nós não paramos de trabalhar”, prometem. Jano passado tinham ambos percebido que as suas vidas não passavam pelo que estavam a fazer. Licenciados em Gestão e com carreiras de sucesso, Pedro Queirós (34 anos) e Lourenço Macedo Santos (35 anos) demitiram-se das empresas em que trabalhavam e foram viajar. Amigos desde os tempos da faculdade, decidiram conhecer o continente asiático de mochila às costas, enquanto repensavam as vidas profissionais – Pedro gostava de se dedicar a um projecto na área da agricultura, Lourenço ainda não sabe bem. No passado dia 25 de Abril, viveram “uma experiência de quase morte”, conta Pedro.
A capital do Nepal, Catmandu, foi abalada por um sismo de magnitude 7,9 na escala de Richter. “Podíamos estar a subir o Evereste, naquele dia, e ter morrido. Por acaso atrasámo-nos e estávamos na capital.” A decisão foi tomada a dois, e quase imediata. Em vez de abandonarem o país, como autoridades e família pediam, resolveram ficar e ajudar. Não ter um trabalho para onde voltar, mulher ou filhos facilitou a decisão.
“Tenho a certeza de que qualquer pessoa com o nosso percurso tinha feito exactamente o mesmo. Não tenho a mínima dúvida”, garante Lourenço. Tinham pouco mais de mil euros na conta e gastaram-nos naquilo que lhes pareceu mais urgente: dar comida aos nepaleses que se amontoavam em filas de 500 metros, depois de terem perdido casas, carros e condições mínimas de sobrevivência.
“Tínhamos amigos a chamarem–nos nomes por termos ficado. A dizer que éramos uns idiotas, uns egoístas, por não virmos ter com as pessoas que gostam de nós.” Ignoraram os comentários e sentiram que era preciso fazer mais. A internet foi o aliado perfeito. Através do Facebook começaram a pedir donativos aos portugueses, comprometendo-se a, todos os dias, explicarem quanto e onde gastavam o dinheiro que lhes ia chegando. A onda de solidariedade superou todas as expectativas: “Não podemos dizer quanto angariámos, mas podemos dizer que já gastámos 35 mil euros em comida, tendas e, agora, na construção de casas.” Foram notícia na imprensa nacional e internacional, mas garantem que este foi apenas mais um sismo nas suas vidas. “Podia ter sido um acontecimento determinante na nossa vida, mas nós já estávamos nesse caminho” de mudança.
Acreditam que estavam naquele lugar, naquele dia, porque estavam também preparados para a decisão de ficar. “Passámos quatro meses na Ásia. Viajámos pelo Laos, fomos a Myanmar… conhecemos pessoas que não têm nada e dão tudo.” Quando decidiram ficar no Nepal “por tempo indeterminado”, comprometeram-se com a responsabilidade de fazer a ajuda chegar onde era mais precisa. “Deitávamo-nos às 3h e acordávamos às 6h, todos os dias.” Mas sempre “com um sorriso”. Lourenço, de olhos brilhantes, repete: “Eu nunca tinha feito caridade.” Daqui a menos de dez dias estão de regresso a Catmandu e ao comando do Campo Esperança, um acampamento que alberga centenas de pessoas e já é considerado por várias organizações não governamentais como um exemplo a seguir e replicar.
Aplicaram os conhecimentos de gestão para fazer tudo da forma mais organizada e correcta possível. Gerem cerca de 20 voluntários e já conheceram mais de mil pessoas em 45 dias. “O que está programado é ficarmos até ao Natal, mas nunca se sabe”, dizem com o sorriso de quem encontrou, pelo menos por agora, o seu lugar. Sabem que são as mesmas pessoas que foram para a Ásia e desconfiam que não voltarão tão diferentes.
Ainda não tiveram tempo para pensar sobre o que quererão fazer ou o que a vida lhes reserva quando regressarem de vez a Portugal. Sabem apenas que esta experiência os ensinou a “relativizar problemas” e que os seus frutos, bem como a exposição pública que têm em nome do Nepal, vão exigir “muita ponderação” e calma na hora de decidir que caminho trilhar. Voltarão para junto dos “amigos fantásticos” e dos “laços muito fortes” que têm em Portugal, com a noção de que são “uns sortudos”.
“Não há palavras no dicionário que classifiquem esta experiência.É mais do que altruísmo, é mais do que sacrifício.” Pedro e Lourenço, que têm passado o tempo em Portugal a promover o movimento “Obrigado Portugal, nós também somos Nepal”, de sorriso rasgado e certeza no olhar, fizeram e repetiram um apelo: é preciso que as pessoas não deixem de ajudar, mesmo que o tempo vá passando. E garantem que não vão parar de reconstruir um país que, de certa forma, já lhes pertence um pouco – têm até ideias para continuar a ajudar à distância, quando chegar a hora. “Enquanto não pararem de ajudar, nós não paramos de trabalhar”, prometem.