As sondagens não são missais, não são bíblias, não são o “D. Quixote de La Mancha”. São “estudos” que reportam exclusivamente àquele momento, àqueles dois ou três dias da semana e estão sujeitos a margens de erro. As sondagens “enganam-se”. Ou melhor: o voto no dia das eleições, às vezes, é “uma surpresa” face à tendência das sondagens.
Independentemente disto, a sondagem da Universidade Católica que colocou a coligação um ponto à frente do PS é um enorme abalo no universo socialista. É verdade que os outros dados da sondagem permitem colocar o PS em melhor forma do que a intenção de voto – afinal, os portugueses dão nota péssima ao governo e acreditam que o PS vai ganhar as eleições. Este último elemento é importante na leitura das sondagens e foi ele, de resto, que permitiu perceber que seria António Guterres, e não Fernando Nogueira, a vencer as eleições de 1995.
Mas os trabalhos de António Costa revelaram-se muito mais difíceis do que a campanha das primárias que o levou a secretário-geral sugeria. O caso Sócrates é um elemento de peso, mas a forma bem-comportada com que o PS passou a olhar a Europa, conformando-se com a inexistência de grandes alternativas no espaço europeu e fugindo agora como o diabo da cruz daquela que foi outrora uma grande bandeira da esmagadora maioria dos membros desta direcção – a reestruturação da dívida –, contribuiu para diminuir o entusiasmo de todos os que sonham com uma alternativa real ao estado das coisas. Seguro era bem-comportado (não falava em reestruturação da dívida, mas apenas em renegociação), António Costa revelou-se muito bem-comportado – vangloriou-se esta semana de o PS “enquanto partido” nunca “ter defendido a reestruturação da dívida”. Há um ano, no calor do debate das primárias, António Costa tinha o partido e o país aos seus pés. Para ressuscitar essa paixão, vai ter de sair da camisa-de-forças em que optou por se enfiar em nome da realpolitik.