O tiki-taka do Barça é tramado. Dentro do campo é um festival de bola, com 175 golos e três títulos (Liga espanhola, Taça do Rei e Liga dos Campeões). Fora dele é um carrossel de emoções. Quando o autocarro do Barça percorre a cidade, Xavi é a figura mais acarinhada pelos adeptos. E até pelos jogadores.
Às tantas, Neymar puxa o capitão e leva um safanão. O brasileiro insiste e aí é pior.Xavi dá-lhe um estalo de mão cheia. Aquilo dói só de ver. Neymar paralisa e depois olha para Daniel Alves à procura de conforto. A partir deste momento, a vida de Neymar nunca nunca nunca mais será a mesma.
O capitão da selecção chega ao Brasil numa segunda-feira e, dois dias depois, entra em campo para o particular com as Honduras, em Porto Alegre, antes do arranque da Copa América. O péssimo jogo do Brasil vale inúmeras vaias das bancadas e até olés. Isso não impede o ritual dos jogadores de se juntarem no meio-campo para saudar o público. Todos o fazem menos Neymar. À saída para o balneário, com cara de poucos amigos e voz grossa, os microfones apanham--no a dizer repetidamente “mete o pé” aos companheiros.
Menos de 24 horas depois, é dia de Neymar falar à comunicação social. Ou não. O capitão foge à responsabilidade e nem sequer passa na zona mista. Os jornalistas estranham este isolamento, nada comum num jogador sorridente, de bem com a vida. A trama tem outro capítulo pouco edificante quando Neymar, já em Temuco (Chile), vê uma bola de um menino à entrada do hotel e dá-lhe um pontapé para bem longe – logo ele, que é reconhecido como um dos mais animados com crianças. Aqui há coisa.
Dunga finta o mal-entendido e leva o menino ao autocarro da selecção para conhecer os jogadores. É uma festa sem igual, o Brasil está finalmente a pontuar noChile. E assim continuará, por via do 2-1 ao Peru. Aí,Neymar volta a ser o rei: golo aos 4’ e assistência para Douglas Costa aos 90’.
Venha de lá a Colômbia, vá. E Zuñiga, o homem mais falado dos quartos-de-final do Mundial-2014 por aquela falta pelas costas. Neymar cai e nunca mais se levanta. É levado em maca e falha os jogos de má memória para o Brasil com Alemanha (7-1) e Holanda (3-0).
INVICTUS O número 10 só volta à acção na era Dunga e chega aos 24 jogos sem perder. Quando se prepara para o 25.o, aparece a Colômbia. Um-zero de Murillo e não só. No último suspiro,Neymar remata contra as costas de Armero. Monta-se um sururu daqueles. Bacca empurra Neymar e este é placado por Tardelli. Mas só por momentos. O ambiente vai aquecer. E Neymar dá uma marrada em Murillo. O árbitro expulsa o brasileiro. E este vai-se a ele, já no túnel de acesso ao balneário. “Queres ganhar fama à minha custa, meu filho da…?”
Fala-se em dois jogos de suspensão, depois só um. Qual é o veredicto? A Conmebol dá-lhe quatro. Ou seja, Neymar fora da Copa América. Voltará em 2016. O Brasil ganha então à Venezuela (2-1, golos de ThiagoSilva, Firmino, Miku) e passa aos quartos-de-final. O adversário é o Paraguai, carrasco da edição de 2011, em La Plata (Argentina). E o que se faz a Neymar, ao capitão? Simples: dá-se um bilhete de volta para o Brasil.
É o melhor, diz o seleccionador Dunga.E também o lateralDanielAlves, companheiro de Neymar no Barcelona. “Seria muito egoísta da nossa parte deixá-lo aqui sem poder jogar. Ele vai ficar na ânsia de querer ajudar e isso dói. Todos somos seres humanos, todos nós temos sentimentos. Por mais que pensem o contrário, jogadores são como qualquer outra pessoa. É melhor que ele entre de férias e relaxe a cabeça. Para que volte a ser quem era e a marcar a diferença. Lá mais para a frente, precisamos dele.”