Dempsey é um homem dividido.Seja na vida real ou na personagem que encarnou em“Anatomia de Grey”, DerekShepherd, há sempre escolhas difíceis para serem feitas. Ficar emSeattle com a mulher e a família ou tentar mudar o mundo emWashington, reportando ao presidente norte-americano? Prolongar a carreira de sucesso como actor ou concentrar-se a tempo inteiro naquela que foi percebendo ser a sua maior paixão, de forma a poder concretizar um sonho de longa data?
Qualquer que seja o caminho escolhido, há quem saia a perder com a decisão. Foi por isso que uma autêntica legião de fãs do McDreamy da série de Shonda Rhimes ficou desolada com a morte do médico na sequência de um acidente de viação, desvalorizando que Patrick estava, também ele, em busca do seu sonho e que o desfecho já vinha a ser desbravado há algum tempo.
O presente do actor/piloto é marcado pelo diagnóstico de dislexia de que foi alvo quando tinha 12 anos. “[A doença] Deu-me uma perspectiva de que tinha de trabalhar sempre muito. E nunca desisti”, explicou em entrevista a Barbara Walters, em 2008. E, de facto, foi isso que aconteceu.Durante vários anos, não desistiu do objectivo de ser um actor com sucesso e teve de entrar numa espiral constante de memorização de falas. Estreou-se no mundo da representação em 1985 e, 30 anos e algumas distinções depois, decidiu que não podia desistir também de outros sonhos, especialmente o de chegar ao pódio das 24 Horas de Le Mans.
O Porsche 911 RSR da Dempsey-Proton Racing, conduzido por Patrick Dempsey, Patrick Long e Marco Seefried, concluiu 331 voltas na categoria de LMGTE Am e terminou na segunda posição (22.a da geral), aproveitando, entre outras coisas, o acidente do carro da equipa de Pedro Lamy, que liderava já durante a última hora da maratona automobilística mais famosa do mundo.
“É difícil traduzir em palavras o que isto significa, depois de todo o esforço e trabalho de equipa de toda a gente para podermos estar aqui. A equipa fez um grande trabalho e foi irrepreensível em todas as paragens nas boxes. Não podia ter feito isto sem eles. O Patrick [Long] tem vindo a puxar por mim ao limite, a orientar-me.E isso fez uma grande diferença. Estar ali em cima [no pódio] é definitivamente um sonho concretizado. Foi nisto que pensámos o ano inteiro”, afirmou, ligeiramente comovido, no final da prova, em declarações a uma televisão francesa.
A aposta surtiu efeito. O chamamento das corridas de automóveis era cada vez mais forte e, à quarta participação em Le Mans, alcançou finalmente o objectivo de um nono lugar em 2009, um quarto em 2013 e um quinto em 2014. E o desaparecimento do mundo da representação ajudou a afinar pormenores e a melhorar o resultado final. “Agora que estamos a tempo inteiro e completamente comprometidos, muitas das coisas em que tivemos dificuldade no passado foram resolvidas. Por isso, podemos concentrar--nos verdadeiramente na corrida e na sua gestão”, explicou ainda na fase de preparação. A diferença na relação com os fãs foi outro dos aspectos destacados por Patrick Dempsey. “Faz parte do espectáculo ser o centro das atenções, mas devo poder manter-me alheio a isso e não me preocupar. Nos primeiros anos foi um caos, queria passar tempo com os fãs e dar autógrafos, mas estava demasiado ocupado e há muita excitação contagiosa. Isso gastava-me muita energia de que precisava posteriormente para a corrida.”
O desempenho de Patrick Dempsey foi muito elogiado pelo colega Patrick Long, com 33 anos e a correr em LeMans desde 2004. “Em 2013, este tipo [apontando para Dempsey] disse-me que queria alcançar o sonho de chegar ao pódio em Le Mans. Isto é o concretizar de muito tempo e dedicação, com muitos sacrifícios feitos. Ele conduziu muito bem, com muito coração, sem erros, e não teve qualquer tipo de egoísmo em todo o evento. Conseguimos alcançar o nosso objectivo”, congratulou-se.
O sonho do McDreamy foi alcançado, mas Le Mans não foi o derradeiro passo na carreira que Patrick Dempsey pretende seguir como piloto. Depois de vários anos em que as corridas foram relegadas para segundo plano por questões contratuais com a representação, tem agora o caminho livre para abraçar o profissionalismo nas pistas. Para já, o próximo passo será a participação no Campeonato Mundial de Endurance de Carros Desportivos.