São clássicos: “A Missão” (1986); “Em Busca do Vale Encantado” (1988), “O Clube dos Poetas Mortos” (1989), “A Lista de Schindler” (1993). Provavelmente, um destes filmes faz-lhe lembrar os bancos da escola. E “Aniki Bóbó”, de Manoel Oliveira, quem viu na sala de aula? Um estudo europeu coordenado pela Universidade Autónoma de Barcelona e pelo Think Tank on European Film and Film Policy revela que Portugal é dos países onde é menos comum as escolas levarem os alunos ao cinema e onde é mais raro os professores mostrarem filmes nacionais.
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O projecto intitulado “Educação para o Cinema na Europa: A exibição de filmes e outros conteúdos audiovisuais nas escolas europeias” inquiriu 6700 professores europeus e foi financiado pela Comissão Europeia. Os investigadores concluem que a nível europeu não se pode dizer que o uso de conteúdos audiovisuais seja assim tão expressivo, já que apenas 37,5% dos docentes do secundário e 24,6% do ensino básico relatam o uso frequente destes materiais.
Documentários lideram O documentário é o género mais usado nas escolas europeias (60%), seguido de conteúdos educativos específicos (46,1%), vídeos do YouTube ou sites similares (36,7%). Só depois surgem a ficção (34,1%) e a animação (23,2%).
Se Portugal está a meio da tabela no uso de conteúdos audiovisuais, há duas áreas em que os resultados destoam. Fica apenas atrás da Letónia no pódio dos países que menos levam as crianças ao cinema. Apenas 29,8% dos professores inquiridos admitiram ser comum realizar esta actividade em Portugal. No extremo oposto surgem França e Polónia, onde mais de 90% dos docentes levam os alunos ao cinema.
Portugal também surge em penúltimo lugar no recurso a filmes nacionais, com 16,6% dos docentes a admitir fazê-lo. Na Holanda, na Hungria e na República Checa a percentagem é superior a 70%.
Em contrapartida, os professores portugueses consideram que as escolas estão razoavelmente equipadas para ver filmes (atribuem uma pontuação de 2,84 numa escala de 0 a 5) e são uma minoria (15%) aqueles que dizem ter apenas até dez filmes disponíveis na escola.
Cerca de 70% dos docentes admitem ter usado os seus próprios recursos, mas em Itália a percentagem ultrapassa os 90% enquanto em países como a Holanda ou a Dinamarca ronda os 40%. E mais de 90% dos professores constatam que a literacia em cinema não faz parte dos currículos obrigatórios.
Mudança em curso A par da Alemanha ou de Itália, em Portugal os professores admitem organizar clubes de cinema e debates sobre cinema na escola. Cerca de quatro em cada dez realiza este tipo de actividades, que os autores dizem que podem compensar idas menos frequentes ao cinema.
O estudo não refere também uma nova fase da aposta no cinema nas escolas portuguesas, que arrancou no ano lectivo 2012/2013 quando começou a ser implementado o Plano Nacional de Cinema. Além de propor listas de filmes aos professores – com a sugestão de ser privilegiado o cinema português –, existe uma aposta na formação dos docentes. No ano lectivo passado foram abrangidos 2942 alunos e realizaram-se 25 sessões acompanhadas de cinema, das quais 17 em salas de cinema, com a colaboração de autarquias, da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, do Teatro Académico de Gil Vicente e de três cineclubes. Já este ano, de acordo com dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), o plano terá abrangido 300 docentes e 10 mil alunos do básico e secundário de 68 agrupamentos e escolas. Tendo em conta que há cerca de 800 mil alunos nestes níveis de ensino da escola pública e 811 agrupamentos, chega ainda a uma pequena percentagem da população escolar. Mas num ano a adesão aumentou mais de três vezes. A implementação tem sido experimental e decorre de uma lei que em 2012 determinou o desenvolvimento e a protecção do cinema e das actividades audiovisuais.
Para que serve? O projecto europeu visou estudar a relevância dos conteúdos audiovisuais no ensino e as barreiras ao seu uso. A maioria dos professores europeus (63%) considera que os conteúdos audiovisuais são bons para complementar a matéria. Mais de quatro em cada cinco (45%) entendem que ajudam a promover competências como a criatividade o raciocínio crítico. O entretenimento é a última motivação.
Já as principais dificuldades no uso de mais recursos audiovisuais nas escolas são os custos de adquirir filmes ou pagar direitos de exibição, a falta de formação de professores em educação cinematográfica e a existência de infra-estruturas e recursos limitados nas escolas. Outro problema invocado foi a inflexibilidade dos actuais horários e currículos e o facto de a literacia para o cinema não ser um tema obrigatório.