“Outra greve?? Para dia 26?? Isto está a ultrapassar todos os limites do razoável.” Odesabafo com que nos cruzámos ontem noFacebook resumirá bem o cansaço acumulado por muitos dos afectados pela multiplicação das paralisações feitas pelos trabalhadores do metro de Lisboa, que ontem chegou à sétimaacção de protesto desde o início do ano. De hoje a oito haverá mais uma. Aí, osdesabafos serão provavelmente maiores – até porque calha em véspera de fim-de-semana.
{relacionados}
“As pessoas estão, na esmagadora maioria, contra estas greves”, sintetizou Aristides Teixeira, do Movimento dos Utentes do Metro deLisboa. Anabela Carvalheira, responsável da Federação dos Sindicatos dos Transportes (Fectrans), contesta:“Temos tido muito apoio por parte da população. Sente-se incomodada, é certo, mas tem noção de que os trabalhadores lutam para que Lisboa continue a ter transporte público”, disse ao i.
Em causa estão as concessões dos transportes públicos:a análise feita pelos representantes dos trabalhadores das empresas conclui que estas serão prejudiciais tanto para os contribuintes como para os utentes.
Horários e regalias entre principais críticas feitas aos trabalhadores dos transportes
Transportes lideram Em 2013 registaram-se 119 greves que abrangeram 70 mil trabalhadores e levaram à perda de 77 mil dias de trabalho, números abaixo não só dos registos de 2012 como também dos registados no início do século, com 2002, por exemplo, a ficar marcado por 250 paralisações, com um impacto de 108 mil dias de trabalho perdidos.
Com a multiplicação das paralisações no metro e a expectativa de avançarem acções concertadas entre os sindicatos do sector (ver texto ao lado), o corrente ano deverá ameaçar os máximos deste século em termos de contestação nos transportes, a actividade que mais recorre a estas acções –dos 70 mil trabalhadores em greve em 2013, 57 mil eram de transportes, armazenagem ou comunicações.
No caso do metro de Lisboa, cada dia de paralisação representará qualquer coisa como menos 387 mil viagens realizadas pelos seus utentes – numa média diária simples feita a partir dos 141 milhões de viagens de 2014 –, o que significa que as três paralisações de 24 horas realizadas até ao momento e a do próximo dia 26 deverão custar perto de 1,5 milhões de viagens – mais de 10% do total de viagens em 2014.
Sem fundo de greve, cada dia de paralisação custa um dia de salário aos trabalhadores
Além das viagens, as greves incorrem também em custos financeiros, que a empresa calculou em 108 mil euros líquidos diários. Ou seja, e contando já com dia 26, podem estar em causa 432 mil euros. Mas os trabalhadores também saem prejudicados, lembra Anabela Carvalheira, que recorda que estes perdem um dia de salário a cada paralisação, já que não contam com um fundo de greve. “Vêem o valor como um investimento no futuro da empresa.”
Ao nível dos salários, é de salientar que as críticas mais recorrentes aos trabalhadores deste sector focam as suas regalias e salários elevados faceà média do país, numa longa lista de “excessos” que em 2012 o governo publicou. Desde então, o executivo tem reduzido os quadros de pessoal das empresas e renegociado as suas regalias – motivando ainda mais contestação.