Jesus, a nova moeda socialista


Se, em vez do político, se interrogasse o antigo gestor da Mota-Engil, a resposta seria muito mais clara e o dr. Costa ficaria a falar sozinho.


© Miguel Vidal/Reuters

Convenhamos que o Partido Socialista, no governo, sempre teve uma grande dificuldade em gerir as finanças públicas.
Nem com os escudos nem com os euros se deu bem.

As coisas acabaram sempre por correr mal.

Há quem diga que é por essa estranha tendência para a simplificação, por uma vontade de minimizar os problemas e dar alegria ao povo.

Num debate parlamentar da passada semana, o deputado socialista Rui Paulo Figueiredo resolveu comparar o que o Estado encaixará directamente com a venda da TAP, os 10 milhões, com o ordenado de Jorge Jesus no Sporting.
A TAP teria sido mal vendida porque esses 10 milhões representariam metade do ordenado anual de Jorge Jesus. Uma bagatela, portanto.

A TAP não valeria mais do que dois Jesus por ano.

Sabe-se que não é assim, que esta companhia terá uma injecção de capital por parte da Azul de 355 milhões de euros, ou seja, de 71 Jesus, podendo ainda o Estado arrecadar mais 134 milhões de euros, ou seja, 26,8 Jesus, até 2016, consoante o resultado da empresa.

Admitamos que esta blague corresponde apenas a uma nova forma de comunicar, não a uma invenção de nova moeda.
Admitamos ainda que o pensamento subjacente se ficou pelo colorido de um debate parlamentar.

Mas se pudéssemos acompanhar esta linguagem tão simples caberia perguntar com quantos Jesus deveria o Estado entrar na TAP até ao despenhamento final.

Não poderiam ser só esses dois Jesus. Muitos, muitíssimos mais seriam necessários para suprir a dívida, comprar aviões, investir e manter a empresa. Tudo, tudinho, suportado pelo dinheiro dos nossos impostos, das taxas suplementares, das taxas moderadoras.

Tratar da saúde à TAP, à custa da nossa própria.

A alternativa é recorrer a dinheiro de empresas privadas, daquelas que tentam realizar oportunidades de negócio, e dar futuro a empresas que, de outro modo, se condenariam ao de-saparecimento como, na história das companhias de aviação, os exemplos se multiplicam.

Nem o dr. Jorge Coelho conseguiu ficar calado.

A ele se deve a primeira tentativa de privatização e a chamada do actual presidente da TAP a Portugal para consegui-la com êxito. É certo que nem uma coisa, privatização, nem outra, êxito, foram conseguidos.

A Swiss foi um air que lhe deu.

A TAP passou de capitais positivos de 200 milhões de euros em 2012 para capitais próprios negativos de 500 milhões de euros agora, a que acresce um passivo de mais de 1000 milhões de euros.

Por isso não deslustrar a tese oficial socialista, o dr. Coelho diz que as empresas têm de abrir o capital para ficarem mais fortes.

Com o dr. Costa, a solução seria recorrer à dispersão do capital em bolsa. Missão impossível, uma vez que nunca se poderia recorrer a esta solução com um panorama de capitais próprios assim.

Não basta gerir com o coração, convém utilizar a razão e, por respeito aos limites, o dr. Jorge Coelho limitou-se a dizer o que disse.

Se, em vez do político, se interrogasse o antigo gestor da Mota-Engil, a resposta seria muito mais clara e o dr. Costa ficaria a falar sozinho.

E mesmo que o Estado, além de lançar a impossível operação em bolsa, resolvesse intervir directamente, de acordo com as regras europeias seria forçado a reduzir rotas, frota e pessoal.

O dr. Jorge Coelho sabe-o, como o sabia no seu tempo de decisor público.

Dir-se-á, mas o PS é oposição e tem de fazer oposição. Ora, o problema é como. Isto é, não vale tudo. 

Quer o dr. Costa queira quer não, são argumentos como os seus em relação à TAP dão uma imagem triste de syrização do socialismo. Defender o impossível. Negar a evidência.

Em suma, regressar ao que de pior teve o último governo do qual o dr. Costa fez parte e nos fez cair nesse poço de ar profundo que nos deixou sem respiração.

Salvou-nos a queda da máscara de oxigénio.

Ao fundo do avião ouviu-se um grito: “Ai Jesus!”

Não era uma prece, era um republicano, laico e socialista que falava da nova moeda que ao Sporting tinha chegado.

Se a ele coubesse a pilotagem do avião, ninguém se salvava.
 
Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira

Jesus, a nova moeda socialista


Se, em vez do político, se interrogasse o antigo gestor da Mota-Engil, a resposta seria muito mais clara e o dr. Costa ficaria a falar sozinho.


© Miguel Vidal/Reuters

Convenhamos que o Partido Socialista, no governo, sempre teve uma grande dificuldade em gerir as finanças públicas.
Nem com os escudos nem com os euros se deu bem.

As coisas acabaram sempre por correr mal.

Há quem diga que é por essa estranha tendência para a simplificação, por uma vontade de minimizar os problemas e dar alegria ao povo.

Num debate parlamentar da passada semana, o deputado socialista Rui Paulo Figueiredo resolveu comparar o que o Estado encaixará directamente com a venda da TAP, os 10 milhões, com o ordenado de Jorge Jesus no Sporting.
A TAP teria sido mal vendida porque esses 10 milhões representariam metade do ordenado anual de Jorge Jesus. Uma bagatela, portanto.

A TAP não valeria mais do que dois Jesus por ano.

Sabe-se que não é assim, que esta companhia terá uma injecção de capital por parte da Azul de 355 milhões de euros, ou seja, de 71 Jesus, podendo ainda o Estado arrecadar mais 134 milhões de euros, ou seja, 26,8 Jesus, até 2016, consoante o resultado da empresa.

Admitamos que esta blague corresponde apenas a uma nova forma de comunicar, não a uma invenção de nova moeda.
Admitamos ainda que o pensamento subjacente se ficou pelo colorido de um debate parlamentar.

Mas se pudéssemos acompanhar esta linguagem tão simples caberia perguntar com quantos Jesus deveria o Estado entrar na TAP até ao despenhamento final.

Não poderiam ser só esses dois Jesus. Muitos, muitíssimos mais seriam necessários para suprir a dívida, comprar aviões, investir e manter a empresa. Tudo, tudinho, suportado pelo dinheiro dos nossos impostos, das taxas suplementares, das taxas moderadoras.

Tratar da saúde à TAP, à custa da nossa própria.

A alternativa é recorrer a dinheiro de empresas privadas, daquelas que tentam realizar oportunidades de negócio, e dar futuro a empresas que, de outro modo, se condenariam ao de-saparecimento como, na história das companhias de aviação, os exemplos se multiplicam.

Nem o dr. Jorge Coelho conseguiu ficar calado.

A ele se deve a primeira tentativa de privatização e a chamada do actual presidente da TAP a Portugal para consegui-la com êxito. É certo que nem uma coisa, privatização, nem outra, êxito, foram conseguidos.

A Swiss foi um air que lhe deu.

A TAP passou de capitais positivos de 200 milhões de euros em 2012 para capitais próprios negativos de 500 milhões de euros agora, a que acresce um passivo de mais de 1000 milhões de euros.

Por isso não deslustrar a tese oficial socialista, o dr. Coelho diz que as empresas têm de abrir o capital para ficarem mais fortes.

Com o dr. Costa, a solução seria recorrer à dispersão do capital em bolsa. Missão impossível, uma vez que nunca se poderia recorrer a esta solução com um panorama de capitais próprios assim.

Não basta gerir com o coração, convém utilizar a razão e, por respeito aos limites, o dr. Jorge Coelho limitou-se a dizer o que disse.

Se, em vez do político, se interrogasse o antigo gestor da Mota-Engil, a resposta seria muito mais clara e o dr. Costa ficaria a falar sozinho.

E mesmo que o Estado, além de lançar a impossível operação em bolsa, resolvesse intervir directamente, de acordo com as regras europeias seria forçado a reduzir rotas, frota e pessoal.

O dr. Jorge Coelho sabe-o, como o sabia no seu tempo de decisor público.

Dir-se-á, mas o PS é oposição e tem de fazer oposição. Ora, o problema é como. Isto é, não vale tudo. 

Quer o dr. Costa queira quer não, são argumentos como os seus em relação à TAP dão uma imagem triste de syrização do socialismo. Defender o impossível. Negar a evidência.

Em suma, regressar ao que de pior teve o último governo do qual o dr. Costa fez parte e nos fez cair nesse poço de ar profundo que nos deixou sem respiração.

Salvou-nos a queda da máscara de oxigénio.

Ao fundo do avião ouviu-se um grito: “Ai Jesus!”

Não era uma prece, era um republicano, laico e socialista que falava da nova moeda que ao Sporting tinha chegado.

Se a ele coubesse a pilotagem do avião, ninguém se salvava.
 
Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira