A minha irmã vendeu a TAP


A cada oportunidade olhemo-los de frente, e no exercício da nossa palavra ou no acto de votar, em cada passo, afastemo-los mais para o lado.


Não conheço a idade mental do irmão da secretária de Estado do Tesouro, Isabel Castelo Branco, que horas após o anúncio da privatização da companhia aérea publicava no Facebook a foto da mana com uma legenda em inglês que informava: “ My sister selling TAP”. Pondo de parte a possibilidade de algum atraso funcional, a frase revela uma pertinente sagacidade comercial e é todo um manifesto sobre quem gere o pedaço.

O nível da arrogância nela implícita, para além de bacoco, só é comparável com a imortal “pai, já sou ministro” e revela como para uma casta, Portugal, o Estado e os bens públicos são assunto seu, a sua herdade, Cosa Nostra. 
Esta privatização e o papel que nela jogaram António Vitorino pelos vencedores e Marques Mendes, desta vez, pelos derrotados, deixam claro, uma vez mais, a verdadeira razão e o cinismo que antecedem a semanal metamorfose destes lobistas de privados interesses em desinteressados comentadores políticos, empenhados defensores do interesse público. 

Jorge Coelho, Lobo Xavier, Morais Sarmento, Marques Mendes, Santana Lopes, António Vitorino ou José Luís Arnaut, secundados por uma legião de menores, estão mais preocupados com o património de que com a pátria.
A sua presença nos canais de televisão serve para disfarçar a defesa de opções económicas e a implementação de quadros jurídicos e fiscais que beneficiem ou dêem vantagem aos clientes dos seus escritórios de advogados ou dos grupos empresariais que representam.

Em paralelo fabricam lógicas políticas que, sob uma retórica protegida de contestação, e em horário nobre, estabelecem os imaginários populares necessários à sua legitimação pública. 

Todos sabem isso, dirigentes políticos e responsáveis de informação, mas todos aceitam e beneficiam com o jogo. Cabe–nos a nós não sermos passivos consumidores da charlatanice de mercado elevada a filosofia política.

Desde 2011, só as privatizações da ANA, TAP, EDP, Fidelidade, CTT e REN envolveram um montante global superior a 8 mil milhões de euros, em que estiveram envolvidos seis escritórios de advogados, de onde fazem parte muitos dos políticos-comentadores. 

Eles são os verdadeiros anti-sistema. Foram eles que foram destruindo o sistema por dentro, fragilizando as instituições e abastardando a legalidade que diziam defender. Andaram a dinamitar o sistema por dentro em benefício próprio.

Destruíram-no, ano após ano, pacientemente, em cada caso de corrupção, em cada familiar instalado, em cada tráfico de influências, em cada fortuna inexplicável, em cada pública incompetência, em cada lei por medida. 

Foram eles os do arco da governação que, com o seu exemplo e práticas, espalharam a desesperança social, o desastre económico e levaram a nação ao abismo. 

A resposta é o aprofundamento da democracia e uma mais activa participação cívica. A cada oportunidade olhemo-los de frente, e no exercício da nossa palavra ou no acto de votar, em cada passo, afastemo-los mais para o lado.

Por muito ofendidos que se sintam, não alcançam o insulto de nos andarem a roubar o futuro. 

Uma das piadas mais populares do cartoonista espanhol Miguel Gila era a de um tipo mal-encarado que na rua apunhalava com determinação um desgraçado que berrava. Um transeunte, ao ver a cena grita para o agressor: “Homem, pare, não o apunhale mais!” E o outro responde: “Então ele que deixe de me chamar assassino!”

Também acontece com estes políticos e gentes de responsabilidade pública que, apanhados nas teias da corrupção, utilizam todos os eufemismos para se distinguirem dos intrujões e se indignarem com quem à passagem lhes grita “vigaristas!”, faltando-lhes ao sacrossanto respeito. Por favor, mais educação ao insultar…

Deveriam ter menos susceptibilidade indignada e mais respeito pelos direitos dos cidadãos, menos avidez pelo valor em depósito bancário e mais consideração pelos valores democráticos.

Como diz Fernando Savater, não podem ser madames de bordel e chamarem-se Dona Virtudes. 

Por isso, numa questão de legítima defesa e enquanto não chega – mas acabará por vir – a esperada regeneração democrática que todos ambicionamos e que tem de assentar numa prévia e imprescindível regeneração moral, e em inglês, que é o idioma em que se confessam os que de tudo têm feito para nos pôr de tanga, canga e açaime, meus caros… fuck you all. 

Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras

A minha irmã vendeu a TAP


A cada oportunidade olhemo-los de frente, e no exercício da nossa palavra ou no acto de votar, em cada passo, afastemo-los mais para o lado.


Não conheço a idade mental do irmão da secretária de Estado do Tesouro, Isabel Castelo Branco, que horas após o anúncio da privatização da companhia aérea publicava no Facebook a foto da mana com uma legenda em inglês que informava: “ My sister selling TAP”. Pondo de parte a possibilidade de algum atraso funcional, a frase revela uma pertinente sagacidade comercial e é todo um manifesto sobre quem gere o pedaço.

O nível da arrogância nela implícita, para além de bacoco, só é comparável com a imortal “pai, já sou ministro” e revela como para uma casta, Portugal, o Estado e os bens públicos são assunto seu, a sua herdade, Cosa Nostra. 
Esta privatização e o papel que nela jogaram António Vitorino pelos vencedores e Marques Mendes, desta vez, pelos derrotados, deixam claro, uma vez mais, a verdadeira razão e o cinismo que antecedem a semanal metamorfose destes lobistas de privados interesses em desinteressados comentadores políticos, empenhados defensores do interesse público. 

Jorge Coelho, Lobo Xavier, Morais Sarmento, Marques Mendes, Santana Lopes, António Vitorino ou José Luís Arnaut, secundados por uma legião de menores, estão mais preocupados com o património de que com a pátria.
A sua presença nos canais de televisão serve para disfarçar a defesa de opções económicas e a implementação de quadros jurídicos e fiscais que beneficiem ou dêem vantagem aos clientes dos seus escritórios de advogados ou dos grupos empresariais que representam.

Em paralelo fabricam lógicas políticas que, sob uma retórica protegida de contestação, e em horário nobre, estabelecem os imaginários populares necessários à sua legitimação pública. 

Todos sabem isso, dirigentes políticos e responsáveis de informação, mas todos aceitam e beneficiam com o jogo. Cabe–nos a nós não sermos passivos consumidores da charlatanice de mercado elevada a filosofia política.

Desde 2011, só as privatizações da ANA, TAP, EDP, Fidelidade, CTT e REN envolveram um montante global superior a 8 mil milhões de euros, em que estiveram envolvidos seis escritórios de advogados, de onde fazem parte muitos dos políticos-comentadores. 

Eles são os verdadeiros anti-sistema. Foram eles que foram destruindo o sistema por dentro, fragilizando as instituições e abastardando a legalidade que diziam defender. Andaram a dinamitar o sistema por dentro em benefício próprio.

Destruíram-no, ano após ano, pacientemente, em cada caso de corrupção, em cada familiar instalado, em cada tráfico de influências, em cada fortuna inexplicável, em cada pública incompetência, em cada lei por medida. 

Foram eles os do arco da governação que, com o seu exemplo e práticas, espalharam a desesperança social, o desastre económico e levaram a nação ao abismo. 

A resposta é o aprofundamento da democracia e uma mais activa participação cívica. A cada oportunidade olhemo-los de frente, e no exercício da nossa palavra ou no acto de votar, em cada passo, afastemo-los mais para o lado.

Por muito ofendidos que se sintam, não alcançam o insulto de nos andarem a roubar o futuro. 

Uma das piadas mais populares do cartoonista espanhol Miguel Gila era a de um tipo mal-encarado que na rua apunhalava com determinação um desgraçado que berrava. Um transeunte, ao ver a cena grita para o agressor: “Homem, pare, não o apunhale mais!” E o outro responde: “Então ele que deixe de me chamar assassino!”

Também acontece com estes políticos e gentes de responsabilidade pública que, apanhados nas teias da corrupção, utilizam todos os eufemismos para se distinguirem dos intrujões e se indignarem com quem à passagem lhes grita “vigaristas!”, faltando-lhes ao sacrossanto respeito. Por favor, mais educação ao insultar…

Deveriam ter menos susceptibilidade indignada e mais respeito pelos direitos dos cidadãos, menos avidez pelo valor em depósito bancário e mais consideração pelos valores democráticos.

Como diz Fernando Savater, não podem ser madames de bordel e chamarem-se Dona Virtudes. 

Por isso, numa questão de legítima defesa e enquanto não chega – mas acabará por vir – a esperada regeneração democrática que todos ambicionamos e que tem de assentar numa prévia e imprescindível regeneração moral, e em inglês, que é o idioma em que se confessam os que de tudo têm feito para nos pôr de tanga, canga e açaime, meus caros… fuck you all. 

Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras