Conhecer e dar a conhecer novas culturas e povos, explorar, viajar e partilhar as experiências: é esta a promessa da Nomad caso embarque numa viagem de aventura. Não esteja à espera de umas férias de descanso ou de luxo, mas sim de interacção com a população local. Com oito anos de existência, a Nomad é conhecida pelos seus destinos “pouco comuns” e pelas suas actividades “improváveis”.
Por isso, é fácil de compreender porque encontra destinos como Irão, Butão, Camboja, China, Índia, Indonésia, Malásia, Mongólia, Nepal, Tailândia, Tibete e Vietname.
“Respeitamos todos os gostos, queremos eliminar palavras como exótico ou medo. Viajámos, por exemplo, para o Irão quando mais ninguém ia e viajamos para lá há cerca de cinco anos. Na altura havia quem pensasse que era um país só de terroristas. Começámos a ir e a mostrar que as pessoas não têm nada a ver com o regime. Escolhemos alojamentos nas cidades, junto às zonas históricas, e conseguimos pôr as pessoas, sabendo que estão de férias, a ter uma experiência de viagem para que cheguem ao fim com um sentimento de que fizeram algo construtivo”, confessa um dos fundadores da Nomad, Tiago Costa.
Filipe M. Gomes
Os grupos são limitados e contam em média com dez a 12 pessoas por viagem. E grande parte dos programas esgotam com meio ano de antecedência.
“Não somos uma agência de viagens para elites, mas cada expedição é feita com muito empenho, muita paixão e dedicação. Somos uma agência constituída por pessoas que são apaixonadas por fazer isto”, salienta o responsável. Neste momento, a agência faz dezenas de viagens por ano e conta com uma média de 700 viajantes anuais.
Tiago Costa admite que hoje em dia os portugueses já olham para estas expedições com naturalidade. “Há dez anos achavam que eram viagens para pessoas que não batiam bem da cabeça. Hoje não, já não é esquisito ir para a Mongólia e dormir numa tenda nómada.”
O público é muito diferente, com idades entre os 28 e os 65 anos, mas com um estilo dominante: “São pessoas curiosas, procuram mais conhecimento, mais experiências, e não querem ir de férias para ficar de barriga para o ar.”
As viagens, por norma, não contam com o voo porque a agência considera que os viajantes poderão encontrar uma viagem de avião mais barata nos motores de busca; mas, se for necessário, também marca. Há menos de três anos, a Nomad lançou um programa de recrutamento de líderes de viagem. Foram enviadas mais de três mil candidaturas, mas só foram contratadas quatro pessoas, num processo de selecção que demorou dois anos.
“Fizemos tudo com muita cautela. Demos preferência a pessoas que eram muito apaixonadas por este estilo de vida e que pudessem desenvolver esta função de forma profissional. Trabalhar na Nomad é uma profissão e um estilo de vida.”
Emprego de sonho
Escolher uma profissão ou um modo de vida pouco tradicional é sempre alvo de julgamento, admite um dos líderes, Inácio Rozeira, mas reconhece que passado sete anos essa ideia já se desvaneceu, apesar de garantir que ainda continua a ser olhado como fazendo parte de “um grupo de pessoas que tentou quebrar com uma rotina instalada e que pode ser observado como vivendo à margem da sociedade.
Viver trabalhando em viagens não é uma profissão tradicional e implica, não raras vezes, que tenhamos de fazer opções importantes na nossa vida. Escolhi viver de um sonho e abdiquei de uma casa com piscina”, diz, acrescentando:
“A minha vida pessoal respira Nomad, e isto não é um modo de vida que eu escolhi, é uma consequência de um percurso.” Está na Nomad desde 2008 e quer continuar a viajar, descobrir novos destinos, novas maneiras de viajar e ter a oportunidade de o partilhar com os outros.
Carla Mota
Eduardo Gomes Madeira tem 27 anos e está na Nomad há um ano. Cruzou-se com a agência pela primeira vez na Bolívia e, na altura, estava há sete meses a viajar pela América Latina. Meses mais tarde, acabou por integrar a equipa.
“Um líder Nomad é um apaixonado por culturas distantes, por paisagens intocáveis. É alguém que procura deixar uma marca positiva por onde passa. É também alguém que gosta de partilhar; afinal, viajar é também estar com quem nos cruzamos na estrada. Ser líder é ser um viajante na verdadeira essência da palavra.”
Mas admite que isso implica “passar mais de metade do ano no outro lado do mundo, implica não estarmos sempre perto daqueles que realmente amamos. Faltar ao aniversário da mãe, perder o casamento do melhor amigo, faltar aos almoços de família, não estar com um amigo que está a passar um mau bocado. Perder momentos destes é emocionalmente difícil. Por outro lado, ajuda-nos a valorizar ainda mais os nossos amigos e a nossa família. E quando regressamos a casa, acabamos por compensar essa falta”.
Paixão versus gestão
Ter só a paixão das viagens não conta. É necessário que os líderes sejam também gestores de equipas. “Além de lidar com a componente operacional de uma viagem em destinos remotos, com estruturas sociais diferentes das nossas, acabamos também por ter de gerir um grupo de pessoas com gostos comuns mas que não se conhecem, e também muitas vezes expectativas e posturas diferentes. Reservar uma viagem-aventura sentado no conforto do sofá é um conceito aliciante, à distância, mas concretizá-la implica espírito de aventura também, incluindo uma certa dose de tolerância e jogo de cintura para conviver com os parceiros de viagem”, revela António Luís Campos.
O líder garante que este é um dos trabalhos mais aliciantes do mundo.
“Conhecer pessoas novas numa base regular, ajudar a concretizar viagens de sonho, ser parte dessa materialização e, em cima do bolo, crescer com as viagens que fazemos é um cocktail profissional difícil de igualar”, mas alerta.
“Como em tudo na vida, gostamos do que não temos. Alturas há em que passar meses de malas aviadas deixa a sua marca. Por vezes, em destinos longínquos, sob stress, com algumas surpresas, um cantinho algures na civilização parece aliciante. Mas rapidamente nos passa, assim que cruzamos a próxima esquina e entramos numa nova experiência que nos faz sorrir.”