Lisboa Mistura. O mundo inteiro ao largo da cidade

Lisboa Mistura. O mundo inteiro ao largo da cidade


Regressa o encontro multicultural ao Intendente, em Lisboa, de hoje a domingo. Estivemos no ensaio geral do espectáculo de abertura.


Qualquer acontecimento merece um café antecipado. Seja um terramoto, um regresso a casa, uma ida ao cinema ou um ensaio geral de um espectáculo de abertura de um festival. Sobretudo este último, que ainda tem melhor efeito se estivermos pelo Largo do Intendente, onde nos infiltrámos numa esplanada repleta de gente com instrumentos e bagagem especializada para o evento. Tudo preparado para a festa que hoje começa. Concertos, cozinhas do mundo, oficinas de artes e debates. Tudo a acontecer, juntando culturas e etnias, e nós por lá. 

Uma vez que no Largo do Intendente, onde de hoje a domingo decorre o Lisboa Mistura, o palco ainda está a ser montado, o ensaio a que assistimos terá de decorrer noutras paragens, não muito longínquas. São essas pessoas e os instrumentos que carregam que nos servem de guias para a tal nova morada. Uma cruzamento e dois becos depois estamos na Rua Maria onde, à porta, os músicos vão animando quem se atreve a passar sem simular um ritmo, nem que seja a estalar os dedos. A descontracção a que aqui assistimos, entre cigarros e acordes, é apenas uma pequena amostra do que encontraremos lá dentro. Aqui vamos nós. 

A sala de ensaio improvisada deste espectáculo é um antigo supermercado, como se pode perceber pelas paredes, que vão guardando algumas pistas desse passado recente – os músicos não parecem importados. Num dos recantos, que se tivéssemos de apostar diríamos que já pertenceu aos legumes, os Nice Groove, banda convidada para a flashmob que vai abrir o festival, acerta e afina o movimento, mão para cima e para baixo, pulsos no sítio certo para que nada disto destoe do restante. No canto oposto, os elementos da Farra Fanfarra, outra das formações convidadas – e claramente a mais excêntrica das que por aqui se encontram –, vão fazendo dos seus instrumentos de sopro uma de relaxamento antes do arranque dos trabalhos. 

Percursos Nascido há nove anos e dez edições, este Lisboa Mistura está há dois anos no Intendente, largando as salas que percorria, nem sempre acessíveis a todos. A mistura ao ar livre é mais natural, e esta flashmob que marca o início de tudo, hoje às 21h30, assenta no cenário com todas as medidas. Carlos Martins, programador do festival, confessa-nos: “Isto é coisa para muita gente.” “De há dois anos para cá que achámos que começava a estar em falta a presença de músicos portugueses. Como não estamos com meias-medidas, decidimos convidar 40 de uma vez. Nesse sentido resolvemos fazer uma flashmob mais orgânica, com uma série de ingredientes como, por exemplo, o uso das janelas do Largo do Intendente, mas não quero revelar muito mais, será uma surpresa, as pessoas têm de vir ver.”

De volta ao ex-supermercado, os músicos param por momentos as afinações e eventuais devaneios. Ordens de Carlos Martins, que pede a formação imediata dos músicos e um pouco do que antes não nos quis revelar. Tentamos fazer o contrário do que nos pedem sem infringir a lei, contamos ao leitor um pouco do que conseguimos vislumbrar. 

Mochilas e sacos de plástico para o lado – sim, que a coisa está cara – e, frente a frente, os Nice Groove e a Farra Fanfarra dão início à flashmob. Depressa entendemos que não estamos a ver tudo, mas que este início se assemelha a uma troca de galhardetes em forma de notas e composições musicais. Chutam de um lado, chutam do outro, até que entram as bailarinas, ninfas desafiadoras do porto seguro do músicos, sempre acostumados a estar junto dos seus comparsas e agarrados ao seu brinquedo favorito. O grupo da bailarina e coreógrafa Marta Dias é mais um a misturar-se entre a maralha – neste caso, a acrescentar dinâmica, a promover a dança entre o labirinto dos músicos e a sedução, mesmo que a banda, ainda assim, não possa falhar. 

E ficamos por aqui. Talvez seja melhor cumprir o pedido de Carlos Martins e não divulgar muito mais. Apenas por uma questão de respeito mútuo e, como aqui se prova, por o Lisboa Mistura apresentar a virtude de ter antevisto o que o Largo do Intendente hoje representa para a capital. “Há nove anos, quando fizemos a primeira edição, o José Luís Peixoto escreveu uma carta ao presidente da Câmara de Lisboa, a perguntar se já tinha ido ao Intendente, um rap que o Carlão e o Branko trabalharam. Dez anos depois, o ex-presidente António Costa viveu no Intendente. Nós previmos esta possibilidade e criámos também esta abertura espiritual em relação ao local.” Só por isso, merece um agradecimento. O resto prossegue hoje. 

Programação completa em www.sonsdalusofonia.com