Adeus África, a história do soldado esquecido

Adeus África, a história do soldado esquecido


O livro fala de temas polémicos e dos quais “ninguém quer falar” como “os bombardeamentos com Napalm ou as violações”.


O livro “Adeus África” é uma “ficção com visão histórica” da realidade da Guerra Colonial portuguesa, que junta “realismo, violência e romance”, disse o autor João Céu e Silva.

“A Guerra Colonial portuguesa tem segredos bem guardados”, sobre os quais “nem um lado nem outro quer falar, cada um pela sua razão (…) os portugueses porque vieram com stresses pós-traumáticos e não querem tocar nos assuntos”, salientou o historiador e jornalista que lança hoje a sua nova obra de ficção.

Esta surge após “muitas conversas tidas por todo o país com militares, ex-combatentes em África, e muita investigação”, salientou, acrescentando que estes contactos “fizeram nascer um personagem para um romance que falasse das realidades da Guerra Colonial portuguesa”, em que há muito para contar.

Entre os principais assuntos abordados no livro estão temas polémicos e dos quais “ninguém quer falar” como “os bombardeamentos com Napalm, e foram muitos (…) e violentos, que mataram milhares de pessoas”, ou as violações: “os militares violaram lá muitas africanas”, salientou.

Segundo o autor, “cada um tem a sua própria visão da Guerra e não aceita mudá-la nem que alguém lhes diga que as coisas não são bem assim”, porque cada qual quer ficar com a sua própria Guerra Colonial.

Apesar de se tratar de uma obra de ficção, João Céu e Silva disse que o objetivo é “dar algum contributo para fixar a visão histórica dessa Guerra”. “Essa era a minha obrigação [como historiador]”, sublinhou.

“Enquanto os americanos falam muito da Guerra do Vietname, e vendem-na, nós, à nossa escala, temos uma guerra comparável à dos Estados Unidos da América e envergonhamo-nos dela”, comparou o historiador.

O livro conta a história de um soldado que vai combater para Africa. Um exímio atirador escolhido pelas chefias para cumprir a missão de franco-atirador.

Na altura da descolonização, o soldado recusa-se a voltar para Portugal, por considerar que tal seria desonroso – “pois este também tem a sua própria visão da Guerra”.

Ao decidir ficar, o militar “vai esconder-se numa mina” acabando por ser esquecido. Porém, ao fim de 11 anos o protagonista é encontrado e tem que voltar a Portugal, onde recebe tratamento psiquiátrico.

É através deste relacionamento, médico-paciente, que Afonso “põe cá fora todas as memórias da guerra” e que a história será contada. “Toda a história é sempre relatada [tendo em conta] o lado humano”, frisou.

João Céu e Silva nasceu em Alpiarça em 1959, formou-se em História no Brasil, onde viveu, e é jornalista do Diário de Notícias desde 1989.

Em 2013 recebeu o prémio Alves Redol com a obra de ficção "A Sereia Muçulmana".

Entre os livros publicados, encontram-se obras de investigação literária, como a série "Uma Longa Viagem Com" José Saramago, António Lobo Antunes, Manuel Alegre, Álvaro Cunhal e Miguel Torga, e de investigação histórica: “1961 – O Ano Que Mudou Portugal” e “1975 – O Ano do Furacão Revolucionário”.

Lusa