Raridade. China e EUA poderão fazer exercícios militares conjuntos em 2016

Raridade. China e EUA poderão fazer exercícios militares conjuntos em 2016


Acordo assinado entre general Carter e general Changlong implementa “código de conduta”.


A notícia passou ao lado dos grandes media ocidentais, mas outros, como o site russo RTe o jornal australiano “Sydney Morning Herald” (SMH) deram-na com alguma pompa e circunstância. A poucas semanas de os Estados Unidos darem início a exercícios militares conjuntos com a Austrália e o Japão para contrariar a expansão territorial de Pequim no mar do Sul da China – onde o regime tem construído várias ilhas artificiais a albergar bases militares para manter o seu poderio regional –, foi ontem avançado que Washington e Pequim alcançaram um acordo que põe em prática um “código de conduta militar”para evitar “erros e acidentes” quando estiverem próximos aparelhos das duas forças aéreas.

Segundo o RT, o acordo prevê exercícios militares conjuntos dos arqui-rivais, que poderão acontecer já em 2016. Essa informação foi replicada pelo “Sydney Morning Herald” citando Guan Yourfei, do Gabinete de Assuntos Externos do Ministério da Defesa da China. O responsável disse ao estatal “China Daily” que parte do acordo assinado na sexta-feira entre o general Ashton Carter, chefe supremo das forças armadas norte-americanas, e o general Fan Changlong, vice-presidente da Comissão Central Militar chinesa, prevê exercícios militares conjuntos “para garantir que os termos [do novo código de conduta militar] são implementados correctamente”.

Na notícia do RT são citadas parcerias sino-americanas nas áreas de resposta a desastres naturais, na manutenção da paz e em operações de contrapirataria. O encontro entre os dois chefes militares no final da semana passada, em Washington, centrou-se na assinatura do código de conduta revelado por Yourfei.

Na notícia do “SMH”, assinada por John Ruwitch com a agência Reuters, o Ministério da Defesa chinês também é citado como tendo comunicado ao website estatal China.org.cn que Pequim espera que o recente diálogo com os Estados Unidos “abra um novo canal de comunicação para os líderes dos dois exércitos com o objectivo de discutirem assuntos que preocupam ambos”, como é o caso das “práticas de resposta a desastres naturais e catástrofes humanitárias”, disse o oficial.

Para já, as novas directivas delineadas por Carter e Changlong dizem respeito apenas aos “encontros ar-ar” de aparelhos aéreos das duas forças armadas, para evitar maus cálculos quando Pequim e Washington estiverem a operar nas proximidades um do outro, avançou o mesmo site chinês citado pelo “SMH”. A confirmar-se a veracidade das notícias, é o primeiro documento militar de que há memória assinado entre os EUA e a China.

Nos encontros de quinta e sexta-feira na capital americana, os representantes dos dois exércitos comprometeram-se a continuar a expandir os contactos militares bilaterais, mas os Estados Unidos não perderam a oportunidade de exigir a Pequim que suspenda a construção das ilhas artificiais no mar do Sul da China. Estas reuniões, raras no contexto das relações sino–americanas, aconteceram duas semanas depois de Pequim ter avisado os Estados Unidos contra a sua intromissão nos “assuntos de soberania chinesa”, dizendo que “a guerra será inevitável” se o país mantiver os exercícios militares conjuntos com países da região no mar do Sul da China. 

A 27 de Maio, a BBC divulgou um documento confidencial chinês em que a Marinha recebe ordens de se concentrar “em mar aberto” e as áreas de “importância crítica” da China são revistas. Nele referem-se como novas prioridades militares de Pequim a protecção do mar do Sul da China, a exploração do espaço, as aspirações nucleares e a criação de uma “ciberforça” para fazer frente às “graves ameaças de segurança” que o país enfrenta na web. 

Essa notícia surgiu uma semana depois de um alto cargo do Pentágono ter avançado que os EUA vão estacionar bombardeiros B1 e outros aparelhos de guerra na Austrália – uma pretensão que Camberra desmentiu mas que não está fora dos planos dos aliados, que, em Julho, levam a cabo os primeiros exercícios militares na região em conjunto com o Japão.