Dalí vai estar no Colombo a partir desta semana

Dalí vai estar no Colombo a partir desta semana


Exposição “A Divina Comédia” reúne cem gravuras do artista.


A exposição “A Divina Comédia”, de Salvador Dalí, que reúne cem gravuras do artista, inspiradas na obra literária de Dante Alighieri, é inaugurada na quarta-feira, no centro comercial Colombo, em Lisboa.

“Esta série é um marco muito importante na arte de Salvador Dalí, reagrupando diferentes aspectos da sua busca estilística, desde a ‘estética mole’ até à curiosidade pelos mitos clássicos, passando pelo interesse nas silhuetas de Miguel Ângelo e ainda o gosto pelas gravuras circulares dinâmicas”, disse à Lusa fonte da organização.

“Esta exposição é uma verdadeira antologia cromática que vai do traço frágil e ondulado ao uso plástico da cor”, acrescentou a mesma fonte.

Na origem das gravuras que constituem a exposição, está uma encomenda ao pintor espanhol, do Governo italiano, para ilustrar “A divina comédia”, no âmbito das comemorações, em 1965, dos 700 anos do nascimento do poeta.

“Na altura, a encomenda causou polémica e os críticos questionaram porque é que tinha sido um artista espanhol a ser escolhido para ilustrar o celebre livro do autor italiano, e o contrato acabou por ser anulado”, contou à Lusa fonte da organização.

Todavia, Dali interessara-se já pela figura de Dante Alighieri (1265-1321) e pela importância da obra no contexto da cultura ocidental, e continuou a trabalhar na ilustração.

“Este trabalho constituiu uma jornada através das conhecidas formas de expressão do mestre espanhol – o símbolo, a alusão, o exotismo, a magia e a alegoria habitam uma obra independente, que vai para além daquilo que o nosso imaginário concebe da obra literária”, afirmou a mesma fonte.

Entre 1950 e 1959, em Paris, Dalí trabalhou com os mestres gravadores Raymond Jacques e Jean Taricco, na realização da série composta por 100 gravuras a cores, que publicou em 1960.

A publicação desta série coincide com um “período, em que Salvador Dalí reflectia activamente sobre a ‘praxis’ artística e a sua relação com a literatura e as teorias filosóficas e históricas”.

O pintor espanhol seguiu a estrutura do livro, tendo organizado as ilustrações em três áreas, que remetem para a viagem de Dante Alighieri: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso.

No tocante à última etapa da viagem de Dante, o Paraíso, “é possível identificar traços da fase mística de Dalí, com imagens mais calmas, serenas e equilibradas”.

“É nas 33 gravuras dedicadas ao Paraíso que a paixão de Salvador Dalí por Gala, musa e modelo inspirador da sua expressão artística, surge mais intensamente, acabando Beatriz – personagem da obra literária pela qual Dante Alighieri nutre um amor platónico – por receber os contornos faciais e a silhueta, claramente reconhecíveis de Gala, que foi mulher de Salvador Dalí”, rematou a mesma fonte.

Salvador Dalí (1904-1989) com esta série de gravuras, passou a fazer parte da lista dos artistas plásticos cuja obra de Dante fascinou e inspirou criações artísticas, como Sandro Botticelli, William Blake, Arnold Böcklin e Gustave Doré, entre outros.

Lusa