Pois é verdade. Acreditem em tudo o que lêem e ouvem e verão que é muito provável que seja mentira. Contradições de um colunista distraído? Nem por isso. Só há uma forma de tomarmos conhecimento de muito do que se diz e se faz no nosso país. E a forma em causa pode até não ser a mais apropriada mas é a que é e, perante factos, …
Os meios de comunicação social, ou melhor, os jornalistas, são a última fronteira entre a liberdade e as ditaduras dos mais variados géneros. As ditaduras política, económica, judicial, militar e outras mais obscuras, de que muitos falamos em surdina, mas das quais não temos coragem para falar às claras, são os óbices ao desenvolvimento da democracia em todos os seus sentidos.
Mas se é verdade que os jornalistas são ou deveriam ser a nossa última defesa (quando digo nossa, falo dos cidadãos em geral e mais em particular daqueles que não fazem parte dos sistemas de poder que dirigem, mais ou menos legitimamente os países), o pequeno número de jornalistas por redacção, a diminuição de receitas de publicidade (nos casos dos jornais, da rádio e da televisão), de vendas em banca e de assinaturas (no caso dos jornais e revistas), a concorrência, que quase leva a dizer que há mais jornais que leitores, os fenómenos como o clipping que não paga direitos aos meios e aos jornalistas, como a ainda pouco madura presença dos meios on-line, que leva a que as assinaturas destes seja gratuita – em muitos casos – faz com que os patrões de imprensa paguem pouco aos jornalistas, o que quer dizer que recorrem a meia dúzia de bons e consagrados para garantir audiência mas recorrem a uma larga maioria de recém saídos das escolas de comunicação social que, por mais força de vontade que tenham ainda não são “rodados” para contornar os vários vícios de uma democracia que, claramente suplantam as virtudes que este que é o melhor de todos os maus sistemas deveria ter.
E dou apenas um exemplo dos vícios da democracia. Uma grande e bem conduzida entrevista a Pinto Monteiro, ex-procurador geral da república, feita por dois bons jornalistas, mostra bem que algumas “figuras da democracia” não têm noção de que “se a palavra é de prata o silêncio é de ouro!” Pinto Monteiro fala das fugas ao segredo de justiça, diz que “… é mau para os dois lados.” quando a política e a justiça querem interferir uma na outra, pergunta como é que um semanário soube das investigações a José Sócrates, diz que “as escutas estão ao serviço dos jornalistas” e mais meia dúzia de frases, sound bites interessantes, com os quais todos concordamos.
Vulgares verdades do Senhor de La Palisse. Mas ficam no ar duas perguntas: o ex-procurador pode dizer que “estive lá seis anos, lembro-me de haver uma vez que se apurou…” (um fuga ou quem a fez, fica por esclarecer) “… e não deu em nada, já não sei porquê…”? O ex-procurador não tem vergonha? A entrevista de Pinto Monteiro é dada por alguém que se julga acima de todos os cidadãos. Alguém que se crê com poder e que apaga da sua história de vida, como se pudesse apagar das nossas memórias, aquilo de mal fez.
Acredita, sinceramente, estar acima de todas as suspeitas e de todas as críticas. Não vê as redes sociais, não sente os portugueses, pois tem a sua reforma garantida e, como sabe muito, tem consciência plena de que ninguém de relevo o incomodará. Eu, que sou um adepto da separação de poderes e um crente na aplicação da lei (que não confundo com a justiça, porque esta tem sempre uma componente moral) digo-vos que é mentira que nada possa ser feito. No limite, faz-se um almoço para falar de livros num qualquer local de Lisboa ou Paris e fica tudo bem.