Vai por aí muita baba e ranho com a venda da TAP. Mais ranho do que baba, diga–se em abono da verdade. Nem dá para acreditar. O Bloco de Esquerda ameaça rasgar as vestes e invadir a Portela para impedir que os aviões privatizados aterrem ou descolem. Os socialistas, que tentaram vender a companhia a uma empresa falida em 2000, salvaram da ruína a PGA da família Espírito Santo à conta da TAP e deixaram que a actual gestão pública fizesse o ruinoso negócio no Brasil, prometem ao povo reverter o negócio com o dinheiro que o Estado saca ao povo de arma na mão.
Prometem depois de andarem a propor a formação de uma grande companhia da lusofonia, com a entrada no capital da empresa de Angola, Timor–Leste, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique e Brasil. Prometem depois de proporem a entrada na bolsa de uma empresa insolvente. Prometem depois de rezarem aos santos para que o comprador só quisesse 49% do capital da TAP.
© Ana Brigida
Feito o negócio com um consórcio liderado por uma empresa portuguesa da área das transportes, políticos, comentadores, comensais habituais do Orçamento do Estado e recentes especialistas em transportes aéreos atiram-se ao governo por ter vendido a empresa por 10 milhões de euros, metade do que Jorge Jesus vai receber no Sporting.
Verdadeiramente, já não há vergonha na cara. Sorte para todos os desgraçados contribuintes foi haver quem comprasse uma companhia com dois mil milhões de euros de dívida, capital próprio negativo, um negócio ruinoso no Brasil e uma dúzia de sindicatos que fizeram gato-sapato da companhia em 40 anos de democracia, com sucessivas chantagens a governos medrosos que davam tudo e m troca de uma paz social podre.
Como fizeram os socialistas Guterres e Cravinho quando, em 1999, prometeram aos pilotos da companhia 20% do capital da empresa quando fosse privatizada. Na habitual megalomania lusa, houve tempos em que os especialistas em tudo e coisa nenhuma atiravam para os jornais notícias sobre o interesse de uma Iberia, de uma Lufthansa, de uma Air France na empresa portuguesa. Tudo falso, balões para o ar para enganar o pagode.
Tivemos a Avianca e a Blue e viva o velho. Adeus TAP, e não voltes mesmo se os socialistas chegarem ao poder para desgraça dos bolsos dos contribuintes. Os reaccionários saudosistas do grande império, que viam na TAP o seu último destroço, podem agora recuperar o salazarento “Angola é Nossa” dos anos 60, adaptá-lo à companhia e irem para a rua fazer umas marchinhas populares muito choramingas, regadas a tintol e sardinha assada, para animar as almas tão sofridas com a venda da companhia.
A letra é linda de morrer e, claro, muito patriótica. Devidamente adaptada, vai fazer chorar as pedrinhas da calçada: “Povo heróico português, num esforço estóico outra vez tens de lutar, vencer, esmagar a vil traição! Pra triunfar valor te dá o teres razão. A TAP é nossa – gritarei.” A solista pode ser Catarina Martins, a tal que promete ir até às últimas consequências; o tenor, António Costa, que todos os dias inventa uma solução para a companhia; e Jerónimo de Sousa, o barítono, que perde mais uns aliados para greves e grevinhas. Os dirigentes dos 12 sindicatos da companhia e da comissão de trabalhadores vão estar perfeitos no papel de carpideiras de serviço. Vai ser um sucesso.