Nico Hülkenberg chegou à Fórmula 1 com 22 anos. Estreou-se no Grande Prémio do Bahrain em 2010 pela Williams e terminou no 14.o lugar. Nos últimos anos tornou-se um dos pilotos frequentes do Grande Circo, mas ainda não conseguiu terminar no pódio uma única vez, num total de 83 corridas em que participou. Seja na Sauber ou na Force India, o mais alto que atingiu foi o quarto posto, uma vez naBélgica em 2012 e outra na Coreia do Sul em 2013.
Nico Hülkenberg chegou às 24 Horas de Le Mans com 27 anos, em 2015. E ganhou à primeira oportunidade. No carro #19 da Porsche, o alemão fez equipa com o neozelandês Earl Bamber e o britânico Nick Tandy, e fez história. Por todas as razões (individuais) e mais algumas (colectivas). Desde logo, foi o primeiro piloto no activo na Fórmula 1 a correr a prova de resistência desde o francês Sébastien Bourdais em 2009. Depois, foi o primeiro nessas condições a ganhar desde 1991, altura em que o Mazda que tinha Johnny Herbert e Bertrand Gachot venceu a corrida. Da equipa, o único que não estava na Fórmula 1 era o alemão Volker Weidler.
Para a Porsche também foi um momento único. A marca alemã não vencia desde 1998, mas surgiu no circuito de La Sarthe a demonstrar que teria uma palavra muito forte a dizer. Numa primeira fase foi o carro #17 de Bernhard, Webber e Hartley a dominar – 97 voltas na frente nas primeiras oito horas e meia de corrida –, mas a partir daí as atenções viraram-se para o número 19, que assumiu a liderança definitivamente às 6h27 da manhã (hora local). Os problemas que se fizeram sentir nos carros da Audi permitiram ainda que a Porsche fizesse a dobradinha.
No final, o discurso era naturalmente feliz. “Tivemos uma corrida incrível. Tínhamos o ritmo certo para vencer e a temperatura baixa de manhã foi favorável para o nosso carro”, explicou Nick Tandy, enquanto Earl Bamber confessou que vencer em Le Mans ultrapassa qualquer sonho que já tenha tido. Nico Hülkenberg realçou a modéstia da Porsche, lembrando que o primeiro objectivo era ter o carro no pódio, “mas uma dobradinha é fantástica”. “Estou muito orgulhoso por aquilo que conseguimos alcançar. Tivemos uma corrida irrepreensível, impusemos um grande ritmo e não cometemos nenhum erro. Estou muito feliz”, justificou.
prendas e azares O português Filipe Albuquerque foi um dos destaques nos carros da Audi. O piloto fez finalmente a estreia em Le Mans – depois de em 2014 o carro ter desistido antes do seu primeiro turno – e esteve a bom nível. No sábado, em dia de 30.o aniversário, impôs um ritmo forte, estabeleceu por duas vezes o recorde de volta mais rápida em corrida e rodou na liderança ainda antes do jantar. “Estava com um andamento fenomenal e consegui tirar partido disso”, explicou.
O bom momento não durou para sempre. A meio da manhã de domingo, o Audi #9 passou por problemas no motor híbrido, foi obrigado a parar muito tempo nas boxes e perdeu qualquer oportunidade de terminar num lugar de pódio. No final, o sétimo lugar a oito voltas do líder teve um sabor agridoce para a tripla composta ainda por Marco Bonanomi e René Rast. “É um sentimento dúbio. Por um lado, feliz, porque acho que fiz um excelente trabalho, assim como os meus companheiros de equipa. Demos o nosso melhor, estivemos nos lugares da frente e entre os mais rápidos. E isso é um orgulho. Por outro, a tristeza de ver todo o trabalho deitado por terra nas últimas horas com problemas que são alheios aos pilotos, mas frequentes numa prova com estas características. O factor sorte não esteve do nosso lado, mas isso não tira mérito ao que conseguimos fazer”, justificou Filipe Albuquerque, estabelecendo desde logo uma promessa: “O primeiro lugar chegará certamente, a seu tempo.”
A Audi falhou a sexta vitória consecutiva em Le Mans, mas o fracasso foi atenuado pelo lugar no pódio do carro #7, pilotado por André Lotterer, Marcel Fässler e Benoît Tréluyer.
Outros portugueses Filipe Albuquerque não foi o único azarado. Na categoria LMGTE Am, a equipa de Pedro Lamy liderava já dentro da última hora quando o patrão, Paul Dalla Lana, se despistou e hipotecou qualquer hipótese de terminar. “Não há muito a dizer. A estratégia funcionou muito bem, conseguimos estar sempre na luta pela vitória e o carro esteve sempre muito competitivo, mas infelizmente o Paul teve uma saída de pista”, explicou. De resto, a equipa de Tiago Monteiro não acabou classificada, a de João Barbosa foi penúltima em LMP2 (32.a da geral) e a de Rui Águas foi quarta em GTE-Am.