Na próxima sexta-feira Filipe de Espanha vai ter razões para celebrar: marca-se o primeiro ano do seu reinado, depois de ter sucedido ao pai no trono a 19 de Junho de 2014. Quando isso aconteceu, muitos analistas espanhóis leram na sucessão mais do que a velhice de Juan Carlos, que o levou a abdicar do trono para o filho varão, uma tentativa de pôr ordem na casa real, depois de uma sucessão de escândalos a envolver o seu pai – que foi caçar elefantes com a amante com dinheiro dos contribuintes – e o seu genro, Iñaki Urdangarin, ainda envolvido num processo judicial por desvio de fundos públicos e evasão fiscal na Fundação Noos, da qual a sua mulher, a infanta Cristina, é sócia. E mesmo sem ainda ter completado um ano de reinado, foi isso que Filipe VI, rei de Espanha, decidiu fazer ontem – ordenar ainda mais a casa, retirando à irmã mais nova o título de duquesa de Palma de Maiorca.
Diz o advogado da princesa que foi a própria a pedir a Filipe que lhe retirasse o título, pelo facto de já ter sido chamada a depôr no caso judicial contra o marido e de continuar sob investigação pelas autoridades de Palma de Maiorca por suspeitas de cumplicidade nos crimes. Mas assim que essa declaração pública foi feita, foi a própria casa real a garantir que o monarca tomou a decisão antes de receber o pedido formal. A fonte oficial do palácio da Zarzuela explicou que a decisão de Filipe foi tomada e comunicada à infanta na quinta-feira e que a carta com o seu pedido, datada de 1 de Junho, só chegou na manhã seguinte.
Ainda como duquesa, Cristina tornou-se o primeiro membro da família real a ser convocado por um tribunal num caso de corrupção desta dimensão em toda a história da realeza espanhola. O decreto real arrumou esse assunto, com o rei a revogar “o direito de Sua Alteza Real, a infanta Cristina, ao uso do título de duquesa”. O título tinha sido conferido à filha mais nova de Juan Carlos e Sofia em 1997 pelo pai. Cristina de Borbón tem 49 anos e é a sexta na actual linha de sucessão ao trono. Após a decisão ter sido publicada no boletim oficial do Estado, o “El Mundo” avançou a possibilidade de Cristina poder vir a renunciar aos seus direitos sucessórios – uma decisão que, ao contrário do título que já não tem, só ela pode tomar.
Corrupção O chamado caso Urdangarin a envolver a infanta e o seu marido remonta a 2011, quando o ex-campeão olímpico de andebol foi acusado de ter aproveitado a sua posição no seio da família real para desviar um total de 6,1 milhões de euros de fundos públicos nas Baleares e em Valência por intermédio da Noos, uma sociedade sem fins lucrativos à qual Urdangarin presidia.
O inquérito a este caso, que continua em curso há quatro anos, levou Cristina a ser chamada a tribunal por suspeitas de ter assumido um papel activo na fraude do marido, ao usar parte desse dinheiro em obras numa das casas de férias da família. A infanta mantém que nunca soube de nada e que sempre confiou no marido ao ponto de assinar tudo o que ele lhe pedia. A acusação exige que paguem 2,6 milhões de euros em indemnizações.