Um último zapping antes de dormir, vamos lá. RTP1, RTP2,SIC, TVI, SIC Notícias, RTP Informação e TVI 24. Aí, alto lá e pára o baile. Toma lá um Chile-Equador, jogo inaugural da Copa América. Faz-me instintivamente recuar a 2011, à (pen)última Copa América. Na Argentina.
Ponto de partida: se vai para a Argentina de Lisboa e tem de fazer escala em Madrid, é como se recuasse no espaço e no tempo. No avião, tudo seria bem melhor se não me tivessem entornado café (quente) nas calças no início de uma viagem de 11 horas e meia. E se não tivesse adormecido depois do jantar a ouvir Lady Gaga.E se não tivesse acordado antes do pequeno-almoço a ouvir Lady Gaga. E se não tivesse passado a última hora e meia de voo a ouvir Lady Gaga. Faz–se uma viagem para avançar no espaço e recuar no tempo (menos cinco horas) a ouvir a única estação de rádio do avião, a de Lady Gaga. Dios mío.
© Natacha Pisarenko/AP
Um carimbo no passaporte e ya esta. Meto-me num táxi. E não me esqueço de um pormenor linguístico. Aqui, na Argentina, o LL tem o valor de J. Calle (rua) lê-se cailhe, mas diz-se cajé. O mesmo para gallinas (gajinas). Pollo (pojo). Portanto, começo bem. É para a Caje 25 de Mayo. São cinco e meia da manhã e a quantidade de carros na estrada é impressionante.
Passamos por uma portagem. Duas. E entramos na capital federal. Só meia hora depois é que chegamos ao centro, ao Obelisco, o enorme monumento com 67 metros de altura. A 25 de Madjo é logo ali, umas quadras para a direita.
O próximo objectivo é receber a credencial da Copa América. É um exercício aparentemente simples. Basta apresentar um comprovativo e recebe-se algo em troca, um cartão plastificado rectangular com o meu nome e a minha cara.
A sala de imprensa está cheia. Sobretudo de brasileiros, de todos os locais possíveis e imagináveis, desde um elemento baiano da rádio de Vitória da Conquista (fiquei desiludido por não haver um de Triunfo dos Três Pontos) até aos catedráticos da Globo, o terceiro canal de televisão mais visto do mundo, mas também os há de Itália (só falam de animais: Pato para aqui, Ganso para ali), da Argentina, da Espanha, da Venezuela, da Bolívia (Dios mío, todos iguais ao Evo Morales).
E a credencial, que tal? Não, eles dizem que não há nada para ninguém. Insisto e eles voltam a negar. Vamos chatear-nos, é? Lá descubro o meu nome na guest list, metido atabalhoadamente entre dois dossiês. E agora, os bilhetes para os jogos? Ay señor, lo siento. Nem entre dossiês? O i acredita-se a tempo e acredita que vai ver os jogos que se propôs, cinco em La Plata mais a final em Buenos Aires. Qual quê, nada feito. A Venezuela, por exemplo, envia 120 jornalistas. De brasileiros, há uns 300. De argentinos, 700. O representante português está no último lugar das prioridades para qualquer jogo, nem que seja um Bolívia-Costa Rica. É a louca realidade da Copa América.
Editor de desporto
Escreve à sexta e ao sábado