Portugal esteve na mira do mundo inteiro em 85, mas não só por ter aderido à CEE. A 21 de Abril, o piloto da Fórmula 1 Ayrton Senna ganhou o Grande Prémio do Estoril, numa altura em que o autódromo ainda integrava a mais importante competição do desporto automóvel. No atletismo, o país também se destacou pelo facto de Carlos Lopes ter vencido o campeonato do mundo de corta-mato, a 24 de Março, e ter estabelecido a melhor marca mundial da maratona, a 20 de Abril, em Roterdão. Nesse ano ainda, a atleta portuguesa Aurora Cunha sagrou-se, pela segunda vez, campeã mundial de estrada.
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O ano também ficará para a história como o do nascimento de Cristiano Ronaldo, a 5 de Fevereiro, na Madeira. O jogador de futebol tem sido uma das personalidades a mais projectar o país além fronteiras, sobretudo depois de ter sido eleito o melhor do mundo em 2008, 2013 e 2014.
A indústria estava a passar por uma das suas maiores crises depois da revolução de Abril © Inacio Rosa/Lusa
Na política, o destaque vai todo para a ascensão de Cavaco Silva dentro do Partido Social Democrata. O ex-ministro das Finanças do governo de Sá Carneiro ascendeu à liderança do partido a 19 de Maio, para depois concorrer e ganhar, com minoria, as legislativas de 6 de Outubro, formando o primeiro de três governos. Às eleições concorreu também um outro partido recém-formado, liderado por Hermíno Martinho, próximo do então presidente da República, Ramalho Eanes, que ao obter 17,92% dos votos acabou por travar a maioria absoluta ao PSD, só alcançada dois anos depois, já depois do desaparecimento dos renovadores democráticos. Cavaco Silva tomou posse a 6 de Novembro, dando início a um ciclo que acabaria por transformá-lo no político que mais tempo esteve no poder em Portugal.
Em 1985, o país atravessava uma grave crise financeira, acentuada pela recessão da economia mundial. A alta inflação, sempre acima dos dois dígitos, era um dos maiores problemas com que os portugueses se defrontavam no seu dia-a-dia, ainda mal refeitos do fim da ditadura e da perda das colónias. Outra situação inédita, a dependência externa e a transferência da soberania para o FMI, que tinha entrado em Portugal pela primeira vez em 79 e regressara em 83.
O salário mínimo ainda discriminava os trabalhadores agrícolas face aos dos serviços e da indústria © Georges Dussaud/Getty
A luta pela manutenção do poder de compra era quase diária. A inflação de 19,46% – ainda assim muito aquém dos 28,38% de 84 – só não se sentia mais porque os aumentos salariais também eram acima dos dois dígitos, diluindo o impacto do agravamento dos preços.
Nessa altura, o salário mínimo ainda era fixado consoante o sector: 19.600 escudos (95,8 euros) para a indústria e serviços e 16.440 escudos (82,2 euros) na agricultura.
Outra realidade bem diferente da actual, o trabalho infantil, que só foi oficialmente proibido em 1992.
Nesse ano estavam empregadas 54,2 mil crianças com menos de 15 anos e havia 169 mil trabalhadores com mais de 65.
Em 1985 havia 54,2 mil crianças a trabalhar em Portugal. O trabalho infantil só acabou oficialmente em 1992 © Getty
Crise à parte, o cinema era então uma verdadeira festa, com estreias marcadas para as segundas-feiras. No total desse ano foram registadas 237 878 exibições, das quais 18 119 de origem portuguesa.
Noutra área da cultura, a literatura, o número de livros publicados foi de 4 198, contra os 11 395 de 2013, sendo que 921 foram traduzidos.