Reino Unido. Cinco candidatos decidem futuro do Partido Trabalhista em Setembro

Reino Unido. Cinco candidatos decidem futuro do Partido Trabalhista em Setembro


Ed Miliband em Inglaterra e Jim Murphy na Escócia passaram à história.


Os resultados das últimas legislativas no Reino Unido provocaram demissões nos líderes do Partido Trabalhista e dos Liberais-Democratas. As saídas de Ed Miliband e Nick Clegg abriram a corrida à liderança dos dois partidos, que vão estar na oposição durante os próximos cinco anos. 

Os candidatos à liderança do Partido Trabalhista manifestaram as suas intenções até ao final do mês de Maio. O cargo que já pertenceu a Tony Blair, Gordon Brown e Ed Miliband tem cinco pretendentes. Numa altura em que faltam três meses para serem conhecidos os resultados finais, Andy Burnham, Jeremy Corbyn, Yvette Cooper, Mary Creagh e Liz Kendall jogam todos os trunfos. Ainda pode aparecer um novo nome, mas o professor da Universidade de Exeter Richard Toye entende que “não vai aparecer mais ninguém”. Por outro lado, o docente da Universidade de Londres Simon Griffiths explicou ao i que “alguns dos nomes mais falados, como Alan Johnson e David Miliband, não cumprem os requisitos para entrar na eleição”. O professor londrino revela que “um candidato, para ser nomeado, tem de ser apoiado por 35 deputados trabalhistas”. 

Fortes Os nomes com mais hipóteses de vencer a eleição são Andy Burnham e Liz Kendall. Os dois representam ideologias diferentes dentro do Partido Trabalhista. Simon Griffiths explica que “Andy Burnham recolhe votos ao centro e à esquerda, enquanto Liz Kendall tem um discurso mais à direita porque pretende o partido mais perto das empresas”. Na lista dos favoritos também há espaço para Jeremy Corbyn. Richard Toye entende que o deputado “tem um apoio significativo nos militantes de base”. O docente de Exeter não tem dúvidas de que Andy Burnham é o “candidato mais seguro, devido à sua experiência como ministro, além de não ter nada que lhe seja desfavorável”. Neste momento são cinco candidatos, mas apenas Andy Burnham, Liz Kendall e Yvette Cooper têm condições para lutar até ao fim pela nomeação, que será anunciada no dia 12 de Setembro. 

Passado Os últimos três líderes trabalhistas tiveram sortes diferentes, mas todos foram importantes na política britânica. Tony Blair, Gordon Brown e Ed Miliband deixaram tendências dentro do partido. Richard Toye garante que “nenhum dos candidatos tem semelhanças políticas com Ed Miliband”. No entanto, Liz Kendall significa uma “ruptura com a última liderança”. Os dois académicos asseguram que a deputada eleita pelo círculo de Leicester West representa um regresso ao New Labour idealizado por Tony Blair. Por fim, a liderança de Gordon Brown pode ter continuidade caso Yvette Cooper seja eleita líder do Partido Trabalhista. Nos próximos meses, os candidatos vão continuar a percorrer o país para garantirem o voto que lhes permite liderar a oposição ao executivo de David Cameron até 2020. 

Escócia O mau resultado do Partido Trabalhista Escocês no dia 7 de Maio também abriu fissuras, com a demissão do líder Jim Murphy. A pressão dos sindicatos foi determinante para Murphy formalizar a saída no final do mês. A vitória do Partido Nacional Escocês reduziu os trabalhistas à eleição de um único deputado pela região. Neste momento, os únicos candidatos à liderança do partido na Escócia são Ken Macintosh e Kezia Dugdale. O professor da Universidade de Edimburgo Daniel Kenealy entende que “Kezia Dugdale tem mais apoio dos deputados, enquanto Ken Macintosh não é muito popular”.

A única diferença ideológica entre os dois está relacionada com a ligação dos trabalhistas escoceses à liderança que vier a ser eleita em Inglaterra. Alan Convery, da Universidade de Edimburgo, afirma que “Kezia Dugdale não pretende que o Partido Trabalhista Escocês esteja separado politicamente das decisões que vierem a ser tomadas em Londres”.

Na Escócia também se discute se o partido deve optar por políticas mais à esquerda. Os dois académicos garantem que o partido deve esforçar-se por “delinear uma posição mais coerente e que defenda os assuntos tradicionalmente ligados à esquerda”, para fazer face ao crescimento do Partido Nacional Escocês nas últimas eleições para a Câmara dos Comuns, que devem ter reflexo nas legislativas escocesas em 2016. 

Causas A posição adoptada pelos trabalhistas no referendo sobre a independência da Escócia em 2014 foi o principal factor para o resultado negativo verificado no princípio de Maio. Alan Convery diz que “o referendo escocês foi um aspecto importante porque muitos eleitores mudaram o seu voto para os nacionalistas escoceses, embora também tenha havido falta de visão e de uma liderança forte”. Daniel Kenealy acrescenta que “as políticas de Tony Blair não eram muito famosas na Escócia”. 

Nacionalismo A ascensão do nacionalismo escocês preocupa os académicos da Universidade de Edimburgo, que não têm dúvidas sobre o favoritismo do Partido Nacional Escocês nas legislativas do próximo ano. Daniel Kenealy considera que se vive “um momento crítico e, por isso, é difícil prever o que vai acontecer no futuro”. No entanto, tudo aponta para um domínio da política escocesa durante vários anos. Alan Convery explica que “o Partido Nacional Escocês tem uma líder forte e popular”. A próxima batalha dos escoceses passa por fazer pressão junto do executivo britânico para a realização de um novo referendo.