Figo vs. Maradona. No campo, os argumentos seriam outros

Figo vs. Maradona. No campo, os argumentos seriam outros


Uma troca azeda de palavras entre as duas antigas estrelas poderá obrigar a uma escolha difícil para Jorge Mendes. 


Em Janeiro, Luís Figo anunciou a candidatura à presidência da FIFA, com a ambição de mudar a imagem da organização, e ao mesmo tempo retribuir tudo aquilo que o futebol lhe deu. Figo foi um dos cinco paladinos que tentaram derrubar Joseph Blatter da presidência da FIFA, sem sucesso. Rapidamente, dois deles, os franceses David Ginola e Jérôme Champagne, ficaram pelo caminho ao não conseguirem garantir o mínimo de cinco nomeações para avançarem. Sobravam o príncipe Ali bin Al Hussein, Figo e o holandês Michael van Praag. 

A poucos dias das eleições, os aspirantes perceberam que Blatter teria mais hipóteses de ser derrotado com uma oposição unida, num mano a mano. No mesmo dia, a pouco menos de uma semana das eleições, Van Praag e Figo desistiram das respectivas candidaturas, com o holandês a juntar forças ao príncipe da Jordânia, Ali bin Al Hussein. Figo deixava a corrida questionando a ausência de debates públicos, naquilo que considerou “um plebiscito de entrega do poder absoluto a um só homem”. Lavou as mãos e saiu de cena.

Mas um homem, Deus para alguns, não esqueceu a decisão de Luís Figo. No programa argentino “El show del fútbol”, Diego Maradona confessou que respeitava o antigo jogador português, mas que se apercebeu de que Figo teria menos palavra do que Bernardo, o amigo de Zorro, que fingia ser surdo-mudo para obter informações valiosas. Figo não perdeu tempo e, na sua página de Facebook, elogiou o jogador que Maradona foi, lamentando o rumo que a sua vida tomou após deixar os relvados. No final, acabou por citar a célebre frase de Romário, utilizada para descrever os comentários de Pelé, acrescentando-lhe um toque pessoal: “Há alguns que quando estão calados são uns poetas e outros que só estão conscientes quando estão a dormir.”

Diego Maradona confidenciou ainda que, caso o príncipe Ali bin Al Hussein vença as eleições, terá fortes hipóteses de se tornar no vice-presidente da FIFA. Por outro lado, Luís Figo também não descartou uma nova candidatura à FIFA. Este confronto iminente poderá constituir um problema para Jorge Mendes, agente, conselheiro, e amigo de Maradona.

Luís Figo nunca teve Jorge Mendes como seu agente. No entanto, a decisão de se candidatar à presidência da FIFA gerou muitas interrogações, respondidas com o nome de Jorge Mendes, que durante o tempo de José Mourinho no Real Madrid tentou colocar Figo na estrutura do clube espanhol. A candidatura de Luís Figo surgiu menos de um mês depois de a FIFA proibir a participação de fundos de investimento na compra e venda de jogadores, uma das formas utilizadas pelo agente português para transferir alguns dos seus jogadores. Muitos suspeitam que esta foi a melhor forma encontrada por Jorge Mendes para contornar o problema, com um eventual aliado dentro da própria organização.

Nesta perspectiva, Figo poderia ajudar a encontrar um meio-termo com Jorge Mendes, mas Maradona, além de um ídolo, é também um grande amigo, ao ponto de o astro argentino ter oferecido ao agente português a camisola com que foi campeão no Mundial de 1986.