O episódio que marcou a semana passada não foi mais uma diatribe de Tsipras. Também não foram vitórias em Fórmula 1, ténis, golfe ou mesmo a Volvo Ocean Race, que tão belas imagens trouxe a Lisboa e tão boas imagens da nossa cidade levou ao mundo.
O episódio que marcou a semana passada não foi o triplete do Barcelona, conquistado ao derrotar a Juventus na final da Liga dos Campeões, nem a maioria absoluta perdida na Turquia, nem, muito menos, a libertação de José Sócrates, apesar do folclore da pulseira electrónica e do quer- ou-não-quer-ser-libertado a que muitos jornais deram eco. Não há pulseira ou Curdo que consiga ultrapassar uma boa discussão futebolística entre rivais e, assim sendo, a dupla Bruno de Carvalho/Jorge Jesus liderou as audiências e alimentou paixões e ódios naquela que foi a primeira semana de Junho.
De Sampaio da Nóvoa ou de qualquer dos putativos candidatos a candidatos da direita não se ouviu falar, Marinho e Pinto terá decidido passar a semana no Parlamento Europeu, Paulo de Morais deve andar na recolha de assinaturas, o PS fez a sua convenção e o PSD também já iniciou campanha. O Presidente da República decidiu condecorar Mariano Gago – muito bem – e Teixeira dos Santos – não se percebe porquê! Até estes Bruno de Carvalho bateu.
Bruno de Carvalho é esperto. Sabe que a grande massa o segue e tanto mais atenta e fielmente quanto mais sangue houver. E que melhor veia, ou artéria, que oferecer aos adeptos o treinador do arqui-rival de Carnide servido de forma fria e ao natural, isto é, com o coração? “Roubei” o treinador aos lampiões, parece dizer Bruno de Carvalho. E se com eles ele foi campeão, imaginem connosco, que somos o seu clube do coração!! Jesus nada disse. Foi de férias. Uns dizem que terá ido para as Caraíbas, mas outros juram tê-lo ouvido dizer que ia para as Carabinas. Tanto faz. O que importa é que foi e que, quando voltar, troca os lados à Segunda Circular.
Bruno de Carvalho procedeu bem? Legalmente, sim! Moralmente, não! Mas no futebol há moral? Tal como em muitos outros negócios? Bruno de Carvalho sabe que ganhou a Taça de Portugal graças a Marco Silva. Bruno de Carvalho despede Marco Silva porque isso já estava há muito decidido. Não foi por causa de ter trocado o fato ou de não usar gravata. Bruno de Carvalho oferece seis milhões de euros por ano a Jorge Jesus, dizem os jornais. Mas oferece mesmo?
E quem pagou foram os angolanos, dizem os mesmos jornais. Mas terão sido mesmo? É claro que nem uma coisa nem a outra são bem verdade. Bruno de Carvalho ofereceu um salário e prémios a Jorge Jesus. Como sportinguista, quero que JJ ganhe os seis milhões por época. Quer dizer que ganharemos campeonato, Taça, Taça da Liga, Liga dos Campeões, Supertaça, etc… Se pensar com a cabeça em lugar de usar o coração, percebo que sem ovos não se ganham seis milhões. E quantos milhões são precisos para comprar os ovos de que JJ necessita? E se os jornais explicassem quem lhes meteu a galga dos angolanos a financiar a entrada de JJ, galga tão grande que o próprio Bruno se apressou – apertado, claro – a esclarecer no dia seguinte com um rotundo “fundos próprios”?
Jorge Jesus fez o negócio da carreira. Nunca houve Real Madrid ou coisa semelhante interessado nele. Fez bem. É profissional e está onde está o dinheiro. Bruno de Carvalho fez mal. Porque jogou no populismo – em que é quase mestre.
Dirá sempre que contratou o treinador campeão e sportinguista de coração. Despedirá Jesus sem apelo nem agravo com a mesma desfaçatez com que despediu um treinador que deu ao Sporting o único título em sete anos. Os jornalistas enganados calar-se-ão sobre quem os enganou com medo de perderem as fontes. Mas é pena.
Empresário
Escreve à terça-feira