Lisboa, a maior prisão
“Imaginação” Tem 140 anos e é a maior cadeia do país. A prisão de Lisboa tem capacidade para 887 reclusos, mas em Dezembro tinha 1277, mais 30% (390 presos) do que deveria. A sobrelotação nem é o pior: os guardas queixam-se da falta “constante” de produtos de limpeza. Raramente há lixívia e desinfectante e tem faltado o sabão e o papel higiénico. Faltam ainda “camas, estrados, colchões e lençóis”, porque o aumento de presos não é acompanhado por um reforço de materiais e equipamentos. Os guardas dizem que só com “imaginação” tem sido possível, por exemplo, fazer pequenas reparações. Já as queixas estão a aumentar – relacionadas sobretudo com a falta de apoio médico aos reclusos. Há casos em que são os familiares a levar medicação aos presos porque a cadeia, diz o sindicato dos guardas, não assegura esse serviço. À noite, a enfermaria não tem vigilância e algumas torres têm de ser desactivadas por falta de pessoal.
Carregueira, a cadeia VIP
Bolor na prisão dos famosos Há “bolor e infiltrações” nas paredes do balneário dos guardas da cadeia mais famosa do país, construída há 13 anos. À hora das refeições, os polícias têm de se revezar e, para que haja um número “aceitável” na cantina, fica apenas um guarda por piso. Em Dezembro, a Carregueira tinha 698 presos. É das poucas prisões em que ainda há vagas: a lotação prevê um total de 732 presos. Os guardas dizem que as carrinhas celulares não têm sistema de comunicação com o exterior, obrigando a que durante os transportes dos reclusos os guardas tenham de fazer chamadas com os telemóveis pessoais para tratar de assuntos como a rendição. O Estabelecimento Prisional da Carregueira tem 148 guardas prisionais e 12 chefes. Desde que existe, a cadeia registou apenas um único caso de evasão, que durou pouco tempo: o preso que tentou fugir foi apanhado rapidamente, ainda nas imediações da cadeia.
Em Coimbra há torres desactivadas
Falta de guardas O edifício tem mais de 120 anos e a falta de guardas prisionais é um dos maiores problemas. De tal forma que três torres de vigia estão permanentemente desactivadas e, de noite, são encerradas mais, consoante o número de guardas que estiverem de serviço. Há 495 reclusos, mais 74 que a capacidade da cadeia. Durante o dia, segundo os guardas, há pelos menos três postos nas oficinas sem vigilância. Recentemente houve um caso de tuberculose e o preso teve de ser isolado no sector de segurança – onde só há quatro guardas. Devido à falta de efectivo, os guardas são obrigados a fazer dois turnos seguidos de oito horas (maratonas de 16h de trabalho). No total, em Coimbra existem 120 guardas e 14 chefes. Devido ao excesso de presos, a cadeia está actualmente em obras: quatro arrecadações da ala H estão a ser transformadas em duas camaratas para acolher mais reclusos. Chove em quatro das torres de vigilância
Porto, a cadeia mais sobrelotada do país
Celas três em um A lotação do estabelecimento prisional do Porto é de 686 reclusos, mas na quinta-feira passada havia 1226 presos. Com tantos reclusos – o número continua a aumentar apesar da sobrelotação, em Dezembro havia 1207 –, têm sido feitas obras. Para fazer face ao problema, as celas individuais passaram a albergar três reclusos. As fechaduras, denunciam os guardas, estão em muito mau estado e vários funcionários têm tido lesões nos pulsos. Recentemente terminaram as obras de construção de novos palratórios, mas agora não há equipamento para o espaço – que continua vazio. A cadeia tem 197 guardas prisionais, mas 16 estão em situação de baixa permanente. Faltam elementos em muitos dos postos e nas torres de vigilância – o que leva a que objectos proibidos, como telemóveis e drogas sejam atirados, com facilidade, para dentro da cadeia. Falta ainda manutenção no edifício.
Paços de Ferreira sem guardas
A cadeia sempre em obras Existem cerca de 740 reclusos a viver em Paços de Ferreira – cadeia que também não escapa ao problema da sobrelotação (tem capacidade para 548 reclusos). Existem 164 guardas – incluindo chefes. Destes, dois foram “emprestados” à cadeia de Angra do Heroísmo. A cadeia de Paços de Ferreira é conhecida por estar sempre em obras, mas as maiores aconteceram há quase sete anos, com a construção da ala B. Tirando os impedimentos, não existe um único posto, denunciam os guardas, que tenha “o pessoal devido”. Entretanto, têm-se registado episódios de agressões. Este ano, um recluso mandou quatro guardas para o hospital de Penafiel. Ficaram de baixa. Também recentemente, um visitante agrediu um guarda e destruiu a porta que dá acesso à sala de espera das visitas. Os guardas da ala A da prisão queixam-se de que não têm casas de banho.
Em Setúbal tem de se gritar
Um guarda ao almoço Não há microfones para chamar os reclusos. Por isso, a cadeia de Setúbal funciona à base dos gritos e a directora já avisou que não vai mandar comprar um sistema de som como existe nas outras cadeias. As guardas femininas não têm balneários e receberam ordens para virem fardadas e tomarem banho em casa. O local de vigia dos pátios, descrevem os guardas, está cheio de roupa dos reclusos e serve de arquivo morto – há processos empilhados e cheios de pó. De noite, e devido à falta de guardas, só funciona uma torre de vigilância. À hora de almoço, entre as 12h e as 14h fica apenas um guarda na zona prisional – para guardar para mais de 300 detidos. No Estabelecimento Prisional de Setúbal há apenas 58 guardas e oito chefes. O edifício, segundo os dados da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, alberga quase mais 200 presos do que o suposto: a lotação da cadeia prevê 169 lugares, mas há 350 presos.