No final de Maio, a segunda liga portuguesa teve um desfecho para mais tarde recordar. À entrada para a 46ª jornada, cinco equipas ainda sonhavam com a subida à primeira liga. Tondela e União da Madeira seguiam na frente, mas só o primeiro podia dar-se ao luxo de empatar para garantir a subida. Desp. Chaves, Sp. Covilhã e até o Feirense estavam à espreita. Quis o destino que o Desp. Chaves alcançasse a liderança virtual ao minuto 69, acabando por cair para terceiro aos 90’+3, com um golo do Tondela, que acabou por salvar o União da Madeira.
Este domingo, a segunda liga espanhola viveu algo parecido, com o fantasma dos descontos a voltar a fazer das suas. Duas equipas podiam garantir a subida directa, e outras quatro conquistar o acesso aos playoffs. Eram seis lugares, a que já só sete equipas podiam aspirar. Em baixo, a única troca possível não aconteceu, com o Ponferradina a não aproveitar o empate do Saragoça.
Mais acima, a conversa foi outra. O Sporting Gijón, terceiro classificado, foi vencer o Betis, líder isolado, em Sevilha. Nada que afectasse muito o Betis, que subiria sempre em primeiro lugar, qualquer que fosse a combinação de resultados. Com esta vitória do Gijón, o Girona, que entrou para a última jornada no segundo lugar, precisava mesmo de vencer. E cedo começou a cumprir o seu dever, em casa, com um golo mesmo antes do intervalo. Mas o pior chegou aos 90’+1, com o empate do Lugo. Num último esforço, o Girona ainda se voltou a adiantar, aos 94’, com um golo que acabaria por ser bem anulado.
A partir daqui os adeptos perderam a cabeça, invadiram o campo, e até um fotógrafo aproveitou para entrar dentro de campo, retratando a frustração do quase herói do jogo. O auxiliar acabou por ser atingido com uma garrafa e o encontro foi suspenso. Todos pensavam que o jogo tinha acabado, e em Gijón já se fazia a festa. Em Girona, muitos desconfiavam da derrota do Betis e da motivação do Lugo. Até que, meia hora depois, com os jogadores do Lugo prontos para ir embora, com o seu treinador a dar uma conferência de imprensa, e com as bancadas vazias, o árbitro voltou a chamar as duas equipas para se jogarem mais 40 segundos. Nada mudou, mas a frustração fez com que visitantes e equipa de arbitragem só tivessem conseguido sair do estádio muitas horas depois.
É preciso recuar a 30 de Dezembro de 1995, para se encontrar um episódio semelhante em Portugal, entre o Desp. Chaves e o Sporting. Na penúltima jornada da primeira volta do campeonato, o Sporting deslocou-se a Chaves, num jogo de má memória. Míner adiantou os flavienses no marcador aos 60’, mas a quatro minutos do fim, aos 86’, Carlos Xavier empatou o jogo. Depois, aos 88’, uma falha na electricidade obrigou a que o jogo fosse interrompido.
Só 12 dias depois, a 11 de Janeiro, o Sporting pôde voltar a Chaves, para jogar os dois minutos que faltavam, com Marco Aurélio a ser obrigado a entrar em campo lesionado. Os jornalistas fizeram a sua parte e a reportagem foi realizada como se de 90 minutos se tratassem. Nada mudou e, no final, a polémica foi muita. Juvenal Silvestre, o árbitro do encontro, permitiu apenas uns segundos de descontos, mesmo com o pedaço de jogo tendo estado parado mais de metade do tempo. Os adeptos foram mais longe e alimentaram a ideia de um corte de energia propositado, alegando que a cambalhota no encontro estava para acontecer. Mais, muitos fizeram ainda notar que as deslocações do Sporting a Chaves aconteciam sempre em pleno Inverno. Pedro Santana Lopes, na altura presidente dos leões, concluiu que tinha o relógio avariado.