O silêncio é a medida da nossa intimidade. Só permanecemos mudos com quem estamos à vontade. É impensável ir a um evento social e não dizer palavra. É inverosímil convidar amigos lá para casa e ficar enterrado no sofá, entretido com os canais televisivos. Mas é possível estar com um amigo ou alguém íntimo e não dizer nada. A cerimónia obriga-nos à conversa; só o à-vontade nos permite sossegar. O descanso de não falar, não dizer, não fazer. Até de não pensar.
Durante séculos, a humanidade fruiu os longos minutos em que esteve caladinha. Agora isso acabou-se, estamos no tempo do online e do realtime. Continuamente expostos às redes sociais, lendo e partilhando tudo o que se passa no mundo.
O silêncio que sinalizava a partilha entre pessoas deu lugar ao matraquear perpétuo dos dedos nas teclas. Acabou-se a solidão, não porque todos temos agora gente para jantar e dormir lá em casa, mas porque estamos sempre ligados uns aos outros. Basta deslizar o dedo pelo ecrã do telemóvel e já alimentámos o vício e bebemos tudo o que, nos últimos cinco minutos, aconteceu no mundo. Já não vivemos dentro das nossas casas e com as nossas pessoas, mas num mundo em que entramos a toda a hora na vida dos outros, com a mesma força com que os outros entram abrutalhadamente na nossa vida. E fazem falta aqueles minutos em que estávamos ali simplesmente, nós, a olhar uns para os outros e em silêncio. Éramos mais felizes. Ou pelo menos éramos mais pessoas.
Escreve à sexta-feira