Nigéria. Forças Armadas executam e torturam mais de oito mil pessoas

Nigéria. Forças Armadas executam e torturam mais de oito mil pessoas


Relatório da Amnistia Internacional revela crimes de guerra cometidos por altas chefias militares no país


As recentes violações de direitos humanos na Nigéria são tão graves e envolvem oficiais tão bem posicionados nas chefias das Forças Armadas que a Amnistia Internacional viu-se forçada a não tornar nenhum documento da investigação público até terminar o embargo sob os mesmos, esta manhã, quando todos os investigadores da ONG no terreno foram retirados do país.

… e depois, numa imagem de 2015

Em 133 páginas, a Amnistia revela "provas sólidas" recolhidas em várias missões nos últimos anos de "crimes de guerra cometidos por militares na Nigéria", dando destaque aos "casos de oito mil pessoas executadas, forçadas à fome, sufocadas e torturadas até à morte". O documento nomeia várias altas patentes das Forças Armadas nigerianas e nele são exigidas investigações imediatas e imparciais à responsabilidade de cada um nos crimes cometidos, que incluem "crimes de guerra e possíveis crimes contra a humanidade".

Com uma linguagem quase inédita em relatórios desta natureza, a Amnistia cita crimes "horríveis" cometidos pelo exército contra a população e aponta o dedo a altas chefias, incluindo comandantes militares de elevada patente. "Divisas de estrelas nos ombros, sangue nas mãos: os crimes de guerra cometidos pelo exército da Nigéria" avança que, desde Março de 2011, mais de 7000 homens e rapazes foram mortos sob detenção militar e que mais de 1200 pessoas foram executadas ilegalmente desde Fevereiro desse ano.

Desde 2009, em resposta aos ataques do Boko Haram, os militares detiveram – “na maior parte dos casos de forma arbitrária” – 20.000 jovens e rapazes, alguns deles com 9 anos. Muitas destas detenções, sublinha a Amnistia, foram feitas com base “na palavra de apenas um agente secreto não identificado”, muitas aconteceram em operações de rusga em que os militares detiam centenas de pessoas de uma só vez. Depois, quase nenhum destes prisioneiros foi alguma vez levado a tribunal, e quase todos foram mantidos em detenção “sem a necessária protecção contra assassínio, tortura e maus tratos”.

São "provas convincentes" de uma violência brutal, que incluem fotografias e vídeos dos crimes (a Amnistia assistiu e verificou 90 vídeos e teve acesso a mais de 800 documentos oficiais e 700 relatórios diários, notas e correspondência trocada entre os militares), cita o relatório, onde são detalhados "os papéis e possíveis responsabilidades criminais de pessoas na linha de comando" do exército, que é liderado por Muhammadu Buhari desde Abril deste ano.  Das 57 cartas enviadas às autoridades nigerianas, segundo o relatório apenas 13 foram recebidas em resposta.

Nota: O i decidiu não publicar as imagens nem vídeos recolhidos devido à sua natureza violenta.