Depois de semanas de tensão e de ameaças de uma nova manifestação de polícias, o braço-de–ferro entre os sindicatos da PSP e a ministra da Administração Interna conheceu ontem um novo capítulo. A Federação Nacional dos Sindicatos da Polícia (FENPOL) escreveu ao primeiro-ministro a queixar-se de Anabela Rodrigues.
Em causa está a “postura” da ministra nas reuniões com as estruturas sindicais para negociar o novo estatuto profissional da polícia. Na carta enviada a Passos Coelho, a que o i teve acesso, a FENPOL acusa o gabinete de Anabela Rodrigues de ser “profundamente desconhecedor” das matérias em discussão, como horários de trabalho ou a idade de passagem à pré--aposentação. Os polícias criticam a “diminuta capacidade negocial e de celeridade de decisão” da ministra e avisam o primeiro-ministro de que o conflito com Anabela Rodrigues está “a agudizar-se”.
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A FENPOL fala num “retrocesso” em relação ao trabalho do anterior ministro, Miguel Macedo, e diz que o actual projecto de estatuto “não passa de um mero rascunho”. A rematar, os polícias pedem uma reunião a Passos Coelho “com a máxima urgência”. O Sindicato Unificado da Polícia (SUP), que integra a FENPOL, justifica a carta com a “falta de abertura” demonstrada por Anabela Rodrigues nas reuniões de negociação do estatuto. “Uma postura que terá consequências a curto prazo”, avisa o presidente do SUP, Peixoto Rodrigues.
passos toma conta O primeiro-ministro tem acompanhado de perto a crise no Ministério da Administração Interna, de tal forma que, como o i já escreveu, Passos Coelho terá avisado Anabela Rodrigues de que nas negociações com os sindicatos da PSP não deve haver sobressaltos, para evitar uma manif de polícias em véspera de eleições.
Na semana passada, o “Diário de Notícias” avançou que a ministra terá sido mesmo afastada da tomada de decisões políticas sobre o estatuto, passando o processo a ser conduzido directamente por Passos Coelho e Paulo Portas. Uma “desautorização” justificada pelo clima de tensão crescente com os polícias.
ainda a manif Amanhã começa mais uma ronda de negociações com as 11 estruturas sindicais da polícia. A primeira a ser recebida pela ministra é a mais representativa do sector, a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP). O presidente, Paulo Rodrigues, avisa que desta vez são precisas “respostas concretas”.
É que, na última ronda negocial, Anabela Rodrigues não deu respostas definitivas. “Tem havido pouca objectividade e alguma superficialidade na abordagem”, critica Paulo Rodrigues. Haverá também “contradições” nas soluções apresentadas aos polícias. Enquanto à ASPP foi garantido que os agentes só trabalharão 36 horas semanais, a conversa com o Sindicato dos Profissionais da Polícia foi num sentido diferente, com a ministra a defender 36 para os operacionais da PSP e 40 para os administrativos. “Se não houver um resultado claro e objectivo, estaremos mais perto de caminhar para o protesto”, avisa a ASPP.