A propósito do Montepio


A ausência de reparos públicos de fundo por parte das entidades de supervisão leva a pressupor que não há problemas graves


Nos últimos tempos, a instituição Montepio tem sido alvo de notícias menos agradáveis.

Volta e meia aparecem referências a alegadas falhas de procedimentos na parte bancária, a situações eventualmente menos sólidas no contexto mutualista e a osmoses menos claras entre ambas as áreas.

A todas estas investidas, o presidente Tomás Correia, que até agora tem acumulado a gestão da caixa económica (ou seja, o banco) com a da associação mutualista, tem respondido de forma frontal e clara, desfazendo equívocos, justificando opções e assumindo responsabilidades por qualquer coisa menos boa que possa ter sucedido.

É um exemplo de coragem e de transparência que lhe fica a dever a sociedade portuguesa, o sector bancário e o mutualismo, essa forma sublime de entreajuda que em Portugal tem sido pouco utilizada e é objecto de ataques regulares.

O facto é que a marca Montepio regista 175 anos de actividade e concretiza, como nenhuma outra, o associativismo e o mutualismo.

Ao longo da sua história não há memória de em algum momento ter deixado de honrar os seus compromissos perante associados, clientes e sociedade em geral. Também nunca foi objecto de apoios ou intervenções do Estado, como sucedeu a outras instituições.

Mesmo nas sequelas do 25 de Abril, e não obstante apetências de muitos, não houve coragem para lhe tocar.

Afirmou-se, cresceu, desenvolveu-se e é hoje a maior associação portuguesa. Exactamente por isso, criou apetites múltiplos, gerou desconfortos e construiu uma base propiciadora de negócios que interessam a muita gente.

Não obstante, pretende continuar a desenvolver-se, a progredir e a ter um papel positivo na sociedade, uma vez que tem mais de 600 mil associados, muitos dos quais ali se mantêm por tradição familiar. No fundo, o Montepio é a solução que a sociedade civil construiu sozinha enquanto banco geral.

O Montepio está, entretanto, sujeito a uma espécie de dupla tutela: por um lado, a do Banco de Portugal e das Finanças no que diz respeito à parte bancária e, por outro, a do Ministério da Segurança Social no que concerne à associação mutualista.

Ora, nenhuma destas entidades ou os seus responsáveis vieram até hoje a público colocar dúvidas substanciais quanto à gestão da organização. “Pas de nouvelles, bonnes nouvelles”, portanto. Determinou-se, sim, seguindo directivas europeias, que o modelo do grupo fosse alterado, separando claramente o que é banca do que é mutualismo, passando este sector a ser fiscalizado pelo Instituto de Seguros e já não pela Segurança Social. E é nesse caminho de mudança que se tem trabalhado, procurando para o banco uma gestão de topo que garanta qualidade e confiança.

Para tal, Tomás Correia escolheu João Félix Morgado, até aqui líder da Inapa.

Haverá ainda lugar a eleições para a associação mutualista, prevendo-se que sejam concorridas e até controversas, pondo em evidência os interesses a que já se aludiu acima.

Depois de tudo o que já aconteceu no sector bancário português, é importante que todo este processo decorra com serenidade para não desestabilizar a instituição. Até porque a ausência pública de reparos de fundo ao Montepio por parte dos supervisores só pode significar que não há nada de grave a assinalar, que a gestão da instituição é idónea e que as questões negativas detectadas são pontuais, não tendo dimensão crítica.

Se assim não fosse, certamente que as entidades superiores já teriam dado esclarecimentos à opinião pública, não repetindo a figura desgraçada que fizeram em casos anteriores.

Em nota de rodapé, uma referência ao facto de Teixeira dos Santos ter anunciado a sua recusa em conduzir os destinos da área bancária do Montepio – isto precisamente no dia em que a instituição realizava a sua assembleia-geral, antecipando-se, aliás, a uma decisão que não lhe fosse favorável. O ex-governante não explicou as razões.

Eventualmente podem estar ligadas a algum pudor profissional e político, depois de ter sido o ministro das Finanças que aplicou a política suicidária de Sócrates e cujo sobressalto patriótico final não chegou para apagar o seu deplorável desempenho.

Jornalista
Director da Newshold
Escreve à quarta-feira

A propósito do Montepio


A ausência de reparos públicos de fundo por parte das entidades de supervisão leva a pressupor que não há problemas graves


Nos últimos tempos, a instituição Montepio tem sido alvo de notícias menos agradáveis.

Volta e meia aparecem referências a alegadas falhas de procedimentos na parte bancária, a situações eventualmente menos sólidas no contexto mutualista e a osmoses menos claras entre ambas as áreas.

A todas estas investidas, o presidente Tomás Correia, que até agora tem acumulado a gestão da caixa económica (ou seja, o banco) com a da associação mutualista, tem respondido de forma frontal e clara, desfazendo equívocos, justificando opções e assumindo responsabilidades por qualquer coisa menos boa que possa ter sucedido.

É um exemplo de coragem e de transparência que lhe fica a dever a sociedade portuguesa, o sector bancário e o mutualismo, essa forma sublime de entreajuda que em Portugal tem sido pouco utilizada e é objecto de ataques regulares.

O facto é que a marca Montepio regista 175 anos de actividade e concretiza, como nenhuma outra, o associativismo e o mutualismo.

Ao longo da sua história não há memória de em algum momento ter deixado de honrar os seus compromissos perante associados, clientes e sociedade em geral. Também nunca foi objecto de apoios ou intervenções do Estado, como sucedeu a outras instituições.

Mesmo nas sequelas do 25 de Abril, e não obstante apetências de muitos, não houve coragem para lhe tocar.

Afirmou-se, cresceu, desenvolveu-se e é hoje a maior associação portuguesa. Exactamente por isso, criou apetites múltiplos, gerou desconfortos e construiu uma base propiciadora de negócios que interessam a muita gente.

Não obstante, pretende continuar a desenvolver-se, a progredir e a ter um papel positivo na sociedade, uma vez que tem mais de 600 mil associados, muitos dos quais ali se mantêm por tradição familiar. No fundo, o Montepio é a solução que a sociedade civil construiu sozinha enquanto banco geral.

O Montepio está, entretanto, sujeito a uma espécie de dupla tutela: por um lado, a do Banco de Portugal e das Finanças no que diz respeito à parte bancária e, por outro, a do Ministério da Segurança Social no que concerne à associação mutualista.

Ora, nenhuma destas entidades ou os seus responsáveis vieram até hoje a público colocar dúvidas substanciais quanto à gestão da organização. “Pas de nouvelles, bonnes nouvelles”, portanto. Determinou-se, sim, seguindo directivas europeias, que o modelo do grupo fosse alterado, separando claramente o que é banca do que é mutualismo, passando este sector a ser fiscalizado pelo Instituto de Seguros e já não pela Segurança Social. E é nesse caminho de mudança que se tem trabalhado, procurando para o banco uma gestão de topo que garanta qualidade e confiança.

Para tal, Tomás Correia escolheu João Félix Morgado, até aqui líder da Inapa.

Haverá ainda lugar a eleições para a associação mutualista, prevendo-se que sejam concorridas e até controversas, pondo em evidência os interesses a que já se aludiu acima.

Depois de tudo o que já aconteceu no sector bancário português, é importante que todo este processo decorra com serenidade para não desestabilizar a instituição. Até porque a ausência pública de reparos de fundo ao Montepio por parte dos supervisores só pode significar que não há nada de grave a assinalar, que a gestão da instituição é idónea e que as questões negativas detectadas são pontuais, não tendo dimensão crítica.

Se assim não fosse, certamente que as entidades superiores já teriam dado esclarecimentos à opinião pública, não repetindo a figura desgraçada que fizeram em casos anteriores.

Em nota de rodapé, uma referência ao facto de Teixeira dos Santos ter anunciado a sua recusa em conduzir os destinos da área bancária do Montepio – isto precisamente no dia em que a instituição realizava a sua assembleia-geral, antecipando-se, aliás, a uma decisão que não lhe fosse favorável. O ex-governante não explicou as razões.

Eventualmente podem estar ligadas a algum pudor profissional e político, depois de ter sido o ministro das Finanças que aplicou a política suicidária de Sócrates e cujo sobressalto patriótico final não chegou para apagar o seu deplorável desempenho.

Jornalista
Director da Newshold
Escreve à quarta-feira