Convém aos partidos políticos evitar misturar as eleições presidenciais com as legislativas. Mas tal não é possível. Sendo as legislativas em Outubro e as presidenciais em Janeiro, os candidatos presidenciais não podem aguardar. Por isso Sampaio da Nóvoa já está no terreno, com um discurso radical de esquerda que prejudica as hipóteses de o PS atrair o eleitorado do centro, que é onde se ganham as eleições. Mas a verdade é que o PS também pouco tem feito nesse sentido, apostando António Costa igualmente num discurso radical que, aliás, se vê obrigado a constantemente desdizer. Haverá assim no PS um ticket Nóvoa/Costa, com poucas hipóteses de triunfo em qualquer das eleições.
À direita, Passos e Portas têm resistido a permitir o avanço de candidaturas presidenciais, embora se saiba que rejeitam Marcelo Rebelo de Sousa, preferindo Rui Rio. Marcelo resolveu, por isso, aguardar por uma eventual derrota da coligação para avançar, mantendo, no entanto, as suas prédicas dominicais, onde fará campanha permanente. Só que, sendo a derrota da coligação cada vez menos provável, Rio decidiu antecipar-se, avançando imediatamente. É um passo sem regresso que pode desagradar aos líderes da coligação, mas ocupa definitivamente o espaço à direita. O prévio lançamento de Santana Lopes foi um flop e não se espera que o tradicionalmente hesitante Marcelo tenha alguma vocação para repetir o gesto de Manuel Alegre há dez anos. Tudo indica que Rio será, assim, o próximo Presidente. Audaces fortuna juvat.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa. Escreve à terça-feira