Meio século de vacinas… ainda bem!


Não vacinar é um direito… mas todos os direitos pressupõem responsabilidades


O Programa Nacional de Vacinação português (PNV) faz este ano 50 anos. Meio século em que, graças às vacinas, dezenas de milhares de pessoas estão vivas e um número muito maior sem deficiência. Iniciado em 1965, o PNV português é um exemplo de boa prática e o êxito deve-se a todos, a começar pelos próprios pais, que aceitaram as vacinas como algo desejável e importante, e continuando nos médicos e principalmente nos enfermeiros que, desde o tempo do Instituto Maternal, se multiplicaram em campanhas e acções, a maioria em localidades distantes e sem recursos.

O século XXI trouxe, nas vacinas, novas hipóteses de prevenir doenças. Todavia, o facto de muitas delas serem pagas pelos pais e ao mesmo tempo crescerem as “teorias da conspiração”, veiculadas na internet, desprezando a vacinação e associando-a a uma cruzada maléfica de empresas farmacêuticas, ou descrevendo situações em que as crianças seriam cobaias de experimentações científicas, colocou em causa este avanço em termos civilizacionais.

Se muito se fez (e os indicadores são as melhores testemunhas), há ainda um longo caminho a percorrer. Não percamos, pois, oportunidades nem pensemos que o risco desapareceu, mesmo face a doenças praticamente inexistentes, porque o mundo é uma aldeia global. Como dizia o prof. Arnaldo Sampaio, o grande impulsionador do PNV, há 50 anos, só há três hipóteses: “vacinar, vacinar ou vacinar…”.

É crescente o número de pais que olha para as vacinas com alguma desconfiança, mas é bom que ponderem o que poderá acontecer se não vacinarem os filhos. A opção dos pais tem a ver, não com eles, pais, mas com a saúde dos filhos. É por isso que a decisão de não vacinar pode levar a que quem pague por isso seja a criança, e não os pais directamente. É uma coisa que tem de ser dita, embora incómoda. As mortes infantis por negligência são afogadas pela dor dos pais e dos familiares, fazendo-nos esquecer muitas vezes quem realmente perdeu tudo o que tinha, incluindo a vida. Com as vacinas, é assim.

Todos os dias, as crianças são sujeitas a contactos com vírus e bactérias. Digamos que a criança se “vacina” todos os dias, especialmente se estiver num atendimento diurno (ama ou infantário), com muitas bactérias, vírus e outros microrganismos. Com o grau de sofisticação das vacinas actuais, o que se conseguiu graças à tecnologia, mas também ao esforço de investigação e de investimento da indústria farmacêutica (uma vacina comercializada agora começou a ser investigada há pelo menos 30 anos), é cada vez mais possível, às vezes com uma única dose, garantir que a pessoa fica imunizada para a vida inteira.

Pode-se, assim, afirmar que as vacinas são seguras, eficazes (em valores superiores a 95-97%) e que os efeitos secundários são menores e não causam grandes problemas. A ideia de que as vacinas “mexeriam” com a nossa imunidade, podendo abrir uma caixa de Pandora incontrolável, é errada. As vacinas estão desenhadas para doenças que são ou podem ser muito graves: meningites, septicemias, sarampos, encefalites, pneumonias, varicela, paralisia infantil, difteria, tosse convulsa, tuberculose, entre outras.

As vacinas são produtos externos, é verdade. E alteram a imunidade, também é verdade. Só que a alteram num bom sentido, ou seja, no sentido de evitar as doenças para que são dirigidas e que podem, em muitos casos, ser mortais.

Os pais são sempre as pessoas que decidirão, mas também é bom pensar que a sua decisão acarreta responsabilização. Se uma criança não é vacinada porque os pais não o desejam e morre ou fica com sequelas por causa de uma meningite, sarampo, tosse convulsa ou difteria, o assunto será muito complicado de gerir do ponto de vista psicológico, moral e até jurídico. Não somos donos dos nossos filhos, mas gestores do percurso de vida deles. Estejamos à altura dessa tarefa sem embarcar no laxismo, seja por moda, seja por causa de um mail ou de um post no Facebook.

Pediatra
Escreve à terça-feira

Meio século de vacinas… ainda bem!


Não vacinar é um direito… mas todos os direitos pressupõem responsabilidades


O Programa Nacional de Vacinação português (PNV) faz este ano 50 anos. Meio século em que, graças às vacinas, dezenas de milhares de pessoas estão vivas e um número muito maior sem deficiência. Iniciado em 1965, o PNV português é um exemplo de boa prática e o êxito deve-se a todos, a começar pelos próprios pais, que aceitaram as vacinas como algo desejável e importante, e continuando nos médicos e principalmente nos enfermeiros que, desde o tempo do Instituto Maternal, se multiplicaram em campanhas e acções, a maioria em localidades distantes e sem recursos.

O século XXI trouxe, nas vacinas, novas hipóteses de prevenir doenças. Todavia, o facto de muitas delas serem pagas pelos pais e ao mesmo tempo crescerem as “teorias da conspiração”, veiculadas na internet, desprezando a vacinação e associando-a a uma cruzada maléfica de empresas farmacêuticas, ou descrevendo situações em que as crianças seriam cobaias de experimentações científicas, colocou em causa este avanço em termos civilizacionais.

Se muito se fez (e os indicadores são as melhores testemunhas), há ainda um longo caminho a percorrer. Não percamos, pois, oportunidades nem pensemos que o risco desapareceu, mesmo face a doenças praticamente inexistentes, porque o mundo é uma aldeia global. Como dizia o prof. Arnaldo Sampaio, o grande impulsionador do PNV, há 50 anos, só há três hipóteses: “vacinar, vacinar ou vacinar…”.

É crescente o número de pais que olha para as vacinas com alguma desconfiança, mas é bom que ponderem o que poderá acontecer se não vacinarem os filhos. A opção dos pais tem a ver, não com eles, pais, mas com a saúde dos filhos. É por isso que a decisão de não vacinar pode levar a que quem pague por isso seja a criança, e não os pais directamente. É uma coisa que tem de ser dita, embora incómoda. As mortes infantis por negligência são afogadas pela dor dos pais e dos familiares, fazendo-nos esquecer muitas vezes quem realmente perdeu tudo o que tinha, incluindo a vida. Com as vacinas, é assim.

Todos os dias, as crianças são sujeitas a contactos com vírus e bactérias. Digamos que a criança se “vacina” todos os dias, especialmente se estiver num atendimento diurno (ama ou infantário), com muitas bactérias, vírus e outros microrganismos. Com o grau de sofisticação das vacinas actuais, o que se conseguiu graças à tecnologia, mas também ao esforço de investigação e de investimento da indústria farmacêutica (uma vacina comercializada agora começou a ser investigada há pelo menos 30 anos), é cada vez mais possível, às vezes com uma única dose, garantir que a pessoa fica imunizada para a vida inteira.

Pode-se, assim, afirmar que as vacinas são seguras, eficazes (em valores superiores a 95-97%) e que os efeitos secundários são menores e não causam grandes problemas. A ideia de que as vacinas “mexeriam” com a nossa imunidade, podendo abrir uma caixa de Pandora incontrolável, é errada. As vacinas estão desenhadas para doenças que são ou podem ser muito graves: meningites, septicemias, sarampos, encefalites, pneumonias, varicela, paralisia infantil, difteria, tosse convulsa, tuberculose, entre outras.

As vacinas são produtos externos, é verdade. E alteram a imunidade, também é verdade. Só que a alteram num bom sentido, ou seja, no sentido de evitar as doenças para que são dirigidas e que podem, em muitos casos, ser mortais.

Os pais são sempre as pessoas que decidirão, mas também é bom pensar que a sua decisão acarreta responsabilização. Se uma criança não é vacinada porque os pais não o desejam e morre ou fica com sequelas por causa de uma meningite, sarampo, tosse convulsa ou difteria, o assunto será muito complicado de gerir do ponto de vista psicológico, moral e até jurídico. Não somos donos dos nossos filhos, mas gestores do percurso de vida deles. Estejamos à altura dessa tarefa sem embarcar no laxismo, seja por moda, seja por causa de um mail ou de um post no Facebook.

Pediatra
Escreve à terça-feira