Boyan Slat. A história de um rapaz que vai salvar o mar

Boyan Slat. A história de um rapaz que vai salvar o mar


Nos próximos cinco anos, a ambição do  jovem holandês é limpar metade da grande ilha de lixo do Pacífico.


Desligue o telefone. Desligue o computador. Desligue tudo e fique atento a este texto. Ou melhor, ao rapaz deste texto. Boyan Slat está perto de chegar aos 21 anos e tem a presidência da fundação The Ocean Cleanup numa mão e a ideia de limpar todos os oceanos noutra. E, garante, já a partir de 2016. Os mares e rios que costuma frequentar podem não lhe dar uma imagem clara do problema – a menos que já tenha levado com um plástico nos pés –, mas a verdade é que recebem, todos os anos, 10% dos 288 milhões de toneladas de plástico produzidas mundialmente.

Mas Boyan tem um plano para mudar isto, que mostrou ao mundo em 2013 numa das conferências TedTalk, na sua terra natal, Delft, na Holanda.

 Franzino, com cabelo longo e olhos azuis, o antigo estudante de engenharia aeroespacial fez uma apresentação chamada “How the oceans can clean themselves” para mostrar ao mundo como, de uma forma auto-sustentável e incrivelmente lucrativa, é possível salvar milhares de espécies marinhas, as águas e a nossa própria vida. Boyan, confesso adepto de mergulho, contou ao i como surgiu o projecto: quando estava a mergulhar na Grécia, percebeu que havia “mais sacos de plástico do que peixe”.

Foi assim que teve a a ideia luminosa que levaria, mais tarde, à criação da fundação e a reunir, com uma campanha de crowdfunding, cerca de 2,2 milhões de dólares.

Mas a bonança só apareceu depois de a conferência se tornar viral. “Foi inacreditável. De repente, centenas de pessoas visitavam o site da nossa plataforma e eu recebia 1500 emails por dia com pedidos de voluntariado de todo o mundo”, contou numa entrevista à BBC no ano passado.

A famosa palestra terminou com uma mensagem simples: “Se criámos este problema, não me digam que não o conseguimos solucionar juntos”. As palmas encheram a sala e Boyan seguiu para a sua missão impossível – como a chamaram muitos críticos. 

Apesar do sucesso, a jornada de Boyan não foi sempre feita de auditórios, contas recheadas de patrocínios e milhares de comentários de apoio nas redes sociais. Aos 13 anos, interessou-se por foguetões e bateu o recorde do Guiness para o lançamento do maior número de foguetes aquáticos: 213.

“A experiência ensinou-me como fazer com que as pessoas fiquem malucas o suficiente para fazer aquilo que querem e como chegar aos patrocinadores”, conta. Anos mais tarde, já na escola secundária, a ideia de limpar os oceanos começou a desenhar-se e usou-a num projecto científico que conduzia o plástico através de barreiras flutuantes até uma plataforma onde seria extraído de forma eficiente.

A corrente marítima ajudaria libertar os animais e o material recolhido seria reciclado para fabricar novos produtos. Ganhou o prémio para Melhor Design Técnico na Universidade de Tecnologia de Delft. 

A faísca de alguém que se tornaria num “empreendedor verde” estava a dar os primeiros passos. E só depois de criar a fundação The Ocean Cleanup, de pesquisar e estudar com diferentes professores de Delft, Utrecht ou Havai, é que os primeiros problemas surgiram. De dinheiro, claro. Na altura, o orçamento que tinha rondava os 200 euros de poupanças, e Boyan passou largos meses a tentar encontrar um patrocínio forte.

“Ninguém estava interessado, num dia contactei 300 empresas e só uma me respondeu a dizer que não aceitava”, confessou à BBC. Mas dias de amargura acabaram por ser superados e a ideia de mudar o mundo de um miúdo holandês começou a navegar de encontro à realidade.

Boyan anunciou, em Maio deste ano na FórumDigital de Seoul, na Coreia do Sul, que o seu projecto avançará finalmente em 2016. E começará na costa de Tsushima, uma ilha localizada nas águas entre o Japão e a Coreia do Sul. O objectivo principal, nos próximos cinco anos, será limpar metade da grande ilha doPacífico, entre o Havai e a Califórnia.

O método, contou ao i por email, passará pela utilização de um “sistema passivo e assente numa estrutura flutuante” que permitirá, nos próximos 10 anos, a recolha de plásticos. Sem danificar as espécies, só com a ajuda das correntes marítimas e gastando menos dinheiro.

“Porque em vez das redes e dos barcos, construímos um sistema que usa apenas a corrente marítima para recolher o plástico”, explica Boyan. Futuramente, o lixo será reciclado e vendido. 
Já pode ligar todos os seus aparelhos outra vez. E como é que um miúdo conseguiu chegar até aqui? Ele explica: “Quando tenho uma ideia, agarro-me a ela”. Simples.