© Ricardo Graça/Lusa
Um senhor de certa idade, bem-posto e não muito bem-disposto, falava com outro num café da Av. de Roma:
– Como simpatizante do CDS, sinto-me ludibriado. Então não é que o Pedro Passos Coelho frequentou a juventude comunista na sua adolescência?
Um outro senhor, igualmente bem-posto e da mesma certa idade, olhava o companheiro de mesa, com alguma ironia no olhar:
– Coisas de rapazes. Ele já tinha explicado isso num outro livro ou numa biografia qualquer. Foi levado por um amigo…
– Nada! A mim não me engana ele. Foi-lhe feita uma lavagem ao cérebro. Caro (e vinha o nome do outro senhor, que obviamente omito) …, não vê que tudo isto foi programado à distância e com rigor? O PCP, por si mesmo, nunca seria capaz de acabar com a classe média, com a chamada burguesia, afinal, com a maioria dos portugueses. Eles sempre proclamaram o fim da burguesia e a ditadura do proletariado. Não o conseguiam com as suas cassetes já gastas, mas arranjaram alguém que calculavam que um dia podia ter os destinos do país nas mãos. Foram atrás desse Pedro ainda adolescente, colocaram-lhe os cabelos brancos do Cunhal à frente, a ser tratado por tu, e ele foi na conversa. Está na cara…
– Mas foi em que conversa?
– Na dos comunistas, pois então. Primeiro alimentaram as ilusões do jovem, depois foram-no promovendo sabiamente dentro do aparelho do PSD, afastando os rivais. Finalmente, quando já era secretário-geral do partido, aliaram-se a ele para correrem com o Sócrates e a pandilha deste, e quando ele chegou ao poder, accionaram o botão: agora tens de acabar com a classe média e ele, mais papista que a troika, não hesitou. Impostos e mais impostos, cortes e mais cortes, até nos proletarizar todos. Você não vê a tramóia? Pois a mim ninguém me tira isso da cabeça.
Continuaram a falar, um continuou a sorrir, o outro cada vez mais circunspecto. Começaram a olhar de lado para toda a gente que os rodeava.
A teoria da conspiração andava por ali, e acho que pelo menos um deles tinha algum receio dos vizinhos. Afinal, já se sentia um proletário acossado pela burguesia resistente. Ou algo parecido. Ou o contrário. Terei mesmo ouvido bem esta conversa?
Do que eu tenho a certeza é que a senhora ministra das Finanças prometeu mais cortes nas pensões e reformas e etc… E os jornais anunciam que Jesus, o Jorge, vai treinar o Sporting. Mas a senhora ministra das Finanças já retirou o que disse. Eu retiro também o que disse. Mas que foi que eu disse?
Escreve à sexta-feira