Nebraska é primeiro estado conservador a abolir a pena de morte em 40 anos

Nebraska é primeiro estado conservador a abolir a pena de morte em 40 anos


Votação no senado estatal impõe-se ao veto do governador republicano, activo defensor da pena capital.


Os resultados da votação de ontem para abolir a pena de morte no Nebraska foram relativamente estrondosos, ou não fosse o caso de o estado ser um dos mais conservadores dos Estados Unidos, tornando-se agora o primeiro de maioria vermelha republicana a tomar esta decisão em mais de quatro décadas. Com 30 votos a favor e 19 contra no capitólio do estado, a legislatura escolheu um caminho que diz ser o mais digno em termos humanos mas certamente o mais difícil, abrindo uma guerra com o actual governador, Pete Ricketts – um republicano que faz campanhas e apoia com toda a força e fundos a manutenção da pena capital para pessoas julgadas em tribunais do Nebraska, e que tinha vetado a hipótese de abolição.

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Depois de mais de duas horas de discursos emocionados por vários legisladores, incluindo republicanos, uma maioria qualificada do senado estatal decidiu cancelar o veto do governador e votar pela abolição da pena de morte. Ao som do bater do martelo que anunciou a decisão, dezenas de activistas que assistiam nas bancadas rebentaram em aplausos.
A legislatura e o gabinete de Ricketts estavam há mais de um mês num braço-de-ferro, com o governador a ser apoiado por vários responsáveis dos braços judiciais e policiais do estado, mas o cenário de contenda já leva cinco meses. Desde o início deste ano, os legisladores do senado já tinham votado três vezes pela abolição da pena de morte antes de mandarem a lei a Ricketts a fim de ser promulgada. Numa das vezes, dois senadores que até então tinham integrado a barricada contra a pena capital mudaram-se para o lado do governador no último minuto, impedindo maiorias. Desta vez, suficientes senadores estatais votaram a favor de anular o veto de Ricketts.

Ao longo de anos, activistas contra a pena de morte conseguiram, com paciência, agregar um sem-número de apoiantes na sociedade civil e nos corredores do capitólio, convencendo até membros do mesmo partido do governador de que executar prisioneiros é ineficiente, sai caro ao estado e não se coaduna com os valores do partido. Alguns legisladores citaram razões morais e religiosas para apoiar a proposta de abolição.

Desta forma, o Nebraska torna-se agora o 18.o estado (mais Washington D.C.) a abolir a pena capital de entre os 50 que compõem os Estados Unidos da América. E segundo o “New York Times”, apesar de não ser para já claro se outros estados, democratas ou republicanos, vão seguir o exemplo, esta vitória surge numa altura em que liberais e conservadores estão a encontrar cada vez mais terreno comum no que toca a questões de justiça e criminalidade, na capital como em outras partes do país.

Já em campanha para as presidenciais de 2016, às quais Barack Obama não se pode recandidatar, democratas e republicanos têm manifestado o seu apoio público a que mais estados decidam abolir a pena de morte. Da lista consta Hillary Clinton, bem posicionada para vencer as primárias do partido democrata, e os senadores republicanos Ted Cruz e Rand Paul, que já confirmaram que vão concorrer ao voto do partido para se baterem contra o candidato democrata em Novembro do próximo ano.

Ricketts, por sua vez, reagiu à votação do senado estatal dizendo que não aceita os resultados. “Não há palavras para expressar o quão chocado estou por termos perdido um instrumento essencial de manutenção da lei e de protecção das famílias do Nebraska”, disse em comunicado. “Enquanto a legislatura se afasta dos cidadãos, eu vou continuar ao lado dos habitantes do Nebraska e das autoridades de segurança nesta importante questão.”