Santa Maria e o “estudo” da maçonaria


Ainda no ano passado Paulo Macedo dizia que 6% dos gastos em saúde resultam de erros e corrupção, logo será difícil imaginar que o maior hospital do país seja um oásis.


O trabalho sobre valores institucionais da Fundação Francisco Manuel dos Santos é  apresentado esta quinta-feira e a administração do Hospital de Santa Maria já admitiu processar os autores que concluíram, entre outras coisas, que a unidade está minada por uma teia de interesses e lealdades a partidos políticos, à maçonaria e organizações católicas.

Não é nada que nunca tenha sido dito sobre o maior hospital do país, com mais de 6000 trabalhadores.

No que diz respeito à corrupção (mais pequena ou maior), o facto de ela existir ou poder existir no Santa Maria não é propriamente uma denúncia nova: ainda no ano passado Paulo Macedo dizia que 6% dos gastos em saúde resultam de erros e corrupção, logo será difícil imaginar que o maior hospital do país seja um oásis.

Dito isto, as conclusões apresentadas num estudo com o carimbo da Fundação Francisco Manuel dos Santos surgiram esta semana como uma bomba, como uma espécie de prova derradeira para o que sempre foi dito à boca pequena.

O problema é que, não parecendo, continuamos no campo do ‘diz que disse’.

O estudo não investigou casos de corrupção (alguns até denunciados e públicos no passado recente) nem fez um escrutínio sobre as teias de relação dentro do Santa Maria de forma a perceber se a nomeação x ou y foram influenciadas pela maçonaria, pelo Opus Dei, pelo PS ou por outra qualquer teia de interesses.

O estudo resulta de entrevistas e inquéritos em que os participantes não são identificados e oferece como verdades as observações anónimas tratadas pelos investigadores e que resultam de um inquérito online a 231 funcionários dos 6000 funcionários, 14 entrevistas com gestores de topo e intermédios, dez entrevistas com outros funcionários, quatro entrevistas com informadores externos e uma entrevista com um utilizador estratégico.

Para sustentar a afirmação de que os processos de nomeação não são claros e estão atravessados por outras dinâmicas da Maçonaria e Opus Dei há apenas uma declaração citada no estudo. Esta:

“A Maçonaria e a Opus Dei no Hospital sempre foram forças claramente estruturantes, sim, ou desestruturantes, conforme as alturas, e isso é muito difícil, por isso é que alguns Directores de Serviço, por muito que a administração tente, nunca teve coragem de os desalojar” (Entrevista #2).”

Sobre as ligações ao PS, há também uma única afirmação citada:

“Na percepção de um entrevistado, o HSM seria um “ninho do PS (Partido Socialista)” (Entrevista #10)”

Uma última nota. Numa das citações, o entrevistado diz “entre 2003 e 2005, há um período de gestão do hospital que não corre muito bem, que fique aqui só entre nós…”

Geralmente, o pedido que fique só entre nós é o que nós jornalistas chamamos off. Ontem, para usar a mesma metodologia, um “gestor de topo” comentava comigo o trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos: “que fique só entre nós, mas não sei que ciência é esta”. Parece um mau trabalho jornalístico. Resta saber como é que a IGAS, por exemplo, pegará nos rumores, como prontamente anunciou fazê-lo. As pistas sempre existiram.