A gafe da verdade


Enquanto se entender como gafe o falar a verdade, não há maneira de o eleitorado deixar de se sentir defraudado depois de votar.


© Ricardo Graça/Lusa

Maria Luís Albuquerque defendeu a necessidade de reduzir as pensões para garantir a sustentabilidade da Segurança Social. Foi criticada pela maioria da classe política e da imprensa, que não teve dificuldades em concluir que se tratava de uma gafe da ministra das Finanças, ainda por cima em período pré-eleitoral.

Para colmatar os danos, o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares, chegou mesmo a avançar que um corte de pensões só poderia ser feito com um amplo consenso político.

Em linguagem política, qualquer menção a consenso é já de si uma forma de dizer que a decisão não é para agora ou será mesmo nunca.

Ora, eu prefiro alguém que cometa a gafe de falar verdade, ou seja, de dizer que a Segurança Social, tal como está, não é sustentável e que tem de se encontrar uma solução para o problema, ao discurso profissionalmente limpo de quem sabe o que não deve deixar transparecer, principalmente antes das eleições.

A descredibilização dos partidos de que tanto se fala não resulta das gafes que um ou outro político profere. Só não se engana quem não faz.

A descredibilização advém do discurso redondo que ignora factos, esconde soluções à espera de milagres que não acontecem e, mais tarde, depois das eleições, obriga a que se tomem medidas impopulares. Enquanto se entender como gafe o falar a verdade, não há maneira de o eleitorado deixar de se sentir defraudado depois de votar.

Advogado.

Escreve à quinta-feira

A gafe da verdade


Enquanto se entender como gafe o falar a verdade, não há maneira de o eleitorado deixar de se sentir defraudado depois de votar.


© Ricardo Graça/Lusa

Maria Luís Albuquerque defendeu a necessidade de reduzir as pensões para garantir a sustentabilidade da Segurança Social. Foi criticada pela maioria da classe política e da imprensa, que não teve dificuldades em concluir que se tratava de uma gafe da ministra das Finanças, ainda por cima em período pré-eleitoral.

Para colmatar os danos, o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares, chegou mesmo a avançar que um corte de pensões só poderia ser feito com um amplo consenso político.

Em linguagem política, qualquer menção a consenso é já de si uma forma de dizer que a decisão não é para agora ou será mesmo nunca.

Ora, eu prefiro alguém que cometa a gafe de falar verdade, ou seja, de dizer que a Segurança Social, tal como está, não é sustentável e que tem de se encontrar uma solução para o problema, ao discurso profissionalmente limpo de quem sabe o que não deve deixar transparecer, principalmente antes das eleições.

A descredibilização dos partidos de que tanto se fala não resulta das gafes que um ou outro político profere. Só não se engana quem não faz.

A descredibilização advém do discurso redondo que ignora factos, esconde soluções à espera de milagres que não acontecem e, mais tarde, depois das eleições, obriga a que se tomem medidas impopulares. Enquanto se entender como gafe o falar a verdade, não há maneira de o eleitorado deixar de se sentir defraudado depois de votar.

Advogado.

Escreve à quinta-feira