Sevilha. É como o carteiro, toca sempre duas vezes

Sevilha. É como o carteiro, toca sempre duas vezes


Equipa andaluz defendeu título com vitória pela segunda vez. Bacca foi a figura do encontro num jogo em que o Dnipro marcou primeiro.


Primeiro a Taça UEFA, depois a Liga Europa. Para o Sevilha, os títulos andam aí e vêm aos pares. Em 2006 e 2007, pela mão de Juande Ramos, a equipa espanhola derrotou Middlesbrough e Espanyol. Agora, com Unai Emery no papel de timoneiro, o Dnipro seguiu o mesmo caminho do Benfica mas caiu logo no final dos 90 minutos, num jogo em que até marcou primeiro e conseguiu empatar depois de sofrer a reviravolta.

O Sevilha era visto pelo mundo do futebol como a equipa favorita. Era o campeão em título, vinha da Liga Espanhola e com jogadores mais conceituados do que o desconhecido Dnipro. A equipa ucraniana, orientada por Myron Markevych, chegou à final de Varsóvia com mérito, deixando Nápoles, Club Brugge, Ajax e Olympiacos pelo caminho mas não conseguiu fugir ao estatuto de coitadinha. É certo que o estilo da equipa de Konoplyanka não é o mais espectacular mas a defesa foi sólida durante toda a campanha a eliminar, com apenas cinco golos sofridos em 750 minutos.

O sentido da final não provocou surpresas. O Sevilha ia ter mais bola mas teria dificuldade em encontrar uma forma eficaz de se aproximar da baliza do Dnipro. Com uma organização defensiva muito sólida, com Kankava a jogar nas costas de uma linha de quatro médios de forma a evitar que os andaluzes pudessem explorar os espaços intermédios, a equipa ucraniana forçou o futebol directo. Já tinha sido assim com o Nápoles na meia-final, voltava a ser com o Sevilha.

Os espanhóis não se incomodaram. Mas, depois de duas tentativas de lançamentos longos para Bacca explorar as costas da defesa, não estariam à espera de serem surpreendidos precisamente dessa forma. Logo na primeira fase de construção, o Dnipro procurou a cabeça do avançado Kalinic, que desviou para a desmarcação de Matheus na direita e correu para a área para inaugurar o marcador de cabeça aos sete minutos. Depois de uma meia-final em que fez apenas figura de corpo presente, o avançado croata justificava a aposta.

A vantagem tinha um peso histórico a favorecer o Dnipro, uma vez que desde a final de Alvalade em 2005 tinha sido a última em que uma equipa tinha perdido a final da competição depois de marcar primeiro – com o Sporting a permitir a cambalhota do CSKA. Por outro lado, para levar a análise ao pormenor, o Sevilha até entrou a perder em Turim-2014, com Lima a marcar o primeiro penálti do desempate para o Benfica. Era preciso uma reviravolta e foi atrás dela que os sevilhanos foram. Reyes deu um primeiro aviso aos 20 minutos e Krychowiak sucedeu-lhe aos 24’, com um cabeceamento que forçou Boyko à primeira grande defesa da noite. Mas logo a seguir, aos 28’, o duelo teve um desfecho diferente. O Sevilha voltou a apostar em cantos estudados – numa filosofia que já tinha criado perigo aos 13 minutos – e saiu recompensado: Bacca solicitou Krychowiak e o polaco, a jogar em “casa”, bateu Boyko.

O empate durou três minutos e foi desfeito num lance que toda a gente esperava acontecer mais tarde ou mais cedo: passe – de Reyes – a rasgar nas costas da defesa ucraniana e Bacca a isolar-se. O colombiano contornou Boyko e deixou o Sevilha em vantagem. A lógica natural parecia indicar que esse seria o caminho esperado do encontro mas a do futebol insistiu em surpreender. E em cima do intervalo as redes voltaram a balançar. Na marcação de um livre directo, Rotan cobrou de forma soberba por cima da barreira e não permitiu mais a Rico que não uma fotografia espectacular.

Com quatro golos ao intervalo, mais um do que nas finais dos dois anos anteriores, o jogo prometia e começava a entrar na história, uma vez que desde 2001 que as equipas não iam para o descanso com tantos golos, quando o Liverpool derrotava o Alavés por 3-1 a caminho de um 5-4 no final do prolongamento.

O intervalo fez mal aos jogadores. A adrenalina dos primeiros 45 minutos perdeu-se e as duas equipas reapareceram mais cautelosas, arriscando menos e jogando apenas na certa. Mas se o Dnipro deixou literalmente de criar perigo, o Sevilha continuou a aparecer nas imediações da área de Boyko. As oportunidades não surgiam mas o ascendente tornava inevitável um golo que só apareceu depois de metade da defesa ucraniana ter errado a aliviar a bola. Vítolo recuperou e fez a assistência para Bacca bisar (73’).

Novamente a perder, não houve reacção possível do_Dnipro._Markevych ainda apostou na solução que tanto sucesso tinha dado contra o Nápoles (Seleznyov) mas o Sevilha controlou e até esteve mais perto de voltar a marcar. Mas, mais uma vez, Boyko mostrou que muito do mérito da campanha do Dnipro se deveu ao guarda-redes. O último forcing da equipa ucraniana caiu por terra quando o brasileiro Matheus desmaiou em campo e ficou a jogar só com dez.

O triunfo do Sevilha na Liga Europa lança assim a escada para o pleno espanhol. A 6 de Junho, o Barcelona disputa a final da Liga dos Campeões.