A seguir às eleições, há novos episódios da guerra dos tronos

A seguir às eleições, há novos episódios da guerra dos tronos


Em Outubro, a vida vai correr bem a alguns líderes partidários e mal a outros. 


A questão dos senhoras e senhoras que se seguem vai estar na ordem do dia. Menos no PCP, onde a substituição de lideranças não se rege por resultados eleitorais. E, no entanto, mais dia menos dia, por razões pessoais, Jerónimo de Sousa deixará de ser secretário-geral do PCP. O i tentou identificar à volta de quem se fará, em cada partido, a guerra dos tronos. Mas, como está no Livro de Mateus, muitos serão os chamados e poucos os escolhidos.

A star das Finanças e o Rio indeciso

Quem julgava que Maria Luís Albuquerque – a ex-secretária de Estado do Tesouro que veio substituir o monstro Gaspar nas Finanças – era uma tecnocrata, enganou–se. Maria Luís Albuquerque é, dos pés à cabeça, uma política – e talvez por isso foi muito rapidamente que o seu nome começou a circular como possível candidata à liderança do PSD. Apesar de a própria já ter vindo dizer que, mesmo perdendo as eleições, Passos Coelho deve manter-se na liderança, há mais de um ano que Marques Mendes, o ex-líder agora comentador político, tinha dito que a ministra das Finanças “ganhou estatuto e condição política” para concorrer à liderança do PSD. Mendes foi entusiasta: Maria Luís já tem um lugar “na história” pelo seu papel no governo e na relação com a troika e “ganhou estatuto para novos e mais importantes voos políticos” – Maria Luís Albuquerque “é um nome incontornável como potencial candidata à liderança do PSD”, disse Mendes.

Mas Maria Luís nunca estará sozinha. Dentro da oposição interna a Passos Coelho o nome mais claro e evidente sempre foi o de Rui Rio. Acontece que agora Rui Rio anda a hesitar entre candidatar-se a Presidente da República e concorrer à liderança do PSD no caso de derrota eleitoral e saída de Passos Coelho.

Dependendo do que fará Rui Rio, a ala antipassista tem outro potencial candidato: Nuno Morais Sarmento, que, em entrevista ao Observador, admitiu que seria possível candidatar-se à liderança do PSD quando se levantasse a questão da sucessão de Passos Coelho. Tanto para os passistas como para Morais Sarmento, será útil que Rio se candidate a Belém. O caminho fica muito, mas mesmo muito mais fácil para a conquista do partido.

Uma mulher e vários homens

Paulo Portas já saiu da liderança do partido e voltou dois anos depois e já se demitiu do governo e voltou umas semanas depois, mesmo tendo assumido que a sua decisão era “irrevogável”. Mas, se perder as legislativas, dificilmente terá margem para continuar a liderar o partido que construiu à sua imagem.

“O CDS tem várias mulheres e vários homens que são políticos de primeira categoria e que terão certamente um grande papel no futuro”, disse, há uns dias, quando foi confrontado com a possibilidade de o CDS mudar de liderança. A mulher é Assunção Cristas, actual ministra da Agricultura, que tem ganho um protagonismo invulgar dentro do partido para que só entrou em 2007. Os homens são Nuno Melo, eurodeputado, Pedro Mota Soares, ministro da Segurança Social e um dos homens de confiança de Paulo Portas e Pires de Lima, ministro da Economia. A questão da sucessão de Portas foi colocada na agenda política há uma semana com uma entrevista de Assunção Cristas ao jornal digital “Observador”.

A ministra admitiu que estará ao serviço do CDS para aquilo que for necessário e “se for necessário para isso” também estará. “Isso” é a liderança do partido. Não é surpresa que Cristas poderá entrar na corrida se o CDS não for para o governo e o lugar ficar em aberto, mas, nesta altura, os centristas não querem falar do assunto, já que seria admitir uma derrota da coligação nas eleições de Setembro ou Outubro. Nuno Melo é outro dos nomes incontornáveis. Nunca pertenceu a nenhum governo e assumiu, nos últimos anos, uma posição mais recatada no plano nacional, mas também não recusa esse cenário. Quando lhe perguntam se quer ser líder do CDS, Melo prefere fintar a pergunta: “Eu só espero que a liderança do CDS não se discuta por muitos e bons anos. Se o partido chegou onde chegou e tem tido este índice de sucesso em diferentes patamares eleitorais, deve-o em primeiro lugar ao presidente do meu partido, o dr. Paulo Portas, que tem funcionado como máximo denominador comum”.

Pires de Lima já provou, quando foi chamado por Portas para a pasta da Economia, que não lhe custa trocar as empresas pela política e há quem aposte que gostava de um dia vir a liderar o CDS. Na última entrevista que deu ao “Expresso”, Pires de Lima admitiu que se o CDS sair derrotado a continuidade de Portas está ameaçada. “O futuro de um líder depende sempre das eleições”. Pires de Lima já tinha dito que o CDS terá de “aprender a viver” sem Portas e dentro do CDS é visto como um dos homens capazes para dar um novo ânimo ao partido, após a difícil passagem pelo governo. Mota Soares também terá ambições de um dia liderar o partido. É desde o início um fiel de Portas e seria uma solução de continuidade.

E se Costa perdesse as eleições?

Há sondagens que dão o PS à frente e sondagens que dão empate técnico entre a coligação no governo e os socialistas. A perspectiva de derrota do PS não está completamente fora dos cenários estudados mesmo dentro do partido. Depois do confronto quase sangrento com António José Seguro, uma derrota eleitoral obrigaria Costa a uma demissão imediata – afinal, tinha sido por considerar Seguro incapaz de derrotar Passos (ou de obter uma maioria confortável) que Sócrates avançou. A acontecer isto, haveria três nomes que poderiam anunciar as res-pectivas candidaturas: Francisco Assis, que já foi candidato e tem mantido distância em relação a Costa; Pedro Nuno Santos, da ala esquerda; e o segurismo iria a votos através de Álvaro Beleza. Ou do próprio Seguro, sabe-se lá.

Um dia Jerónimo vai sair

Não vai faltar muito tempo para a saída de Jerónimo de Sousa. Mas o abandono do cargo de secretário-geral do PCP é revestido de uma solenidade que não existe em qualquer outro partido. O secretário-geral não sai quando o partido tem maus resultados – como passou a acontecer em todos os outros partidos. O processo é longo, reveste-se de um cerimonial muito particular e é raramente do conhecimento público até muito perto da sua concretização. Foi assim com a sucessão de Álvaro Cunhal, um processo demoradíssimo no tempo, que coincidiu com saídas em massa do PCP, com sucessivas levas de “críticos”. Carlos Carvalhas foi o escolhido – um economista moderado que primeiro fez a rodagem enquanto candidato presidencial – mas não se conseguiu impor o suficiente para durar muito no cargo.

A prévia rodagem de uma candidatura presidencial repetiu-se com Jerónimo de Sousa. Foi um eficaz candidato em 1996 que acabou a desistir a favor de Jorge Sampaio. Em Novembro de 2004 é escolhido para secretário-geral do partido (voltará novamente à corrida a Belém em 2006, obtendo 9% dos votos). Francisco Lopes, um homem-forte do PCP, foi escolhido para candidato presidencial em 2011. Evidentemente, foi o sinal que todos esperavam para ver em Lopes o sucessor de Jerónimo de Sousa. Mas Francisco Lopes fica abaixo do resultado de Jerónimo, acima dos 7%. Vai ser preciso saber quem o PCP vai apresentar à corrida presidencial para ter uma pista relativamente ao próximo secretário-geral. Mas quem o PCP anda a testar em várias eleições é o jovem João Ferreira. Se a opção for por um corte geracional, é uma hipótese.

Tendências reeditam confrontos

A convulsão interna por que o Bloco de Esquerda passou há apenas meio ano acabou numa solução aparentemente conciliadora entre as tendências do partido: Catarina Martins é a porta-voz de um partido com uma comissão permanente de cinco elementos. Se as eleições correrem muito mal ao BE, Catarina Martins pode sair e abrir a porta a um novo confronto entre duas sensibilidades internas: PedroFilipe Soares (afecto a Luís Fazenda e que defrontou a porta-voz em Novembro) e Mariana Mortágua (um legado de Francisco Louçã, a deputada superstar que com a comissão de inquérito ao BES ganhou um destaque maior que o próprio partido).