Não há que ver. Os portugueses têm facetas negativas que persistem sempre. É o caso do efeito de imitação e de seguidismo “do que está a dar”.
Sempre que um negócio dá mais qualquer coisinha multiplicam-se cópias até à náusea e à falência colectiva.
Nos anos 70 foi o reinado dos Tupperwares e das suas demonstrações. Nas décadas de 80 e 90 foram as “croissanteries”, depois as “crèperies”, enquanto florescia o poligrupo para a compra de carro. Seguiu-se a venda directa e a crédito de quase tudo, nomeadamente aspiradores a 400 contos, jóias e outros adornos.
No quadro do comércio oportunista tivemos a compra usurária de ouro aos velhinhos depenados pelo confisco das reformas e, por exemplo, as empresas visto gold que agora soçobram após mais um escândalo de corrupção.
No fim da primeira década do actual milénio surgiram outros negócios logo replicados. Avultaram a pizzaria clássica, seguindo-se a pizzaria gourmet, a hamburgueria gourmet, a sanduicharia gourmet, o sushi japonês e até alentejano, a picanha brasileira e as carnes da Argentina. Muito recentemente rebentou a moda do gin tónico, com dezenas de marcas, cheio de plantas, sabores e misturado com águas que não se suspeitava existirem. Noutro género temos a cerveja artesanal e esplanadas chiques por todo lado, nomeadamente no topo dos prédios. Para alegrar ainda mais, surgiram dezenas de wine shops e até uma ou outra “champagnerie”, onde não faltam petiscos refinados. Enfim, há de tudo como nas farmácias, que, aliás, estão a atravessar uma crise inaudita, o que leva a maioria a virar lojas de estética e dietas.
A última moda é o assalto aos turistas, nomeadamente os de Lisboa, porque os do Algarve já quase só aparecem em bando e com tudo incluído.
O crescimento exponencial do turismo individual, familiar e de congressos e a vinda dos cruzeiros foram a mola da gulodice. Até a Câmara de Lisboa lançou um imposto ridículo e incobrável, que apanha quem vem e quem não vem para a capital. A ANA fingiu que ia pagar, mas procura retorno. Muito a propósito surgiu a ideia de os taxistas cobrarem 20 euros nos percursos de menos de 14 quilómetros. A classe (o termo é do mais adequado ao género e à qualidade dos carros) acha normal e já agora também gramava que a malta pagasse 10 euros para meia dúzia de quilómetros no dia de Natal ou de ano novo e se acabasse com a Uber, um aluguer rápido e confortável.
Ora é exactamente assim que as coisas se destroem. O ataque ao turista e a exploração até à exaustação do Portugal na moda têm um reverso. Esse reverso são as redes sociais e os media internacionais. Os que apregoam o charme, a simpatia e o genuíno podem passar num segundo a alertar para os abusos de toda a espécie.
Multiplicam-se hotéis, hostels, casas de aluguer a estrangeiros, hospedarias finas, tuk tuks orientais e outras tantas coisas que descaracterizam as cidades e lhes tiram encanto e genuinidade.
Este tipo de ganância tem sistematicamente abalado Portugal. Aconteceu nos Descobrimentos com as especiarias, aconteceu com a riqueza do Brasil, com o volfrâmio e as colónias de África. Voltou a ser parcialmente assim com a adesão à União Europeia e o abuso de alguns fundos.
Oxalá haja o bom senso de não destruir agora o turismo urbano. É importante ter consciência de que Lisboa pode não estar para sempre nos roteiros, ao contrário do que sucede a algumas cidades incontornáveis, como Veneza, por exemplo.
Escreve à quarta-feira