Os balanços são pródigos para relembrar o que correu mal e pensar no que poderia ter sido se apenas um resultado tivesse tido outro desfecho. Quando o campeão é definido por uma pequena distância, os adeptos tendem a centrar–se mais num jogo ou numa decisão que fez a diferença. Em 2006/07, por exemplo, o Sporting relembrou a forma como o golo com a mão de Ronny na recepção ao Paços de Ferreira, logo na terceira jornada, alterou as contas de uma época em que FCPorto foi campeão com um ponto de vantagem sobre leões e dois sobre as águias. Esta época há um único jogo capaz de fazer essa diferença: se a equipa de Lopetegui vencesse a de Jesus no Dragão, a distância de três pontos mantinha-se, mas com os intérpretes trocados. Não alterou e não vale a pena estar a perder tempo com isso. Mas o i foi à procura de dez jogos que ajudaram este campeonato a acabar da forma que acabou.
FCPorto-Boavista Este jogo da quinta jornada foi atrasado por alguns minutos por causa da chuva. O Benfica havia vencido o Moreirense por 3-1 e o FC Porto necessitava de vencer para não perder a liderança. Mas não conseguiu. Maicon foi expulso aos 24 minutos e os dragões terminaram com 82% de posse de bola, mas nenhum dos 20 remates feitos à baliza acabou no fundo das redes de Mika. Foi uma oportunidade perdida e que permitiu aos encarnados garantirem uma liderança isolada que nunca mais perderam.
V. Guimarães-Sporting Os leões de Marco Silva pareciam estar a engrenar, com duas vitórias consecutivas pela primeira vez na época, mas saíram humilhados de Guimarães. A derrota (3-0) não só os fez cair para o sexto lugar, a seis pontos do Benfica, como pode ser vista como o primeiro episódio claro de uma relação conturbada entre Bruno de Carvalho e Marco Silva. As afirmações do presidente no Facebook, acusando a equipa de não ter sido digna, deixou marcas e os jogadores acusaram o toque, como pôde ser percebido nas declarações do jogo seguinte, para a Liga dos Campeões contra o Schalke 04.
FCPorto-Benfica É o jogo dos jogos. Se os dragões vencessem, igualavam o Benfica na frente do campeonato. A equipa de Lopetegui dominou com 58% de posse de bola e 17-6 em remates mas, no final, não conseguiu marcar um único golo. Ao contrário dos dois de Lima, na altura muito criticado pelos adeptos, mas que contribuiu de forma valiosa para o resultado mais importante. A eficácia de uns e a ineficácia de outros contribuíram de forma indesmentível para a diferença entre campeão e vice-campeão. A vantagem das águias aumentou para seis pontos e a partir daí, já eliminado na Liga dos Campeões e Taça de Portugal, Jorge Jesus apostou numa política de maior gestão.
Benfica-GilVicente Não há um campeonato sem erros de arbitragem ou lances polémicos. Há questões de intensidade, de posições duvidosas e penáltis que não o foram ou poderiam ter sido. Mas também há momentos em que não restam quaisquer dúvidas.Nesse capítulo, a vitória do Benfica sobre o Gil Vicente a 21 de Dezembro é um dos casos mais rapidamente recordados. Quando Ola John isola Maxi Pereira, o uruguaio estava claramente adiantado e dá início ao golo de Gaitán, que decidiu o jogo (1-0) aos 30 minutos. Por esta altura, o Benfica estava longe do nível exibicional da segunda metade da época, enquanto os gilistas estavam na última posição, sem uma única vitória.
P. Ferreira-Benfica Passamos o ano civil e vamos para 26 de Janeiro. As águias jogavam a uma segunda-feira, um dia depois de o FCPorto ter saído derrotado da Madeira (1-0 com o Marítimo). O Benfica tinha tudo para aumentar a vantagem no primeiro lugar para nove pontos, mas falhou uma grande penalidade na primeira parte e viu Sérgio Oliveira decidir o encontro nos últimos minutos, também de grande penalidade. Com esses resultados, o FCPorto mantinha os seis pontos de desvantagem e o Sporting aparecia logo a seguir, a sete. E havia dérbi em Alvalade a caminho.
Sporting-Benfica Os três grandes venceram na jornada seguinte ao deslize do Benfica na Mata Real e os olhares concentravam-se todos no dérbi de Alvalade, marcado para 8 de Fevereiro. O FC Porto de Julen Lopetegui havia feito a sua parte na véspera e derrotara o Moreirense em Moreira de Cónegos por 2-0, com golos de Jackson e Casemiro. De Alvalade sairia sempre alguma vantagem. Ou os portistas reduziam a desvantagem para o líder Benfica ou ficavam mais confortáveis no segundo posto.
O jogo foi fraco. Sem golos até aos 87 minutos, pensou-se que não ia sair do nulo. Até que Jefferson bateu Artur e ajudou a construir um cenário em que os três da frente ficavam separados apenas por quatro pontos e com 14 jornadas para disputar. Ouviram-se olés nas bancadas, mas o último a rir foi o Benfica, com o empate de Jardel numa jogada de insistência, no terceiro minuto dos descontos. O resultado teve repercussões óbvias: o Benfica ficou com quatro pontos de vantagem sobre o FC Porto e o Sporting acusou o toque – empatando novamente na jornada seguinte, no Restelo. O empate foi também um espelho fiel das duas principais fraquezas dos leões durante a época: os teimosos empates em Alvalade (cinco, sempre a um golo) e as vantagens desperdiçadas: Académica e Paços de Ferreira fora e FC Porto e Benfica em casa.
FC Porto-Sporting O clássico do Dragão disputou-se no primeiro dia de Março com as duas equipas separadas por cinco pontos. O Sporting já estava a nove do líder Benfica e o título deixara de ser uma ambição legítima, mas o segundo posto e consequente apuramento directo para a Liga dos Campeões mantinha–se em mente. O hat-trick de Tello perante um Sporting apático e sem capacidade de resposta – muito diferente daquele que tinha vencido no Dragão para a Taça de Portugal em Outubro – ajudou a definir uma muralha praticamente inultrapassável, arrastando o Sporting para outra luta, numa fase em que o Sp. Braga só estava a um ponto. A batalha pelo título ia ser a dois, se sequer chegasse a isso.
Nacional-FC Porto Três jornadas depois, Julen Lopetegui teve uma oportunidade de sonho. O Benfica perdera minutos antes emVila doConde – depois de estar a vencer por 1-0 – e os dragões podiam ficar a apenas um ponto se saíssem da Choupana com o triunfo. Tello voltou a estar em destaque com um golo em cima do intervalo, mas os azuis e brancos foram incapazes de segurar a vantagem, permitindo o empate a Wagner aos 61 minutos. Depois, houve ainda espaço para Lucas João desperdiçar uma oportunidade flagrante. Pelo lado positivo, os dragões passavam a depender apenas de si próprios;por outro lado, a incapacidade de encurtar a distância para um ponto foi preocupante e reforçou uma tendência de falhar nos momentos decisivos da temporada que viria a ser ainda mais fatal no futuro.
Benfica-FC Porto As duas equipas tornaram-se infalíveis. Jogavam para ganhar e ganhavam, com maior ou “menos maior” facilidade. As dificuldades não existiam e o país do futebol começou a olhar para o clássico da Luz no calendário, disputado a quatro jornadas do fim da época. O peso de ganhar estava do lado dos dragões e o Benfica soube jogar com isso. O “jogo do título” transformou-se no “jogo da monotonia” e houve muito pouco espectáculo e oportunidades de perigo, com Jackson e Fejsa a desperdiçarem, em lances tirados a papel químico, as melhores ocasiões. O nulo deixou tudo igual, com a ressalva de o Benfica assegurar a vantagem no confronto directo. Pior foi a rábula do bate-boca entre Jesus e Lopetegui no final do encontro. Mais do mesmo – e não ficaria por aí.
Belenenses-FCPorto Penúltima jornada do campeonato, com o Benfica a poder festejar se vencesse em Guimarães. Os encarnados desperdiçaram muitas oportunidades e não conseguiram marcar, mas foram empurrados para os festejos com mais uma ajuda do FC Porto. Como muitas vezes no passado, os dragões vacilaram e permitiram o empate ao Belenenses depois de terem estado em vantagem. Foi jogo, set e match para o Benfica. E bicampeonato. Para o ano há mais.