Madrid pode esquivar-se à condessa e passar para uma verdadeira socialista

Madrid pode esquivar-se à condessa e passar para uma verdadeira socialista


Lista que integra o Podemos pôs fim a um quarto de século de maioria PP na capital espanhola.


Esperanza Aguirre, figura de proa do Partido Popular (PP) e candidata conservadora ao município de Madrid, não iludiu a óbvia leitura dos resultados eleitorais da noite de domingo em Espanha, reconhecendo que o castigo à formação no poder é um sinal da revolta face à crise económica e à austeridade “que durou tanto tempo e que deixou muita gente no desemprego”, adiantando que “os escândalos de corrupção também explicam estes resultados”. A condessa de 63 anos, ex-ministra e ex-presidente do Senado, suspeita em casos de corrupção entretanto prescritos, tinha anunciado o abandono da política, mas voltou atrás e decidiu-se a uma derradeira batalha. 

O seu rosto sorria confiante por toda a capital, com uma campanha milionária, discursos num tom desafiante que provocaram calafrios junto da própria direcção dos populares, pois uma vitória expressiva poderia convencê-la a ir mais longe e tentar tomar a liderança do PP a Mariano Rajoy. Era tal a empáfia, que se recusou a apresentar um programa eleitoral: “Todos me conhecem e sabem ao que venho”. Com 35,5% dos votos ficou à frente, mas longe da maioria absoluta. São precisos 29 vereadores para governar com maioria. O cenário mais provável é que ao fim de 24 anos de maioria absoluta na cidade, o PP seja afastado por um pacto entre a candidatura cidadã que integra o Podemos – elegeu 20 vereadores – e o PSOE, com nove.

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Encabeçando a campanha Agora Madrid, que obteve 31,8% dos votos, a juíza emérita do Supremo Tribunal Manuela Carmena é uma das vencedoras da noite eleitoral. A sua candidatura recorreu a microcréditos e doações, reunindo 200 mil euros – uma ninharia face aos 20 milhões que o PP investiu nas municipais e autonómicas de Madrid – e travou a luta bairro por bairro, do centro às periferias, cara a cara com os madrilenos para ouvir as queixas e explicar as suas propostas para resolver problemas.

Num sinal de confiança no processo democrático, a campanha de Carmena abriu a todos o processo de elaboração do seu programa eleitoral, tendo-se comprometido a “implementar nos primeiros 100 dias de governo municipal” as 5 medidas mais votadas, a saber: 1. “Dispor de todos os meios e recursos municipais para suspender as execuções hipotecárias e os despejos de residências”; 2. “Parar a privatização dos serviços públicos, a externalização dos serviços municipais a grandes empresas e a venda de património público”; 3. “Garantir os serviços básicos (luz e água) a todas as famílias que não possam pagá-los”; 4. “Garantir o acesso a serviços de saúde municipais e promoção da saúde de todas as pessoas, independentemente da sua situação administrativa”; 5. “Desenvolver um plano de emergência de longa duração para o emprego dos jovens e desempregados”.