Quem atacou os xiitas sauditas: o Daesh, o Iémen  ou o próprio país?

Quem atacou os xiitas sauditas: o Daesh, o Iémen ou o próprio país?


Governo promete “procurar responsáveis” pelo atentado que terá feito 20 mortos e 30 feridos em Qatif. 


Até ao fecho desta edição não era certo quantas pessoas morreram e quantas ficaram feridas no ataque de um bombista suicida a uma mesquita xiita de uma aldeia da província de Qatif, no Leste da Arábia Saudita, à hora em que mais de 150 muçulmanos participavam nas orações de sexta-feira. Segundo testemunhas à Reuters e à AFP, pelo menos 20 pessoas morreram e mais de 30 ficaram feridas, tendo as equipas de emergência comunicado que o balanço pode ser superior. 

A única reacção oficial por parte do reino foi transmitida pela agência estatal SPA, que em comunicado garantiu que “as autoridades de segurança não se vão poupar a esforços na perseguição de todos os que estiveram envolvidos neste ataque terrorista” – que, até ao final de sexta-feira, ainda não tinha sido reivindicado por qualquer grupo.

O ataque foi o primeiro contra a minoria xiita da Arábia Saudita desde Novembro, quando homens armados mataram oito pessoas num evento religioso também no Leste do país. E ao longo de sexta foram vários os media internacionais a levantar a questão de ter ou não sido este o primeiro atentado do autoproclamado Estado Islâmico, Daesh na sigla árabe, em solo saudita.

Se foi ou não, será difícil provar, sobretudo considerando as suspeitas generalizadas de que a própria Arábia Saudita pode ser uma das grandes financiadoras do grupo jihadista sunita que continua a ganhar terreno no Iraque e na Síria e que já estendeu os seus tentáculos no Iémen, no Afeganistão e noutros países.

Certo é que, lembrava a Al-Jazeera logo após o ataque, a comunidade xiita saudita – que corresponde a 10% a 15% da população total de um país de maioria sunita e que vive concentrada em dois oásis de províncias do Leste – denuncia há vários anos discriminações sistemáticas no acesso à educação e ao emprego, queixando-se também de restrições à criação de espaços de culto e eventos religiosos. O governo saudita tem desmentido sempre as alegações.

Outro possível responsável pelo ataque em Qatif são os hutis do Iémen, que no final de Março ameaçaram levar a cabo atentados em território saudita se as forças do país não suspendessem de imediato os ataques aéreos às suas posições no Iémen. Mas essa hipótese parece cair por terra tendo em conta que os hutis pertencem ao mesmo ramo do islão que os alvos do ataque.

Também na sexta, vários “hackers iemenitas” terão acedido a mais de 3 mil computadores e servidores do regime saudita, roubando informações confidenciais sobre as identidades de agentes dos serviços secretos, de diplomatas e de membros do Exército que estão a participar na ofensiva saudita no Iémen.

“Acedemos às redes do Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita e detemos total controlo de mais de 3 mil computadores e servidores e de milhares de utilizadores”, disseram os hackers do Cibergrupo Armado Iemenita à agência iraniana Fars. “Também temos acesso aos emails e a informações pessoais e secretas de centenas de milhares de funcionários e diplomatas [sauditas] em diferentes missões em todo o mundo. Vamos publicar porções destas informações vitais. Não culpem ninguém a não ser vós próprios e fiquem à espera de piores coisas”, acrescentaram os hackers. A informação ainda não foi confirmada oficialmente pelo governo saudita.