O problema não é Maggie Gyllenhaal. És tu, Hollywood

O problema não é Maggie Gyllenhaal. És tu, Hollywood


Fazer de amante de um homem de 55? Se é actriz e tem 37 anos, esqueça.


Patricia Arquette tentou frisar a questão em Fevereiro, quando subiu ao palco para receber o Óscar de Melhor Actriz Secundária, pelo seu desempenho em “Boyhood”. Prevalecem desigualdades no tratamento de homens e mulheres em Hollywood, nem que seja nos salários auferidos, garantiu então a laureada, na esperança de ser ouvida. Acontece que o dinheiro não é tudo, e neste caso, pode ser mesmo o menor dos problemas. 

A senhora da foto associada a este texto é actriz e chama-se Maggie Gyllenhaal. Admitimos que possa não arrancar suspiros a todos (gostos, já se sabe, não se discutem), mas dificilmente imaginamos alguém a tecer o comentário: “Coitadinha, está tão acabada.” A julgar pelo que a irmã de Jack partilhou esta quinta-feira, é pelo menos difícil começar o que quer que seja quando se atinge esta idade e se vive dos filmes. Se for do sexo feminino, claro.

“Tenho 37 anos e disseram-me recentemente que era demasiado velha para interpretar o papel de amante de um homem de 55. Fiquei boquiaberta. Fez–me sentir mal, depois fiquei aborrecida, e por fim desatei a rir”, confessou à The Wrap, que dá voz à indústria do entretenimento. Apontada a um Óscar em 2009 (“Coração Rebelde”) e premiada este ano com um Globo de Ouro pela prestação na minissérie “The Honourable Woman”, o episódio com Gyllenhaal reabriu um problema latente na fábrica de sonhos californiana. “Há coisas verdadeiramente decepcionantes quando se é actriz em Hollywood, e que me surpreendem a toda a hora”, adiantou, sem revelar pormenores do projecto em causa e muito menos a identidade do cinquentão em causa.

As declarações tornaram-se virais na internet, e acabaram até por ser um dos tópicos de discussão mais apelativos no Twitter. Maggie junta-se a um coro de críticas que vai crescendo. Meryl Streep e Jennifer Lopez contam-se entre os rostos que mais aplaudiram a intervenção de Arquette nos Óscares, edição por si alvo de reparo pela ausência de um nome feminino na lista dos candidatos ao prémio de Melhor Realizador. Cate Blanchett, Charlize Theron e Kristen Stewart, também já se manifestaram sobre o sexismo no sector. E na semana passada, para incendiar ainda mais o debate, a ACLU, organização norte-americana de direitos cívicos, chamou a atenção para as “disparidades espectaculares” entre o número de homens e mulheres ao leme da direcção de filmes ou séries televisivas, deixando um repto aos poderes públicos: investiguem “este fracasso sistemático”.