O dois a zero


A República só ganhará com isso, e bem necessita ela de oxigénio


O país paralisou no passado domingo. O Benfica, os acontecimentos da tarde e da madrugada despertaram o grande tribunal da nação, e todo o resto pouco ou nada contou. Não foi a primeira vez, mas foi bem mais forte do que o habitual.

Acontecessem porventura muitas e domingueiras patifarias a outros níveis e ninguém daria por nada, tal é o poder do futebol, da comunicação que temos, e tal é a condição crítica da nação. Dizem que na Rotunda chegaram a estar 200 mil pessoas, o que só surpreenderá uns poucos privilegiados, cuja invejável condição é a de conseguirem viver desligados da lusitana realidade. E devido aos incidentes, como se domingo não bastasse, o grande tribunal popular manteve-se em funcionamento toda a semana. Ficámos a saber tudo sobre o desequilibrado subcomissário de Guimarães, pouco sobre os betinhos salteadores de arrecadações e nada sobre o pessoal alcoolizado e violento da quinta da bolacha ou das avenidas novas.

A verdade é que com tudo isto, perdoem-me o contaminado linguajar futebolístico, passou quase despercebido o segundo golo sem resposta do PS ao governo, ao apresentar a pública leitura e discussão o seu projecto de programa eleitoral. Aparentemente, o facto será coisa de pouca monta, inconsequente até, considerando o persistente desvio das atenções e melancolia da nação alheada. Mas não: sendo claro que estes 2 a 0 não ganham eleições, significam que, pela primeira vez e há largos anos, o escrutínio público e o debate político poderão tornar-se bem mais exigentes e sérios, o que é muito positivo. A República só ganhará com isso, e bem necessita ela de oxigénio.

Historiador. Escreve ao sábado

O dois a zero


A República só ganhará com isso, e bem necessita ela de oxigénio


O país paralisou no passado domingo. O Benfica, os acontecimentos da tarde e da madrugada despertaram o grande tribunal da nação, e todo o resto pouco ou nada contou. Não foi a primeira vez, mas foi bem mais forte do que o habitual.

Acontecessem porventura muitas e domingueiras patifarias a outros níveis e ninguém daria por nada, tal é o poder do futebol, da comunicação que temos, e tal é a condição crítica da nação. Dizem que na Rotunda chegaram a estar 200 mil pessoas, o que só surpreenderá uns poucos privilegiados, cuja invejável condição é a de conseguirem viver desligados da lusitana realidade. E devido aos incidentes, como se domingo não bastasse, o grande tribunal popular manteve-se em funcionamento toda a semana. Ficámos a saber tudo sobre o desequilibrado subcomissário de Guimarães, pouco sobre os betinhos salteadores de arrecadações e nada sobre o pessoal alcoolizado e violento da quinta da bolacha ou das avenidas novas.

A verdade é que com tudo isto, perdoem-me o contaminado linguajar futebolístico, passou quase despercebido o segundo golo sem resposta do PS ao governo, ao apresentar a pública leitura e discussão o seu projecto de programa eleitoral. Aparentemente, o facto será coisa de pouca monta, inconsequente até, considerando o persistente desvio das atenções e melancolia da nação alheada. Mas não: sendo claro que estes 2 a 0 não ganham eleições, significam que, pela primeira vez e há largos anos, o escrutínio público e o debate político poderão tornar-se bem mais exigentes e sérios, o que é muito positivo. A República só ganhará com isso, e bem necessita ela de oxigénio.

Historiador. Escreve ao sábado