Freddie Gray, negro, tinha 25 anos, vivia nos subúrbios da cidade de Baltimore e morreu a 19 de Abril devido a lesões na coluna vertebral, sete dias depois de ter sido detido pela polícia. Entre o dia em que o seu corpo foi a enterrar e o dia 1 de Maio, milhares de pessoas saíram às ruas de Baltimore e puseram a cidade em estado de sítio, exigindo uma investigação formal ao caso que, disseram eles nos protestos e muitos mais negros e brancos nos media, é só mais uma prova da violência policial desmesurada contra minorias nos Estados Unidos.
{relacionados}
No início deste mês, e já depois de a autarca da cidade e de o governador do estado de Maryland terem imposto um recolher obrigatório e a lei marcial nas ruas para acabar com os “motins”, a procuradora-geral do estado, Marilyn Mosby, disse haver suspeitas fortes de que Gray foi assassinado pela polícia, apontando o dedo a seis agentes em particular. E na sexta-feira, três semanas depois dessa acusação, um conjunto de jurados e o juiz federal responsável pelo caso confirmaram haver “causa provável para interpôr acusações criminais” contra esses seis agentes envolvidos na detenção violenta do jovem.
Antes de o novo processo criminal ter sido confirmado, com a primeira audiência já marcada para 2 de Julho, o Departamento de Justiça norte-americano tinha aberto, a 21 de Abril, um inquérito federal de direitos civis ao departamento da polícia de Baltimore, na sequência de um pedido da autarca Stephanie Rawlings-Blake.
Essa investigação continua em marcha, com o objectivo de avaliar se existe ou não um padrão de abusos policiais e quais são os factores que contribuem para o uso excessivo de força pela polícia e para políticas discriminatórias em relação a minorias como a negra, que continuam a não ter as mesmas oportunidades de acesso à educação e ao mercado laboral.
Reagindo às acusações formais contra os agentes, o advogado de todos eles garantiu que “não cometeram nenhum dos crime” de que são acusados, que vão desde homicídio involuntário com má intenção a agressão intencional. “Os agentes agiram de forma razoável em todos os momentos e de acordo com o seu treino”, disse Michael Davey, acusando a procuradora de uma “notória corrida para julgamento”.
“À medida que os factos em torno deste caso forem sendo tornados públicos”, garantiu o advogado, “a ausência de crimes pelos agentes será tornado clara de forma abrangente”. Mosby respondeu que, caso novas provas surjam, as acusações formais contra o conjunto de agentes da polícia podem ser alteradas.
Este é o primeiro caso de violência policial que degenera na morte de suspeitos desde que Michael Brown, outro adolescente negro, de 18 anos, que vivia em Ferguson, no Missouri, e que foi morto pela polícia num perseguição apesar de não transportar qualquer arma nem ter antecedentes criminais. Esse incidente, em Agosto de 2014, gerou protestos em massa na cidade e por todos os EUA contra as atitudes racistas da polícia norte-americana. Ninguém foi acusado nesse caso, um que fez renascer o debate sobre a violência policial e as barreiras que os negros enfrentam no país.